domingo, 31 de julho de 2016

E A GELADEIRA ERA LÁ EM CIMA...


Recebi uma mensagem outro dia em que o autor assegurava que nós somos os últimos exemplares de pais da face da terra cujos filhos respeitam os pais. Parei para pensar porque eu tenho visto cada coisa de uns tempos para cá...

Digo isso porque sou de um tempo em que eu, por exemplo, e convivi com muitos contemporâneos que passaram pelo mesmo, que íamos ao armazém quantas vezes fossem necessárias. Ah, e havia também as quitandas, as “vendas”, açougues, padarias e bote variedades de estabelecimentos únicos para cada tipo de mercadoria que se precisasse durante o dia. Supermercados em Salvador existia, mas, era uma grande novidade. Só existia um no Forte de São Pedro (Visconde de São Lourenço), e outro no Edifício Oceania, na Barra. Nossa família fazia compras semanais neste primeiro citado e o dia de compras era uma verdadeira festa familiar. Naquela época o costume era mais peculiar às donas de casa que, na companhia das empregadas faziam daquela tarefa um grande evento. Minha tarefa principal era “guardar a fila”. Esse ofício consistia em entrar na fila assim que chegávamos ao supermercado e de lá, não sair de forma alguma, até que minha tia terminasse de escolher todos os suprimentos e viesse ter comigo. Até hoje essa outra forma de fila baiana funciona. Porque são várias...

 Que criança hoje em dia “aceita” dos pais esta tarefa? Engoli muitos livros de Olga Pereira Mettig naquela empreitada.  E só disso tenho saudades. Estudei todo o ano de meu pré-vestibular naquelas enormes filas. Lembro-me dos livros de história, tanto medieval quanto moderna e contemporânea, de José Jobson de A. Arruda, completamente devorados, no ano do vestibular.

Mas hoje, em muitos lares, a história é outra. Existem filhos que aceitam até tais tarefas de bom grado... para os amigos. Pois é! A obediência deu lugar a prepotência e,  nestes tempos de valores invertidos, já vi filho pilheriando que não fez determinada coisa só porque foram os pais que pediram. Disseram: senão eles vão  achar que mandam em mim.

E é então que eu relembro: imagine que lá, onde eu morava, a casa era formada por um antigo solar com uma escadaria de dezoito degraus que dava acesso ao pavimento superior cuja cozinha ficava na parte inferior. Agora, pense a loucura toda vez que iam cozinhar. Café da manhã, almoço e janta tendo que ir pegar item por item cada vez que se precisava de algo. Já não bastava ter que ir na “venda” toda hora.


E quem era doido de reclamar? E ainda tinha essa coisa de geladeira toda hora. Ainda brincavam com meu gólgota dizendo que eu estava imitando a terra fazendo os movimentos de rotação e translação. Em torno do bairro e, em torno de mim mesma. E sabem por que eu reclamava? Isso mesmo. Pasmem! A cozinha, como já disse, era em baixo, mas a geladeira ficava na sala. E a sala era lá em cima. Não ria não que isso é pior que um problema matemático. Deixe-me repetir, a cozinha era em baixo, mas a geladeira ficava na sala, e a sala era lá em cima... e a geladeira, claro,  era lá em cima! Graças a Deus que virei essa página, há muitos anos. Deus é bom.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A ETERNA “VIGILÂNCIA”

É incrível como uma atitude que nasceu na mente de uma pessoa como um estalo repentino de ação solidária possa ser erroneamente interpretada e causar desconforto tão grande. Sei que vocês não sabem do que estou falando, por isso passo ao relato. Em uma defesa de doutorado fui a penúltima pessoa a chegar e sentei no último lugar disponível. Pouco depois chegou uma colega que teria que ficar em pé em um evento que deveria se estender por quase uma hora. Como me considerei em mais condições de sentar-me em local que exigisse mais flexibilidade, cedi meu lugar na cadeira e fui e sentei-me no chão ao lado da plateia. Fi-lo, como diria Jânio Quadros, porque qui-lo. Deixe-me brincar um pouco com a gramática para diluir um pouco meu estresse. Qual não foi meu embaraço mais tarde quando algumas pessoas presentes vieram ao meu encontro para questionar o ato. Confesso que fiquei muito, mas muito magoada com o que ouvi.

Agora eu não poderia deixar de utilizar esse espaço para dirimir essas dúvidas que me foram apresentadas. Questionaram-me principalmente pelo fato de que a colega à qual eu cedi o lugar era “branca” e que, com aquela atitude, eu teria remontado há um tempo em que os negros cediam lugar aos brancos na ausência de lugares para eles. Gente, apesar de termos comportamentos racistas aqui no Brasil, aquele disparate que ouvi era alusivo a algo que era “lei” nos EEUU. Inclusive foi por descumprir essa lei em 1º de dezembro de 1955 que Rosa Parks, em Montgomery, capital do estado do Alabama, ajudou a deflagrar um movimento contra a segregação racial liderado pelo militante Martin Luther King Jr.

Sofro tanto quanto outros negros a discriminação por causa da cor da minha pele. Tenho falado sobre isso de forma recorrente. Todavia, não consigo e, nem pretendo passar o resto dos meus dias, em uma eterna vigilância ao ponto de evitar qualquer tipo de ação solidária para não ser tachada de condescendência para com os de pele mais clara. Sim, porque a pessoa a quem eu cedi o lugar nem se enquadrava ao que chamam de “branco”. O problema é que essa riqueza de produção de melanócitos que Salvador proporciona gera tantos adjetivos étnicos...


Oxalá, pudéssemos viver atentos, claro, contra a discriminação, mas positivamente! Sem nos concentrarmos em uma pseudo vigilância como, por exemplo, no ano de 2012 quando fui interpelada raivosamente por um participante de uma mesa redonda em um evento alusivo ao Dia da Consciência Negra por causa de um alisamento que eu realizara. Por Deus, vamos virar essa página!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A VASILHA DO LEITE

Lavar pratos era a minha segunda tarefa na casa onde vivi a segunda fase de minha infância. Desde cedo, em pé em cima de um caixote, como era costume na época, eu comecei a desempenhar essa ocupação doméstica que muitos odeiam, mas que eu, sinceramente, não abomino. Todavia, naqueles tempos, já que obviamente não existiam micro-ondas, fervia-se o leite várias vezes, ou para fazer nata, ou para os que vinham chegando depois para o café. Então, depois que o último membro da família tomava o desjejum vinha o meu troféu, ela, a temerosa “vasilha do leite”, o terror da pia. Todos sabem, de tanto ferver e referver as natas do leite vão se incrustando e isso dificulta muito lavá-las. Teria o recurso de colocá-las antes de  molho, mas às vezes não dava tempo. Então só me restava uma alternativa: perder maior parte do tempo destinado a lavar os pratos do café da manhã e da noite tentando deixar aquele vasilhame mais que brilhando. Era a ditadura do alumínio brilhante. O maior orgulho das donas de casa por décadas.

No início eu as deixava por último. Mas um dia eu tomei uma decisão que mudou meu humor na hora de lavá-las. Passei a cuidar delas primeiro. A partir daí minha vida mudou. Ao invés de sofrer antecipadamente ao se aproximar a hora de lavar os pratos, eu não estava nem aí. Corria para lavar primeiro a vasilha do leite. O resto fluía e eu nem sentia o tempo passar.
Pode acontecer também em nossas tarefas mais complexas e árduas que tivermos pelo caminho. Por que comigo, até hoje, eu faço assim. E foi agindo desse jeito que eu fui a primeira da minha turma a entregar minha monografia da especialização e, repeti com êxito,  este procedimento no mestrado. Eu coloquei uma cadeira ao lado de minha escrivaninha para que  o Senhor estivesse comigo ao meu lado me ajudando naquela representação da “vasilha do leite”.


Prezados, não deixemos que uma “vasilha de leite” qualquer tire  nosso prazer de viver uma vida que nos foi dada de presente pelo Criador. Não devemos deixar que as tarefas complicadas, mas, inevitáveis, nos roube a paz que tanto necessitamos para continuar nossa jornada. Se para virar uma determinada página for necessário passar por uma empreitada difícil, porém, inevitável, livre-se logo. Lave a vasilha do leite logo de cara!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A VEREDA DOS JUSTOS


Em uma manhã muita fria em Retiro, uma localidade do interior da Bahia, eu resolvi encapotar-me e sair para meditar em volta daquele lugar. A temperatura me pareceu agradável e convidativa para um encontro com o Senhor. O problema era saber o que tinha à minha frente. A espessa massa de névoa não permitia ver com clareza a beleza do local.
 
Mesmo com as restrições impostas pelo clima resolvi seguir em frente. E aquilo me levou imediatamente a pensar em Provérbios 4:18. Como a Bíblia tem ensinamentos práticos em sua linguagem, sempre traz comparações retiradas dos fenômenos da natureza. E essa combinava exatamente com o versículo. Pude constatar ainda mais profundamente sobre isto quando retornei da igreja mais tarde. Já era meio-dia e dava para ver naquela hora, com nitidez, o que eu não pudera ver pela manhã.

As duas casinhas que eu não sabia de que cores eram pintadas, na verdade, me foi revelada como inacabadas. Como inacabados e sem revelação por inteira são nossos pensamentos e ideias antes de entrarmos em contato com a Luz. Não é a toa que Paulo em I Coríntios 13:11 disse que antes ele “era como menino; pensava como menino; sentia como menino”. Porém depois ele chegou a conclusões de acordo com a quantidade de luz que foi recebendo.  E então declarou que depois da luz já não enxergava com as “névoas” de antes. A luz mudou sua vida. Pode mudar a nossa também, se assim o desejarmos.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

 A mochila de Deus


Sempre que tenho oportunidade vou dormir na casa de meu filho mais velho para passar algum tempo com meus netos. Gosto de aprender com eles. E foi assim que nas férias de junho deste ano (2016) o menor me ensinou algo muito interessante. Como ele iria para a casa dos outros avós estava às voltas com a “arrumação” de sua mochila. Pedi para ver o que ela continha só para ver sua reação. Não pude me conter e dei boas risadas. Brinquedos, brinquedos e mais brinquedos eram do que consistia a bagagem. E o resto? Perguntei. Não, não tinha resto nesta história. Roupas, sapatos, remédios para alguma emergência (crianças pequenas gostam de febres inesperadas) e outros apetrechos indispensáveis para quem vai passar muitos dias fora não faziam parte dos apetrechos de viagem. Isso era um caso para os pais se preocuparem, claro.

Na década de 1970 lembro-me de alguns colegas que não pensavam em outra coisa a não ser “curtir”. Temos que curtir a vida. Essa era a frase da moda. A busca incessante do prazer. A mente precisa de distração, repetia-se como desculpa para a eterna celebração da vida. Quanto ao futuro, diziam, a Deus pertencia. E Ele que se preocupasse com tudo o mais que fosse necessário para a sobrevivência da humanidade. Muitos se descuidam por saberem que, como Pai amoroso que é, em sua mochila jamais faltará provisão para seus filhos desatentos e imaturos.

Meu pequeno só tem três aninhos. No entanto, conheço muita gente grande que já passou da fase das brincadeiras perenes, mas que continua arrumando a mochila só com brinquedos... Com isso vão passando pela vida à espera daqueles que souberam dosar trabalho e lazer para que estes lhes supram daquilo que eles também poderiam estar desfrutando pelo esforço próprio, se, como aqueles, igualmente soubessem arrumar a mochila da vida de forma menos inconsequente.

Trabalhei em uma empresa que não aceitava acordo em diminuir o horário de almoço para sairmos mais cedo. Eram duas horas que para mim pareciam uma eternidade. Nesse horário, enquanto muitos aproveitavam para cochilar ou passear nas lojas das adjacências eu aproveitava para estudar para concurso. O resultado vocês já sabem qual foi. Agora sim estou colocando mais brinquedos na minha mochila. Vamos aprender a arrumar as mochilas da vida com os itens adequados no tempo certo. Assim, poderemos virar nossas páginas em meio a menos percalços uma vez que, mesmo com todo cuidado, eles são inevitáveis...