terça-feira, 28 de março de 2017

SERES, QUE SE DIZEM, HUMANOS

Essa reflexão partiu do texto que achei na coleção História em Revista 1925-1950: A sombra dos ditadores:
“A meta de Mussolini sempre fora alcançar o poder absoluto, mas ele nunca pensara muito em como exercê-lo; assim, desde o início, seu governo revelou mais aparência do que conteúdo. Ele proclamava que o governo, ‘valia 97 centavos em termos de aclamação pública e três centavos em termos de realizações concretas’, tendo certa feita observado que, para governar a Itália, ‘só duas coisas são necessárias: policiais e banda tocando pelas ruas’. Algumas semanas após assumir o poder em 1922, ele insistira em participar de um congresso realizado na Suíça, para poder apresentar-se em público cercado por uma falange de Camisas Negras. Embora não tivesse nenhuma contribuição a dar ao congresso – realizado para ratificar um tratado entre a Grécia e a Turquia, convocou onze entrevistas coletivas com a imprensa. Durante uma delas Ernest Hemingway, que na época era correspondente estrangeiro, encontrou Mussolini folheando ostensivamente um grosso volume diante dos jornalistas. Hemingway observou que era um dicionário de francês-inglês, mantido de cabeça para baixo nas mãos do ditador.”
Não precisa ser necessariamente um famoso ditador, muito menos alguém tão ameaçador que possa ser reconhecido como tal, mas, basta ter alguns traços destas características e estar investido de alguma forma de poder que tais comportamentos se revelam: ego super inflado; pensar ser mais importante do que realmente é; fazer pose alternado-se até em atitudes ridículas na aspiração de estar eternamente “bem na fita” e por aí vai. Esses tipos de pessoas só se transformam, por vezes, em ícones de popularidade por ter quem acredite, siga e ratifique suas personalidades performáticas. Infelizmente existem desavisados e ingênuos que se prestam a esses papéis.
Neste mesmo texto, os autores admitem que Mussolini mantinha seu escritório em um palácio de mármore, distribuído em um espaço de 20 metros de cumprimento por 30 de largura e que costumava deixar as luzes acesas até tarde para fazer de conta que estava acordado e trabalhando até altas horas quando, na verdade, já estava dormindo. Fotos bem elaboradas podiam, em dado momento, mostrá-lo como um piloto experiente, um cavaleiro ousado ou um intelectual.
Desprezando a inteligência e a capacidade dos demais, os inteligentes e dotados de capacidades especiais quando usam seus atributos para o mal seguem, pela vida afora, enganando seus adeptos e admiradores que, na maioria das vezes, só muito tarde é que vão descobrir que foram vitimas de um engodo. Aí então já foram sugados pelos proprietários de máquinas devoradoras de talentos e aptidões alheias que, a esta altura, já estarão no encalço de outras vitimas desavisadas, o que não falta neste mundo. “Mas os homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando, e sendo enganados!” II Timóteo 3:13.  A exclamação é por minha conta.

Vamos abrir nossos olhos. E virar nossas páginas confiando em Deus e rogando-lhE para que nos livre e nos mantenha distantes desses seres, que se dizem, humanos.

quarta-feira, 15 de março de 2017

O DIA EM QUE EU NÃO PUDE FAZER ALGO POR ALGUÉM

Nossa alma anseia por um objetivo que valha a pena viver.  Assim seguimos pela estrada, levados  pelos sentimentos que nos empurra para frente e para o alto. Tanto para conquistarmos nossos sonhos quanto para ajudar aos outros a também conquistar os seus. Como em uma engrenagem, onde uma corrente auxilia a outra e vai impulsionando a máquina de viver que somos nós. E viver, é “normalmente” assim...
No entanto há dias em que por mais que queiramos e nos esforcemos, não conseguiremos. Foi assim comigo em um dia de 1968. Desde o dia em que passei na Avenida Senador Costa Pinto, depois da Carlos Gomes, paralela à Avenida Sete em Salvador. Lá, na década de 1960, havia, aliás, como hoje ainda há, só que com outra bandeira, um posto de gasolina que ostentava a frase: “Quem não vive para servir, não serve para viver.” Resolvi fazer daquela frase o meu lema de vida.
E naquele dia de 1968 eu nada pude fazer. Na esquina da Avenida Araújo Pinho, em frente à lateral ao que na época era o Tribunal de Contas do Estado e hoje funciona uma emissora de rádio, lá estava ele: um homem de estatura baixa, mesmo sentado dava para ver, cabelos fartos e pretos, olhos escuros, pele morena clara, desses que chamam de “pardo”. Ele estava completamente ensanguentado. Bolos de secreção amarela parecendo pedaços de gordura estavam grudadas em sua camisa à  altura do estômago. Lançou-me um olhar suplicante, mas não pude chegar perto. Soldados o vigiavam. E eu, munida apenas de minha compaixão e meus apenas doze anos de idade, nada pude fazer. Eu tinha ido a um supermercado que funcionava na garagem de um prédio ali na Praça Dois Julho (mais conhecido como Campo Grande) comprar pacotes de creme de arroz Colombo para minha tia.
No virar de nossas páginas nem tudo acontecerá como a gente quer. Nem tudo caminhará como a gente planejou. Faremos um movimento para a direita e, a “Vida”, nos levará para a esquerda, ou, faremos um movimento para a esquerda e, a “Vida”, nos levará para a direita...
Às vezes, e roguemos ao Senhor que sejam poucas, não conseguiremos ajudar alguém do jeito que gostaríamos. Mas, se tivermos fé, aprenderemos a conviver com estes momentos em que, infelizmente não poderemos colocar em prática nossa missão de servir ao próximo. Por isso, enquanto eu viver, nunca vou me esquecer daquele dia em que eu não pude fazer ALGO por alguém!