quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A FONTE DA ETERNA JUVENTUDE

Quando cheguei ao guichê, exclusivo para passageiros com prioridade, apresentei meu documento de identificação com foto e a atendente colocou em dúvida a autenticidade do documento. A princípio não entendi, mas quando ela explicou o motivo confesso que a vaidade aflorou por alguns instantes. Eu estava em um bom dia. Com a aparência descansada e prestes a realizar um antigo projeto familiar tudo concorria para a melhoria do semblante porque, afinal, o melhor creme rejuvenescedor é alegria de um sonho realizado. Sessenta e um anos, insisti. E ela irredutível: “Não parece”. E eu lhe repeti a frase que dissera há exatamente quarenta e dois anos atrás, quando, na porta do cinema Tamoio, em Salvador, um porteiro duvidou dos meus tenros dezenove anos: “Não parece mas tenho!”
 Depois que as dúvidas foram sanadas segui meu rumo. Mas pelo caminho passei a refletir sobriamente no ocorrido. E me veio à mente um dos episódios da série televisiva dos anos sessenta, Tarzan, um personagem de ficção criado pelo escritor norte americano Edgar Rice Burroughs. Este personagem embora nascido como um aristocrata inglês, foi parar em uma selva africana por causa de um motim ocorrido em uma embarcação em que sua família viajava. Com a morte de seus pais, Tarzan é criado por macacos na África. Bem, em um dos episódios dessa série, a história se desenrolava em torno de uma mulher que teria ido até aquele local em busca da fonte da eterna juventude. Ao ser encontrada pela família, com a ajuda de Tarzan, ela retorna para Londres, onde antes vivia. Porém, quando menos se espera, Tarzan a vê retornar e não a reconhece. Ela envelhecera todos os anos que havia vivido na fonte de uma só vez, cá fora, no mundo normal. Na ficção ela parara de envelhecer ao encontrar a mitológica fonte da lenda greco-romana, e reforçada no século XVI pelo Renascimento, pela qual existiria um rio em local paradisíaco cujas águas milagrosas imortal e, eternamente jovem, todo aquele que delas bebesse. Por conta dessa crença até Alexandre, o Grande, tentou encontrá-la. Também,   na busca dessas mesmas águas, a Flórida foi descoberta por Ponce de León.

E foi sobre isso que eu não consegui parar de refletir durante a viagem. Que Deus maravilhoso! Que Deus bom! Já pensou se nós envelhecêssemos de vinte em vinte anos ou mais, tudo de vez, o baque que não seria para o nosso ego?! Se tomamos sustos imensos quando revemos imagens antigas de nossas vidas acompanhando diariamente nossas mudanças no espelho imagine se, aleatoriamente, quando menos esperássemos, recebêssemos a visitinha do tempo para nos lembrar que havia se esquecido de nos envelhecer. Aparentando mais ou menos do que temos, o importante é virarmos nossas páginas planando na juventude da alma. Abraçarmos nossos sonhos e nossos projetos completamente apaixonados por eles. E colocá-los todos sob os cuidados do Eterno para o qual, verdadeiramente, somos eternamente jovens.