A FONTE DA ETERNA JUVENTUDE
Quando
cheguei ao guichê, exclusivo para passageiros com prioridade, apresentei meu
documento de identificação com foto e a atendente colocou em dúvida a
autenticidade do documento. A princípio não entendi, mas quando ela explicou o
motivo confesso que a vaidade aflorou por alguns instantes. Eu estava em um bom
dia. Com a aparência descansada e prestes a realizar um antigo projeto familiar
tudo concorria para a melhoria do semblante porque, afinal, o melhor creme
rejuvenescedor é alegria de um sonho realizado. Sessenta e um anos, insisti. E
ela irredutível: “Não parece”. E eu lhe repeti a frase que dissera há
exatamente quarenta e dois anos atrás, quando, na porta do cinema Tamoio, em
Salvador, um porteiro duvidou dos meus tenros dezenove anos: “Não parece mas
tenho!”
Depois que
as dúvidas foram sanadas segui meu rumo. Mas pelo caminho passei a refletir
sobriamente no ocorrido. E me veio à mente um dos episódios da série televisiva dos anos sessenta, Tarzan, um
personagem de ficção criado pelo escritor norte americano Edgar Rice Burroughs. Este
personagem embora nascido
como um aristocrata inglês, foi parar em uma selva africana por causa de
um motim ocorrido
em uma embarcação em que sua família viajava. Com a morte de seus pais, Tarzan
é criado por macacos na África. Bem, em um dos episódios dessa série, a
história se desenrolava em torno de uma mulher que teria ido até aquele local
em busca da fonte da eterna juventude. Ao ser encontrada pela família, com a
ajuda de Tarzan, ela retorna para Londres, onde antes vivia. Porém, quando
menos se espera, Tarzan a vê retornar e não a reconhece. Ela envelhecera todos
os anos que havia vivido na fonte de uma só vez, cá fora, no mundo normal. Na
ficção ela parara de envelhecer ao encontrar a mitológica fonte da lenda
greco-romana, e reforçada no século XVI pelo Renascimento, pela qual existiria
um rio em local paradisíaco cujas águas milagrosas imortal e, eternamente jovem,
todo aquele que delas bebesse. Por conta dessa crença até Alexandre, o Grande,
tentou encontrá-la. Também, na busca dessas mesmas águas, a Flórida foi
descoberta por Ponce de León.
E foi sobre isso que eu não consegui parar de
refletir durante a viagem. Que Deus maravilhoso! Que Deus bom! Já pensou se nós
envelhecêssemos de vinte em vinte anos ou mais, tudo de vez, o baque que não
seria para o nosso ego?! Se tomamos sustos imensos quando revemos imagens
antigas de nossas vidas acompanhando diariamente nossas mudanças no espelho
imagine se, aleatoriamente, quando menos esperássemos, recebêssemos a visitinha
do tempo para nos lembrar que havia se esquecido de nos envelhecer. Aparentando
mais ou menos do que temos, o importante é virarmos nossas páginas planando na
juventude da alma. Abraçarmos nossos sonhos e nossos projetos completamente
apaixonados por eles. E colocá-los todos sob os cuidados do Eterno para o qual,
verdadeiramente, somos eternamente jovens.
