sábado, 6 de maio de 2017

TEM GENTE QUE É ASSIM

Conta o jornalista Sebastião Nery em seu livro  Ninguém me contou, eu vi”, na página 367: em um voo complicado, no qual a  aeronave da Vasp teve que retornar ao Aeroporto Internacional de Brasília, junto com os outros passageiros que formavam a Frente Nacional de Redemocratização, estavam, ninguém menos que Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela e outros nomes. De repente, a nave, que já havia decolado com dificuldade, faz manobras para um pouso de emergência. A aeromoça avisa a todos que retirem seus anéis e alianças, folguem as gravatas e se curvem sobre os joelhos. Daí a pouco então, o jornalista observa que uma das  mulheres do grupo havia retirado a aliança para repô-la logo em seguida. Quis saber o motivo e ela lhe respondeu:
- Não vou tirar a aliança não. Sei que vou morrer e só poderei ser reconhecida por ela. Não quero meu marido chorando em cova errada.”
Quando meu filho faleceu aos quase três anos, estávamos por volta do meio dia. Quando avisei o hospital que agilizasse o preparo do corpo porque eu queria sepultá-lo ainda nesse mesmo dia e, realmente o fiz, no final da tarde, muita gente não entendeu quando eu disse que eu não via sentido em passarmos toda um dia e uma noite pela chorando-o. Acharam que eu tinha tomado uma decisão fria e desprovida de sentimentos. Deus sabe que isso não era verdade. Cada um tem o seu jeito próprio de sofrer. “Alguns” precisam dessa performance mórbida, da agonia em praça pública, talvez por medo de ser interpretado como uma pessoa desalmada. Já outros, acostumados aos infortúnios das ausências de queridos pela vida afora, como eu, prefere despedir-se e passar logo para a próxima fase. Tenho um professor que diz que algumas dores são inesquecíveis, o que torna imprescindível aprendermos a viver com elas sem sofrer. Tomar decisões frias em momentos limites é algo que não se aprende na escola.
 Ficou famosa em 7 de outubro de 1974,  a atitude de um homem durante o incêndio do Edifício Joelma. Com seu terno marrom, do alto de uma marquise, ele aguardou o resgate com toda paciência, enquanto outras pessoas se jogavam desesperadamente  das janelas para a morte.

Virar nossas páginas conseguindo manter a frieza e pensando calculadamente em situações extremas. Talvez, em alguns momentos, sim, e outros, não, a gente agirá conforme a razão. O que nos leva a aprender que,  tomar esta ou aquela atitude faz parte da equação formada pelo  nosso “ser” e “fazer” mais  o momento em que estivermos vivendo aquela situação. E quem nos entende!? Só Deus.