TEM GENTE QUE É ASSIM
Conta o jornalista Sebastião Nery em seu livro Ninguém
me contou, eu vi”, na página 367: em um voo complicado, no qual a aeronave da Vasp teve que retornar ao
Aeroporto Internacional de Brasília, junto com os outros passageiros que
formavam a Frente Nacional de Redemocratização, estavam, ninguém menos que
Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela e outros nomes. De repente,
a nave, que já havia decolado com dificuldade, faz manobras para um pouso de
emergência. A aeromoça avisa a todos que retirem seus anéis e alianças, folguem
as gravatas e se curvem sobre os joelhos. Daí a pouco então, o jornalista
observa que uma das mulheres do grupo
havia retirado a aliança para repô-la logo em seguida. Quis saber o motivo e
ela lhe respondeu:
“- Não vou tirar a
aliança não. Sei que vou morrer e só poderei ser reconhecida por ela. Não quero
meu marido chorando em cova errada.”
Quando meu filho faleceu aos quase três anos, estávamos por volta do
meio dia. Quando avisei o hospital que agilizasse o preparo do corpo porque eu
queria sepultá-lo ainda nesse mesmo dia e, realmente o fiz, no final da tarde,
muita gente não entendeu quando eu disse que eu não via sentido em passarmos
toda um dia e uma noite pela chorando-o. Acharam que eu tinha tomado uma
decisão fria e desprovida de sentimentos. Deus sabe que isso não era verdade.
Cada um tem o seu jeito próprio de sofrer. “Alguns” precisam dessa performance
mórbida, da agonia em praça pública, talvez por medo de ser interpretado como
uma pessoa desalmada. Já outros, acostumados aos infortúnios das ausências de
queridos pela vida afora, como eu, prefere despedir-se e passar logo para a
próxima fase. Tenho um professor que diz que algumas dores são inesquecíveis, o
que torna imprescindível aprendermos a viver com elas sem sofrer. Tomar
decisões frias em momentos limites é algo que não se aprende na escola.
Ficou famosa em 7 de outubro de 1974, a atitude de um homem durante o incêndio do
Edifício Joelma. Com seu terno marrom, do alto de uma marquise, ele aguardou o
resgate com toda paciência, enquanto outras pessoas se jogavam
desesperadamente das janelas para a morte.
Virar nossas páginas conseguindo manter a frieza e pensando calculadamente
em situações extremas. Talvez, em alguns momentos, sim, e outros, não, a gente agirá
conforme a razão. O que nos leva a aprender que, tomar esta ou aquela atitude faz parte da
equação formada pelo nosso “ser” e “fazer”
mais o momento em que estivermos vivendo
aquela situação. E quem nos entende!? Só Deus.
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