QUEM
VOA MAIS ALTO, VÊ MAIS LONGE...
Findado o
ano letivo de 1976 a maioria dos meus colegas não via a hora de começar a
trabalhar. Afinal, estávamos na década de setenta e ter o segundo grau em um
país com alto índice de analfabetismo, naquele tempo, se configurava em um
grande avanço para um determinado segmento da população. Mesmo já frequentando
um cursinho pré-vestibular, me entusiasmei em entrar no mercado de trabalho
para seguir a ideia de meus colegas. A resposta de minha tia e de seu filho, já
formado na Universidade Federal da Bahia, foi um categórico não!
Ele perdeu
horas, sentado na sala de visitas da casa, mostrando-me todos os motivos para
eu continuar os estudos e me dedicar com mais afinco para ingressar na mesma
universidade que ele acabara de se formar. Seu lema incansavelmente repetido
era de que o negro só tinha uma forma de vencer o preconceito e ser respeitado:
estudar para viver uma vida acima da mediocridade.
Não foi fácil
atender a esse conselho. Ele mostrou-me o rumo que vários de seus colegas que
haviam tomado aceitando empregos medíocres, “só por um tempo”, e que de lá até
ali não haviam retornado para seguir em frente com os estudos. Eu insistia que
muitos diziam que eu teria futuro como vendedora de loja pela minha
espontaneidade. Foi duro para ele me convencer. Eu queria trabalhar e ajudar
minha mãe que tinha dois filhos menores não atendidos financeiramente pelos
seus respectivos pais. E Ananias usou um argumento que era sua marca
registrada: deu-me um livro intitulado Fernão
Capelo Gaivota, de onde retirei a frase que intitula este texto e que tem
me acompanhado por toda vida. Emoldurando-a com as mensagens bíblicas que
servem de base para minha caminhada eu tenho virado minhas páginas pensando
sempre assim:
QUEM VOA MAIS ALTO, VÊ MAIS LONGE...

