sábado, 23 de abril de 2016

QUEM VOA MAIS ALTO, VÊ MAIS LONGE...


Findado o ano letivo de 1976 a maioria dos meus colegas não via a hora de começar a trabalhar. Afinal, estávamos na década de setenta e ter o segundo grau em um país com alto índice de analfabetismo, naquele tempo, se configurava em um grande avanço para um determinado segmento da população. Mesmo já frequentando um cursinho pré-vestibular, me entusiasmei em entrar no mercado de trabalho para seguir a ideia de meus colegas. A resposta de minha tia e de seu filho, já formado na Universidade Federal da Bahia, foi um categórico não!

Ele perdeu horas, sentado na sala de visitas da casa, mostrando-me todos os motivos para eu continuar os estudos e me dedicar com mais afinco para ingressar na mesma universidade que ele acabara de se formar. Seu lema incansavelmente repetido era de que o negro só tinha uma forma de vencer o preconceito e ser respeitado: estudar para viver uma vida acima da mediocridade.

Não foi fácil atender a esse conselho. Ele mostrou-me o rumo que vários de seus colegas que haviam tomado aceitando empregos medíocres, “só por um tempo”, e que de lá até ali não haviam retornado para seguir em frente com os estudos. Eu insistia que muitos diziam que eu teria futuro como vendedora de loja pela minha espontaneidade. Foi duro para ele me convencer. Eu queria trabalhar e ajudar minha mãe que tinha dois filhos menores não atendidos financeiramente pelos seus respectivos pais. E Ananias usou um argumento que era sua marca registrada: deu-me um livro intitulado Fernão Capelo Gaivota, de onde retirei a frase que intitula este texto e que tem me acompanhado por toda vida. Emoldurando-a com as mensagens bíblicas que servem de base para minha caminhada eu tenho virado minhas páginas pensando sempre assim:

QUEM VOA MAIS ALTO, VÊ MAIS LONGE...


sexta-feira, 15 de abril de 2016

O PERSONAGEM INCONFUNDÍVEL


O filme já havia começado há um certo tempo. Tentei acompanhar a trama, mas não tive paciência e tratei de perguntar a meu marido se um determinado personagem era o mocinho ou bandido. Ele me disse que o enredo estava meio complicado e que ele ainda não havia conseguido identificar.  Saí para retornar alguns minutos mais tarde quando repeti a pergunta. E ele respondeu do mesmo jeito. Também acrescentou: parece que o autor está querendo nos confundir. Tem hora que o mocinho parece o bandido e daqui a pouco muda tudo e os personagens deixam pistas falsas. Só esperando o final para saber quem é quem.
Parece até piada, mas não é. Aconteceu mesmo. E acontece também em nossas vidas. É um conhecido caso de imitação vida.  O verdadeiro fruto do trabalho das artes cênicas. Esperar o final... para saber quem é quem!

“E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?”

Assim como Josué, no frenesi de nossas lutas, por vezes ficamos atônitos sem saber a quem recorrer e clamamos por socorro a Deus. Sim. E assim não o fizermos ficaremos a vida inteira assistindo a esse filme de terror em que se transformou o mundo. Sem saber se os que estão ao nosso lado são realmente agentes do bem ou instrumentos do inimigo para abocanhar nossas vitórias.

Uma vez já transportado o rio Jordão e, quase chegando a Jericó, Josué se deparou com algo esplêndido. No meio dos guerreiros ele deu de frente com um Ser que tinha uma espada. Quem seria aquela figura imponente? É certo que se ele estava ali com uma espada é porque também estava disposto a lutar. Agora, a resposta para  a pergunta que Josué não podia calar era quem, e o que, aquele personagem representava em meio àquela batalha. E agora, a resposta para a pergunta   para nós, que  não pode calar é: o que o personagem Jesus representa em nossa história de vida. Digo, para nós que afirmamos que cremos que é Ele  quem luta conosco  em nossas batalhas.

Ali com Josué aquele ser brilhante revelou-se como Príncipe do exército do Senhor. O inconfundível Personagem principal do filme de nossas vidas. Aquele que vai adiante de nossas batalhas.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

ELE SEMPRE ACERTA


A primeira vez que eu estive lá naquela loja expressei minha vontade de avaliar alguns livros que me haviam despertado o interesse. O responsável pelo sebo demorou um pouco para me atender. Mostrou-me alguns exemplares que poderiam estar à minha disposição para avaliação tentando, assim, conduzir-me para outras obras que estavam mais próximas. Insisti que queria mesmo era ver os livros lá em baixo da vitrine. Compreendi seu comportamento. Eu faço a ideia de quantos não o importunam para depois dizer que não era bem o que queriam ou pensavam. Como bibliotecária sei muito bem que não se deve comprar livro somente pelo título pois as chances de arrependimento são imensas.  Assim persiti.

Bem, finalmente ele pegou as chaves, desceu, e trouxe o que eu realmente queria. Peguei o que me interessou para minha pesquisa e fui embora. Na segunda vez troquei com ele um lançamento que me custara um bom preço, mas que me decepcionara, por um dos que ele possuía em seu acervo comercial. E assim fomos desenvolvendo uma boa amizade e hoje ele já sabe de antemão do que preciso e antes que eu reapareça para a próxima visita ele já seleciona aquilo que por ventura possa me ser útil. E ele sempre acerta.

“Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras”. Daniel 10:12.


Que privilégio! O Senhor não precisou de uma segunda vez para atender melhor às necessidades espirituais de Daniel por que já o conhecia mesmo antes de ele começar a buscá-lo. Enquanto vivemos em um mundo em que temos que impressionar logo no primeiro contato, como manda os entendidos terrestres em relações humanas, aquele que verdadeiramente conhece e sonda os corações não precisa de nenhum artifício científico para saber quem realmente somos e nem que do que realmente necessitamos. E antes que apareçamos diante de sua presença ele já vai selecionando aquilo que por ventura possa nos ser útil. E ele sempre acerta! Ele sabe, mais que qualquer pessoa neste mundo, o que vai nos ajudar a virar melhor nossas páginas. Só nos basta pedir, porque Ele não impõe. 

sábado, 2 de abril de 2016

ADEUS MALAS!



Eu tinha dez anos e tio Silvério chegou com a grande notícia: iríamos veranear na localidade de Salinas das Margaridas. Foi aquele alvoroço! Minha primeira providência foi pegar meu maiô e esconder bem no fundo da mala. Todos os dias eu me lembrava de alguma coisa e corria para juntar à bagagem. Chegou o grande dia e, eu que dormira com o maiô que de última hora eu retirara das bagagens, não cabia em mim de tanto contentamento.  Mas, uma grande surpresa me reservava a tristeza na manhã daquele dia, como diria Herivelton Martins. A viagem foi cancelada e eu penso que bem que esta palavra, cancelada, deveria vir de cancela. Isto porque o que ocorreu é que colocaram mesmo uma grande cancela, e bem fechada, na porteira de minha imaginação. E eu que já me via mergulhando nas águas de uma praia tão cristalina como a que me levavam na Avenida Contorno, nos velhos tempos, de repente vi todos os meus anseios se desmoronarem. Malas desfeitas e sonhos acompanhando o cortejo das peças de verão que voltavam para as cômodas. E disseram que tudo foi por conta de uma chave que o dono da casa não mais disponibilizou para meu tio.  Um trato desfeito.

É por isso que eu não canso de repetir que a vida sem Jesus não tem lógica. Que negócio estranho esse mundo. Tudo aquilo que mais amamos vem com prazo marcado para proporcionar alegria. Por isso muitos sucumbem em meio a tanta perda e solidão. É muita mala desfeita para uma vida tão curta.


Muitos anos se passaram e eu já fiz muitas malas que foram bem aproveitadas assim como, tive também, algumas outras que tiveram que ser desfeitas sem seguirem viagens. Todavia minha maior alegria é crer que chegará o dia em que faremos uma maravilhosa viagem que não vai precisar de malas. Eu sonho com este dia e, enquanto ele não chega, vou virando minhas páginas na certeza de que neste grande dia, com ou sem malas, terei motivos de sobra para agradecer a Deus pelo cumprimento de sua promessa de uma vida eterna sem decepções.