ADEUS MALAS!
Eu tinha dez anos e tio Silvério chegou com a grande notícia:
iríamos veranear na localidade de Salinas das Margaridas. Foi aquele alvoroço! Minha
primeira providência foi pegar meu maiô e esconder bem no fundo da mala. Todos
os dias eu me lembrava de alguma coisa e corria para juntar à bagagem. Chegou o
grande dia e, eu que dormira com o maiô que de última hora eu retirara das
bagagens, não cabia em mim de tanto contentamento. Mas, uma grande surpresa me reservava a
tristeza na manhã daquele dia, como diria Herivelton Martins. A viagem foi
cancelada e eu penso que bem que esta palavra, cancelada, deveria vir de
cancela. Isto porque o que ocorreu é que colocaram mesmo uma grande cancela, e
bem fechada, na porteira de minha imaginação. E eu que já me via mergulhando
nas águas de uma praia tão cristalina como a que me levavam na Avenida
Contorno, nos velhos tempos, de repente vi todos os meus anseios se
desmoronarem. Malas desfeitas e sonhos acompanhando o cortejo das peças de
verão que voltavam para as cômodas. E disseram que tudo foi por conta de uma
chave que o dono da casa não mais disponibilizou para meu tio. Um trato desfeito.
É por isso
que eu não canso de repetir que a vida sem Jesus não tem lógica. Que negócio
estranho esse mundo. Tudo aquilo que mais amamos vem com prazo marcado para proporcionar
alegria. Por isso muitos sucumbem em meio a tanta perda e solidão. É muita mala
desfeita para uma vida tão curta.
Muitos anos
se passaram e eu já fiz muitas malas que foram bem aproveitadas assim como, tive
também, algumas outras que tiveram que ser desfeitas sem seguirem viagens. Todavia
minha maior alegria é crer que chegará o dia em que faremos uma maravilhosa
viagem que não vai precisar de malas. Eu sonho com este dia e, enquanto ele não
chega, vou virando minhas páginas na certeza de que neste grande dia, com ou
sem malas, terei motivos de sobra para agradecer a Deus pelo cumprimento de sua
promessa de uma vida eterna sem decepções.

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