sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

CONTINUAM INGÊNUOS



            De acordo com o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de Clóvis Moura, ingênuo era a denominação oficial para o filho de escravo nascido após a Lei do Ventre Livre, promulgada em 1871. Estes seriam considerados livres. Mas, em  1888,  um político mineiro proferiu um discurso na Câmara de Deputados,  no qual chamava a atenção para o fato de que ao se criar e homologar a lei, ninguém havia pensado no que seria destes vulneráveis, já que seus pais poderiam ainda está sob a soberania de seus senhores. O que fazer destas crianças, livres, mas, de pais escravos? Ninguém  se preocupara com isso. Então o procedimento legal adotado era deixar que os filhos menores, livres, ficassem “em poder dos senhores de suas mães, os quais teriam obrigação de tratá-los até a idade de oito anos. Atingida essa idade o senhor (ou a mãe) teria a opção de receber do estado uma indenização de seiscentos mil reis ou utilizar-se dos serviços dos menores até atingir vinte e um anos completos. Daí cabia aos senhores darem-lhes o destino que achasse mais conveniente.” Já deu para imaginar o que ocorria então com esses ingênuos, não é?
                                                    
Quando leio este relato de Moura lembro-me de Êxodo:20. De como o Senhor pensou, em sua infinita sabedoria, em todos os detalhes ao promulgar sua Santa Lei. No Quarto mandamento então, Ele teve o cuidado de cercá-la de todo o “porém” que o homem no futuro quisesse discutir. Olha a profundidade:                         

Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.

Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.

Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.
            
Antes que os espertos quisessem escravizar os de fora no dia do Sábado o Senhor tratou logo de proteger até os animais. Mas aqueles ingênuos ficaram mais desprotegidos depois,do que antes da lei. Que Deus nos poupe de virar páginas confiando em leis redigidas e sancionadas por homens. Viu?  

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