domingo, 22 de novembro de 2015

Existe alguém que não precisa de nada?


Sara já estava idosa e a esperança de ser mãe já se esvanecera. Mesmo assim, Isaque, o filho tão ansiosamente aguardado, veio sem dar a mínima para as imposições biológicas que imperavam no corpo de uma mulher aos noventa anos de idade.                 

Houve outra que também era rica, mas que precisava desesperadamente de um filho  para se sentir amada de verdade por seu marido, embora não precisasse pois ele a amava independente disso. Seu nome, Ana, mulher de Elcana. Além de Samuel, mais três filhos e duas filhas encheram de alegria aquela mulher outrora tão angustiada.

Lázaro, bem, Lázaro morreu e por isso, claro, seu desejo de livra-se de sua enfermidade não foi realizado, certo? Sim, mas ele ressuscitou para aprender que nem a morte, nem a vida, nem potestades podem ser empecilhos para que o poder de Deus se manifeste em  maravilhosos milagres. A mulher Cananeia também desejou o mesmo que Lázaro. Queria livrar-se de uma doença que a atormentava por longos anos. E, por sua vez, também alcançou sua graça.

E Bartimeu? Ora, Bartimeu queria a compaixão do Filho de Davi para ver. E viu.
Davi queria livra-se da culpa do pecado para que se sentisse mais alvo que a neve.
Sansão queria de volta a sua esplendorosa força. Mesmo que fosse o suficiente apenas para vingar-se de seus inimigos pela última vez. Conseguiu.

Daniel, assim que clamou, o Senhor imediatamente deu ordens ao Anjo para ir ao seu encontro e, este, lutou contra todas as forças do mal para atendê-lo. João e Isabel esperaram muito, mas, quando seu filho foi concebido, veio ao mundo com uma missão superespecial: preparar o caminho do Messias!

Teve gente que nem falou. Só em pensar e meditar em sua situação de doente terminal, quando já estava em meio a um balanço de sua passagem pela terra, recebeu um comunicado que o Senhor desistira de seu descanso e resolvera acrescentar-lhe mais uns quinze anos a mais de vida. Já pensou? Quinze anos a mais? Pode até não parecer nada para um jovem, mas, para um homem na idade do rei Ezequias era a glória. Pena que ele não soube aproveitar.

Existe alguém que não precisa de nada e nem de ninguém para virar suas páginas? Duvido!


domingo, 15 de novembro de 2015

AMOR, MEDIDA DE VALOR

O cliente aproximou-se da atendente do estabelecimento comercial. Fora resgatar um cheque em atraso. Já havia uma pessoa em atendimento no balcão. Ao perceber que o dono do cheque não estava à vontade para falar-lhe, a funcionária desviou a atenção do primeiro cliente para que este não percebesse qual o assunto que seria tratado com o segundo. Agindo assim, evitou-lhe um possível constrangimento
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Que coisa linda! O amor não se porta com inconveniência.  Não provoca ou, pelo menos não corrobora com situações que envergonhe o próximo. Isto é religião prática. O amor é a medida de valor do cristão.

Durante os preparativos para a copa do mundo, em 1986, dois jogadores brasileiros saíram às escondidas para uma noitada.  Ao retornarem, um deles não conseguiu escalar o muro que dava acesso à concentração. Imediatamente, o amigo que já estava do outro lado retornou para juntar-se ao colega e, juntos receberem a penalidade, o corte da seleção.  Comportamento duvidoso à parte, não deixa de ser, por um certo ângulo, um ponto comparativo de lealdade.

Jamais passaria pela cabeça do rei Davi que um soldado em guerra, longe de sua esposa, recebendo autorização para visitá-la e, assim, poder desfrutar algum tempo ao seu lado, abriria mão desse deleite para apenas por um sentimento de solidariedade aos companheiros que estavam distantes no campo de batalha. Interrogado pelo rei sobre o motivo de tal atitude ele respondeu: “A arca, e Israel, e Judá ficaram em tendas; e Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados no campo; e hei eu de entrar na minha casa, para comer e beber, e para me deitar com minha mulher? Pela tua vida, e pela vida da tua alma, não farei tal coisa”. (II Samuel 11:11). Sua lealdade teve um preço terrível: sua vida! Virar páginas norteando-se pela Palavra tem um preço! Quem está disposto a pagar?

Diante dos episódios vividos pelos personagens citados fica para nós o exemplo de que, quer seja dentro, quer seja fora do ambiente cristão, devemos colocar em prática o célebre conselho de Paulo em I Coríntios 13, sobre o amor, que é um dos textos mais citados em todo o mundo por seu teor em defesa da humanidade igualitária.

Sabemos que quem ama respeita aquele a quem ama porque os dois sentimentos se completam e formam a base dos bons relacionamentos.
LUZ, MESMO NAS TREVAS!

    O casal ia contornando as seções do supermercado. Cada um levava um carrinho. Até aí nada demais. O curioso era que tudo o que o homem colocava em seu carrinho ela colocava também no seu. Exatamente igual, produto e quantidade. Em dado momento ele voltou ao carrinho e retirou o frango. Ela o arguiu: “Por que você fez isso?” Ele respondeu: “Porque ela não está merecendo”. Sua acompanhante imediatamente o repreendeu: “Vai levar sim. Ela é sua esposa e tem mais direito do que eu!” Sim, eles eram amantes. Sim, ele estava fazendo compras para as duas famílias e queria dar mais àquela mulher que à sua própria esposa que o aguardava em casa. E aquela mulher, mesmo vivendo em pecado não consentiu que aquela injustiça fosse concretizada.

Quando eu fazia visitas missionárias na penitenciária de Salvador conheci um rapaz que aceitou a mensagem adventista. Quando ele saiu da prisão, eu e meu esposo contratamos seus serviços de pedreiro. No final da empreitada, ele tomou-me um cheque pré-datado emprestado para comprar material com o objetivo de construir pequenas casas para alugar. Em oito meses ele alcançou essa meta. Realizou seu propósito com aquele cheque que era trocado mensalmente para servir de garantia aos seus credores. Todo mês ele ia à loja, pagava um material e pegava outro. Ao término de tudo o cheque, nunca depositado, voltou para as minhas mãos sem me causar nenhum transtorno.                 

Em 1824, foi outorgada, isto é, imposta aos brasileiros, uma Constituição elaborada por dez membros de um Conselho de Estado nomeado por D. Pedro, o primeiro. Essa Constituição tirava a autonomia das províncias, o que causou grande alvoroço no Nordeste fornecendo combustível para uma acentuada oposição ao governo central. Esse problema serviu de estopim para um movimento separatista em Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e, em menor repercussão, no Piauí. A rebelião contou com a participação de negros libertos, brancos não aristocratas, soldados e militares de baixa patente. Dentre eles, um padre, Frei Caneca. Ao final do movimento todos foram condenados ao enforcamento, menos Frei Caneca. Ele teve que ter sua pena mudada para fuzilamento. Motivo: Nenhum carrasco quis enforcá-lo!

As três situações citadas mostram como devemos ficar atentos à Palavra do Senhor para que nós, como cristãos, ao formos virando nossas páginas, seja qual for o posto que ocupemos, ou, viermos a ocupar, não nos envolvamos em situações, às quais, nem aqueles que não têm luz se envolveriam.







sábado, 7 de novembro de 2015

NADA A VER COMIGO

Em uma de minhas viagens pelo Brasil quando vi a fila e, para o que era, resolvi segui-la também. Era um artista que fazia caricaturas. Esperei pacientemente pela minha vez. Pedi-lhe a arte em cima do meu sorriso. Ele alegou que achava difícil me ver desse jeito. Disse isso sem nunca ter-me visto. Tudo bem, vamos em frente. Esperei, esperei e, quando o trabalho acabou, nenhum componente da equipe que me acompanhava conseguiu visualizar qualquer traço naquele trabalho que remetesse para o reconhecimento de minha fisionomia. Nem sorrindo, nem chorando, nem nada. E eu ainda tive que pagar. Lá se foi meu dinheiro!    
Bem, assim como aquela tentativa de reprodução de minha imagem, caricaturada ou não, muitos também desenvolvem a mania de querer decifrar as pessoas tão logo lhes são apresentadas. Muitas vezes, nem anos e anos de convívio com alguém fornece material suficiente para tal empreitada. Mesmo que seja um especialista no assunto.
Jesus, o maior especialista dessa área que já passou por este mundo, perguntou a seus discípulos: “Quem diz a multidão quem eu sou?”  As respostas foram as mais variadas: “Uns dizem que João, o Batista, outros, Elias, ou qualquer um dos antigos profetas que ressuscitou...” E Jesus continuou com a interpelação: “mas e para vocês mesmos, eu sou quem?” Então os discípulos confirmaram-no como o Cristo de Deus.                
E assim caminha a humanidade até hoje. Não conseguem retratar seu próximo de maneira fiel se o Senhor não os revelar. Certa vez, em visita a um sanatório, em tom de brincadeira perguntei a um psiquiatra qual era a diferença entre os internos e ele. O que ele me disse, mesmo de forma hilária, me fez pensar. Ele respondeu: “A diferença é que eu tenho a chave.”                                                    
Um dia eu espero encontrar, e vai ter que ser sem pagar, um artista que possa transferir para o papel minha imagem de forma que os outros possam me reconhecer. Eles existem, eu sei. Todavia meu ser, na sua íntegra, só Deus poderá revelar. Porque só ele me conhece profundamente. Só Ele conhece a verdadeira essência da criatura humana e como elas realmente viram suas páginas.
 João categorizou sabiamente que “Jesus não confiava no homem porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem porque ele bem sabia o que havia no homem”. João 2:24 e 25.



quarta-feira, 4 de novembro de 2015

BAIANÊS AJUDA MUITO NESSAS HORAS
            O erro foi meu, confesso! Acostumada a viajar por uma companhia aérea fui direto para um de seus guichês cujo funcionário,  experiente, categorizou: “A senhora com certeza não vai viajar conosco porque não temos voo para João Pessoa neste horário e com essa conexão”. Ele foi muito atencioso comigo. Mas já no guichê de outra companhia o atendimento já não fez jus ao que podemos classificar de educado. Gato escaldado depois de já ter perdido dois voos eu chego sempre com bastante tempo de antecedência para meus voos. E foi assim que tive tempo de percorrer guichê por guichê de companhia aérea para descobrir por onde eu ia viajar. Fora um erro crasso de minha parte. Pela primeira vez eu não prestara atenção no impresso com o localizador da passagem e ainda o deixara em casa. Olhei a volta e conclui que fosse a mesma companhia da ida. Nem imagino o que passou pela minha cabeça para ter agido dessa maneira. Mesmo assim, nada justificava o tratamento que recebi de alguns funcionários. Eu queria fazer o meu check in, e não uma consultoria comportamental especializada para viajantes. Glória Kalil já escreveu muito sobre isso. Fora outros escritores especializados no assunto. Bem, nesse vai e vem, consegui uma funcionária que, do alto de sua forçada elegância, me perguntou:                                                                                     
- Finalmente qual é o seu voo senhora? - No que eu educadamente lhe respondi:            
- João Pessoa. -  E ela continuou:                                                                                 
- João Pessoa que horas? - Ela não conseguia disfarçar seu descontentamento com minha irresponsabilidade e eu, sinceramente, a essa altura, também já estava uma “pilha”. Mas aí me lembrei de um recurso infalível. Além da oração em pensamento respondi-lhe em bom baianês:                                                                                             
 - Ô filha, meu voo é cinco e lascou! -  Ela advertiu-me:                                                  
- Cinco e lascou não existe em nosso horário senhora. - Então coloquei meu baianês, no melhor estilo Dorival Caymmi, mais uma vez em ação:                                        
- Ô filha, sabe o que é? “Acontece que eu sou baiana, e acontece que você não é”. Então eu vou lhe explicar uma coisa: tenha paciência comigo porque pro baiano, quando ele está de boa maré, tudo é na base do cinco e lascou; cinco e lá vai pancada, cinco e cachorro já bateu as botas, cinco e cachorro já virou a esquina; cinco e cachorro já lascou a boca... e, antes que eu esgotasse meu repertório, ela me interrompeu com um largo sorriso. Graças a Deus meu baianês funcionou!                                                             
Pois é! Revidar um mau atendimento não adianta nada. Foi-se o tempo que eu entraria em discussões inúteis na base do “vamos ver quem tem razão”, mesmo sem ter... Ainda bem que Jesus conseguiu operar um milagre em mim. Foi graças a isso que nessas horas a oração, claro, vem em primeiro lugar.  E depois, um bom baianês, não é que sempre ajuda a vira esse tipo de página?


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

AVENIDA SETE DE SETEMBRO – PARTE 2

No carnaval as famílias se aglomeravam em seus bancos em toda a Avenida Sete. Para nós, “lá em casa”, era um espetáculo à parte, pois, na sexta-feira que antecedia a festa tínhamos que guardar lugar até que desse o horário permitido pela prefeitura para colocar os longos bancos de madeira que amarrávamos nas árvores. Na calçada do Mosteiro de São Bento, em frente à Lobras,  ficávamos de domingo à terça feira durante todo o dia e parte da noite para ver o desfile dos trios, blocos e as pouquíssimas escolas de samba do  carnaval baiano. Mais tarde eu viria a fazer parte de alguns deles pelo que, ainda outro dia, encontrei um amigo daqueles tempos que me perguntou se eu não era aquela menina que saia no Bafo do Jegue. Para estas indagações eu sempre respondo: era, mas agora eu estou no “Hálito de Cristo”. Eles sorriem. E eu agradeço a Deus pela mudança que ele operou em mim.
Naquela avenida vivi também algumas das maiores emoções de minha vida, pois foi lá que eu estava, na porta do convento das Mercês, quando ouvi os gritos: extra! extra! Era o resultado do vestibular da UFBA publicado em janeiro de 1977. Não tinha o dinheiro no momento para comprar o jornal e então peguei um ônibus para encurtar o caminho até em casa. A emoção era mais forte que eu. No ônibus de Fazenda Garcia, que vinha da Praça da Sé, vi um senhor lendo um exemplar do jornal e prometi para mim mesma que não esboçaria nenhuma reação caso achasse meu nome lá. Mas quem disse que eu cumpri a promessa? Desci no ponto e corri entrando desbandeirada em casa para receber o abraço de minha tia que me recebeu de braços abertos num choro convulsivo. Era a primeira vez que eu a via chorar. As mulheres dessa família têm dificuldades com isso.                                                     
Voltando às emoções ali vividas, recordo-me do dia em que eu o vi pela primeira vez. Não, nada dos amores do passado. Foi uma loja na esquina do São Raimundo. Vendia gravadores Akay Quadrifônico. Eu nunca tinha visto um quarteto tão fantástico! E Ananias, meu primo, comprou um. Que maravilha! É, mas às vezes os vizinhos vinham pedir para baixar o volume.  Acontece que naquela época muita gente tinha cristais em casa e eles “dançavam” nas prateleiras, a depender da altura do som, quando os extremos agudos se apresentavam! Mas eu gostava de ver os cristais de minha tia “aprontando” na linda cristaleira que ele tinha. Eu até consegui restaurar uma que achei no lixo e hoje tenho uma bem semelhante na sala. O saudoso Dudu, que fazia ponto de marceneiro aqui na rua (Conde Pereira Marinho – Garcia) restaurou-a para mim.
Na loja Gidi eu comprei os primeiros itens do enxoval de meu primeiro filho. Fez parte de meus comparecimentos aos eventos os itens comprados, na A Fonseca (calçados), Osgonçalves (tecidos), Loja Clark (calçados),  Florensilva, Rian Tecidos, Glima (ainda estabelecida), Óticas: Salvador, Ernesto, Teixeira, M Kraichete, Mesbla, A Feira dos Tecidos, Santana (tanto sapataria como farmácias)... e chega. Não dá para falar de todas.
Ainda hoje a Avenida Sete de Setembro continua sendo palco de mais uma fase da minha vida. E de outra que se avizinha...  Porque esta é mais uma página que eu gostaria muito de ver escrita na minha história. Pedi e dar-se-vos-à. E como eu creio nisso! (Lucas 11:9).


domingo, 1 de novembro de 2015

  AVENIDA SETE DE SETEMBRO – PARTE 1
Entreguei doces por mais de dez anos pelo centro de Salvador e a Avenida Sete de Setembro foi palco de minhas maiores andanças. Mesclei a história do Brasil e, claro, particularmente de Salvador, com a minha vida nesse período o qual, naquele trecho da cidade, eu passava todos os dias para estudar, viver, sorrir e sonhar. Foi lá, na Escola Santa Ângela das Mercês, que fiz todo o curso primário. Fato que ficou eternizado em minha memória era o de não aceitarem meninos naquela época. Então, todos os anos, pintavam meu rosto com carvão para estilizar o papel de menino roceiro nas quadrilhas de São João.  Achavam que o cabelo ajudava. Ou a falta dele... quem sabe! Quando passei a estudar no Edgard Santos a entrega era pela manhã bem cedo, antes de ir para a escola, e à tarde, depois que voltava.     

                                                               
 Hoje quando passo por lá, também todos os dias, parece ironia, para fazer quase o mesmo trajeto, e pelo mesmo motivo, outra ironia, relembro parte das melhores emoções que ali vivi. Faço todo o percurso mentalmente: nos primeiros anos a primeira entrega era no Hotel Granada. Depois seguia para entregar bolo inglês bem no início da Ladeira da Montanha onde meu tio tinha um bar e lanchonete. À tarde ia para a escola. Aos sábados era por lá que eu ia até passar para a  rua Carlos Gomes e ganhar acesso ao Largo Dois de Julho, ponto de referência pra comprar carne verde (até que enfim já chamam de vermelha). No trajeto gostava às vezes de ir por essa rua para ler, quantas vezes fosse possível, a frase que guiaria todos os meus projetos por toda minha vida. Lá, no posto de gasolina que hoje tem bandeira nacional, estava escrito em letras garrafais: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. E mais adiante me intrigava outra frase: “Adão não se vestia porque Spinelli não existia”. Mas essa era outra rua, e essa é outra história. No sábado pela manhã também pela Avenida Sete ia de novo para o Largo Dois de Julho fazer a feira com minha tia. Aos domingos atravessava a avenida para ganhar a Rua Chile e ir até o Elevador Lacerda e, lá embaixo, pegava o ônibus elétrico que me levaria até à feira de Água de Meninos. Matei a saudade deles quando estive em Valparaíso no Chile. Vejam a foto. Era igualzinho a esse. Nessa época, mais precisamente em 1964, aconteceu algo que só viria acontecer novamente quarenta e oito anos mais tarde. Depois das cinco da tarde quase não se via ninguém no centro da cidade. As lojas fechavam suas portas porque sabia que não iam vender mais nada a partir daquele horário. Nem pensem em tragédia. Era uma novela chamada A moça que veio de longe, que fez história. Eu era criança, e não via graça naquele título. Eu era criança, e não entendia porque aquele título para mim não tinha graça nenhuma. Eu era uma criança, e não entendia nada...

Não entendia quando nessas andanças, durante certo período, eu via pessoas ensanguentadas na mira de soldados armados e enroladas em bandeiras. Os gritos e os corre-corres povoam até hoje minhas lembranças. Agora, que já não sou mais criança gostaria, e muito, de continuar não entendendo nada, pois, parece-me, que os ignorantes, em dados momentos,  são mais felizes. Se não o são, pelo menos viram certas páginas com menos pesar. Parece! Parece?...