domingo, 28 de fevereiro de 2016

O LUXO DA ESCOLHA

Nunca se teve liberdade para tantas escolhas como temos no mundo de hoje (pelo menos no ocidente). Houve uma época em que as escolhas eram poucas. Sentava-se à mesa e comia-se o que lá estivesse. No meu caso eu desenvolvi uma tática: fingia gostar daquilo que menos me agradava e então pouco me era oferecido. Escolher, nos meus tempos, pelo menos para mim, era um luxo. Uma tarefa que poucos tinham o direito exercer fosse para o que fosse. Eu sou louca por azul, mas tive que usar muitos tons que detestava e que hoje não entram em meus pertences. Eu não gostava de cozido, sopa do que sobrou do cozido, então, só por misericórdia! Mas tive que engoli-la muitas vezes. Como engoli também muitas coisas fingindo que gostava porque, não só para mim, nos tempos de outrora, poucos podiam se dar ao luxo da escolha!


Estou rumo aos sessenta anos. Faltam poucos dias. E o que posso dizer do dia em que pude começar a tomar minhas próprias decisões até o tempo que podemos chamar de hoje é que, das muitas escolhas que eu pude fazer ao longo nesse período de pós-liberdade, a melhor de todas foi a escolha que fiz pelo meu Melhor amigo, Jesus Cristo. Sempre digo que de tão abençoada deram-me, sem saber o que o futuro me reservava, como primeiro nome Isabel, de origem hebraica, que quer dizer “consagrada a Deus; depois vem o Cristina, de origem latina, que significa “ungida por Deus”, só para reforçar a benção e a trajetória.  A Vida achou pouco e ainda acrescentou um Oliveira,  nome do Horto onde Cristo costuma orar e da árvore cujo fruto se extraía o óleo da unção. Ele tinha um plano especial para mim. Ele tem planos especiais para cada um de nós. Mas nos dá liberdade para aceitá-los ou não. Por tudo isso, como na linda canção de número 477 do Hinário Adventista, hoje peço licença para agradecer:  

“Pai Querido, obrigada pelos planos, grandes sonhos; especiais pra mim;                   
Tu me guias nos caminhos desta vida;                                                   
ao teu lado nada faltará;   eu te amo mais que tudo;                                  
quando fraco tua força nunca falhará,             
por tua graça Pai imploro                     
transformar a minha vida em uma canção”.
AINDA SOBRE A BREVIDADE DA VIDA

Vejam o texto, o qual achei reflexivo, colhido no jornal A Tarde de 16 de fevereiro de 2016:   “Miryan Fraga, figura respeitabilíssima na intelectualidade baiana, atendeu ao convite da jornalista Kátia Borges, em 2014, para ir à Casa de Tereza, no Rio Vermelho, participar do Sarau de Prosa e Poesia. Kátia comentou que estava pretendendo fazer uma tese de doutorado sobre a Geração Mapa (anos 1960), liderada por Glauber Rocha e da qual Miryan Fraga e outros poetas fizeram parte. Miryan aconselhou:
                                                                            
- Kátia, faça logo este projeto e nos entreviste. Estamos todos morrendo. Eu mesma estou a caminho dos oitenta”.
          
O autor do texto, Levi Vasconcelos, chama a atenção no final desta página de lembrança: “Miriam morreu ontem aos setenta e oito anos.”

Há um programa que acho interessante no canal fechado cujo título “O mundo vista de cima” (tem também a versão “O Brasil visto de cima”). Outro dia ele apresentou uma matéria sobre uma propriedade norteamericana que consumiu anos e mais anos de seu proprietário, mas, que acabou abandonando o projeto, pois, os futuros moradores que o ajudariam a desfrutar da futura morada foram morrendo ao longo da execução do sonho familiar.

Há muitos que não conseguiram, em vida, acompanhar o rumo que seus projetos tomaram, grandiosos ou não. Juscelino Kubitschek morreu sem poder transitar livremente por Brasília, seu maior empreendimento político.  Por várias vezes percorreu seus arredores disfarçado em caminhonetes simples contemplando-a de longe,  sem, contudo, vê-la chegar à fase “adulta”.

Não esmoreça diante de seus projetos, mas não se esqueça de viver, pois, a plenitude da vida passa e depois, como diz Salomão, para quem não administrou bem o tempo, logo, tudo será apenas canseira e enfado. Miremos no alvo, mas um alvo alcançável, para que não ocorra que trabalhemos para que outros se deleitem em seus resultados.


Existem pessoas que passam toda sua vida trabalhando sem descanso e ainda tem o prazer de dizer que trabalham de sol a sol; de sábado a sábado; de inverno a inverno; sem tirar um dia de descanso. Desse jeito vão virando arduamente cada página de sua vida para construir um futuro que às vezes nem vem. Pelo menos para ele. E no final outros colhem e desfrutam de seu labor. 
Pense nisto!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

NÃO TEMERÁS PASTAS QUE VOAM DE DIA...




Por aquela reação do dirigente maior daquela empresa aquele funcionário não esperava. Eficiente, diligente e tido como um dos funcionários mais fiéis daquela entidade, ao ser chamado para uma reunião da diretoria a fim de apresentar um relatório técnico muniu-se, conforme sua postura profissional exigia, de todo o material de que dispunha para uma boa apresentação técnica. Uma vez autorizado a entrar na sala entregou, de antemão, uma cópia do que deveria ser apresentado, ao presidente, que estava devidamente instalado em sua cadeira de cabeceira. Dali, este presidiria aquela reunião com sua peculiar arrogância, comum na maioria das pessoas que se acham investidas de poder e que ingenuamente acreditam que tudo dura para sempre.

Assim, depois de entregue a pasta com os documentos o funcionário empertigou-se e, quando já ia dar início ao seu “espetáculo” ouviu um estalar dedos. Era seu chefe, o todo poderoso presidente, que sem nem ao menos sequer esperar para ver o que seu subordinado tinha para apresentar desferiu-lhe uma série de impropérios. Em frente a todos os presentes questionou-o sobre alguns números detectados em um olhar rápido e sem ouvir os detalhes que poderiam dirimir qualquer dúvida, caso a apresentação fosse levada a cabo. Antes que o funcionário chegasse até ele para justificar-se e solicitar-lhe paciência viu deslizar pelo chão a pasta com os documentos que lhe consumira dias e dias de cansativo trabalho, e que agora jazia  ali, insolentemente jogada aos seus pés.

O funcionário nada reclamou; nada lamentou. Sem atitudes de insubordinação, mas, com firmeza, abaixou-se; pegou a pasta com todos os papéis que haviam se espalhado no raio que compreendia seus pés e os de seu superior; juntou na mesma ordem em que antes estavam; pediu licença educadamente a todos; despediu-se e saiu...

Mas, não se enganem, quem vira suas páginas protagonizando estes e outros tipos de comportamentos semelhantes sempre tem algo que lhes espera na curva do caminho. Não demorou muito e um complô derrubou aquele presidente que foi substituído por um de seus maiores desafetos, em uma votação apertada cujos votantes foram os mesmos membros presentes naquela desastrada reunião. E essa irônica vida que apronta coisas que alguns teimam em chamar de “destino”, aprontou com aquele presidente também. Pouquíssimo tempo depois ele foi derrubado daquele posto para o qual, até que indiretamente tentou, mas, não conseguiu voltar nunca mais.  


O Salmo 91:5 afirma que aqueles que confiam em Deus não temerão setas que voam de dia, e eu acrescento que também não temerão pastas que fazem o mesmo percurso... Pois, aquele funcionário era cristão.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ELE VAI CONSEGUIR VIRAR ESSA PÁGINA

Eu gosto muito do mar, mas, ele lá, e eu cá. Já escapei de morrer afogada três vezes e não gosto nem de me lembrar dessas terríveis experiências que passei. Ainda mais que nas três vezes eu era jovem e foi mais fácil achar quem quisesse me salvar...

Bem, deixando a brincadeira de lado, respeito muito quem tem amor por essa obra prima da criação. Principalmente quando se trata de pessoas que viveu toda sua vida em torno dele e de lá tirou o seu sustento e de sua família, como foi o caso de meu padrasto. Por isso, no recesso de carnaval em que fui visitá-lo em sua recuperação da isquemia que o acometera levei-o a passear pelas redondezas de Pirajuía. Na ocasião fiz-lhe mais outra surpresa  conduzindo-lhe até à praia para que ele matasse a saudade do mar. Pensei como eu gostaria de, se algum dia chegasse àquela idade, tivesse também alguém que respeitasse meus gostos e se propusesse a levar-me para satisfazê-los. Seria o caso de fazer aos outro o que gostaríamos que fizessem conosco, como Jesus ensinou. Tive o maior prazer em ver-lhe a fisionomia satisfeita em reconhecer seu barco ancorado ao longe. Convidei-o para descer do carro e sentir nos pés a areia molhada tão sua conhecida. Ele não quis. Não sei o motivo. Só sei que ele não tirou os olhos do mar um segundo sequer.  A maré estava baixa e ele previu com precisão a hora certinha em que ela estaria ao pé. Coisas de velho pescador.


Bem, pelos motivos que já descrevi acima, o mar não é o meu maior prazer. O que não quer dizer que eu não o admire e não desfrute de passeios aquáticos. Em águas rasas, que fique bem claro. Sinto mais falta das pedras. Amo rochedos. Amo as rochas. Sou fascinada por elas. Respeito-lhe a solidez e a grandeza à qual Jesus comparou a confirmação da sua Igreja (Mt. 16:18). Mas, como respeito é bom e todo mundo gosta, senti muito prazer em compartilhar com meu padrasto dos seus sentimentos em relação ao mar. Algo que de forma independente já fez parte diária de sua vida e que agora só estaria perto de seus olhos pela boa vontade de alguém que respeitasse sua paixão e se propusesse a levá-lo até ele. Sinta-lhe a emoção nestas fotos daquele raro momento.  Ele vai conseguir virar essa página!










Foto: Isabel Souza  (Pirajuía 7/02/16)          Foto: Isabel Souza   

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

COMO SABER A HORA CERTA?

Eram 12hrs30min do dia 3 de fevereiro de 2016. Depois de desfrutar as lindas paisagens de Andaraí resolvemos ir para Mucugê, duas joias da Chapada Diamantina na Bahia. Em duas motos fomos eu e meu caçula para a rodoviária, saindo do centro da cidade. Assim que saltamos fomos almoçar em um restaurante que mais parecia uma casa de amigos bem achegados. A comida não dá nem para descrever de tão saborosa. Coisas da terra. Depois de rodearmos a cidade resolvemos voltar para a Andaraí, pois meu filho já estava sonhando com o rio que provinha da cachoeira. Do nosso quarto ele nos convidava passando bem ali no fundo da pousada. Perguntamos a um motorista de táxi, o único que encontramos na cidade, sobre a saída do ônibus e ele nos advertiu que só iríamos conseguir transporte lá pelas três horas da tarde, horário em que uma van passaria bem pela praça. Meu filho, mais afoito pelo retorno, por suas razões, claro, perguntou-lhe por quanto ele nos levaria. Com sua honestidade de homem simples ele ofereceu-nos uma viagem por R$100,00 até nosso destino, mas advertindo-nos que se esperássemos pelo ônibus ou pela van sairia bem mais barato. Concordamos com sua ponderação e aguardamos. E tarde se esvaia; e meu filho via seu banho de cachoeira virar fumaça. Não confundir com aquela verdadeira, também da Chapada. 

Às dezesseis horas o convite foi renovado, dessa vez pelo próprio motorista, penalizado pelo tempo que estávamos perdendo já que nossa estada seria curta na região. No dia seguinte iríamos saudosamente embora. Mais uma vez proscratinei a decisão, até que a noite já quase se fazia anunciar e um ônibus apareceu no horizonte enchendo-nos de esperança. Mas ela logo desapareceu, pois o carro iria dormir em Mucugê para retornar no dia seguinte para Salvador.

Finalmente, depois de passar outro tempo de espera lá na saída da cidade, resolvemos voltar para praça. Não sem antes clamar ao Senhor que me tirasse daquela situação. No caminho ouvi uma voz me arguindo: “E aí? Quer que eu leve vocês?” Era o motorista da praça que naquele momento ia saindo de sua casa. Dessa vez nem pensei duas vezes. Dessa vez os cem reias me pareceram como dez centavos e caímos dentro do carro chegando sãos e salvos à linda Pousada Ecológica. Só o que não deu para salvar foi o banho de rio de Junior.


Não quero nunca saber que horas aquele bendito ônibus passou. Mas a lição ficou. Qual a hora certa para tomarmos certas decisões? Às vezes sabemos, mas, na maioria das vezes, não. Naquele dia só um banho de rio ficou para outra oportunidade. Porém em outros dias da nossa vida muito se tem perdido por não sabermos tomar a decisão certa na hora certa. Por este motivo é que devemos orar, e muito, pedindo a Deus sabedoria para tomarmos a decisão certa na hora exata. Isso se quisermos virar nossas páginas sem grandes arrependimentos. Já que eles são inevitáveis...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

NÃO SOMOS MAIS OS MESMOS

Pensei em passar em casa para almoçar e descansar um pouco antes de retornar ao centro da cidade para resolver algumas coisas por lá. Já era mais de uma hora da tarde e eu ainda não tinha almoçado. Mas logo ao entrar em minha rua avistei de longe minha mãe que vinha cheia de pacotes e mais alguns artefatos. Parei para levá-la até o ferry boat e assim aliviar-lhe a carga e tempo de regresso para Pirajuía. Foi aí que no trajeto, por alguns instantes, me veio a lembrança de um dia remoto ainda lá em Nova Iguaçu, quando saímos alegremente para irmos visitar amigos em Duque de Caxias. Lembro-me deste dia como se fosse hoje porque eu perdi uma bolsinha que ganhara de presente naquela manhã e estava me achando a própria, até que descemos da lotação e eu a esqueci lá. Lembro-me nitidamente de nós duas correndo atrás da condução gritando desesperadas sem conseguir reaver minha prenda sem sucesso.

Pensando em reviver aqueles poucos momentos em que saíamos juntas lá no Rio de Janeiro levei minha mãe para almoçar na intenção de reviver, nem que fosse por alguns momentos, aquela fase tão longínqua de nossas vidas. Sentamos e a conversa que se travou ali só girou em torno de nossas lutas e ansiedades. Então veio a constatação: com o passar dos anos nossos problemas se equiparavam cada vez mais e perder bolsas infantis já não é era mais o nosso maior problema. E assim, a impressão que tenho é que à medida que os anos se vão nossas diferenças de idade já nem parecem tão díspares.


Quando Jacó menos percebeu seus filhos já eram homens que lutavam e se rebelavam enquanto tomavam suas próprias decisões. Ao ponto até de violarem uma de suas mulheres, como foi o caso de Rubem. Quando menos percebemos nossos filhos já estão sob o peso dos mesmos problemas que nos afligem... e percebemos que já não somos mais os mesmos.  Agora tocando projetos espirituais similares não éramos mais aquelas mesmas pessoas. E que ironia, quando ela estava implantando a igreja de Encarnação de Salinas eu estava na luta pela implantação da igreja de Novo Horizonte. E no momento que sua luta é terminar a igreja de Mutá eu estou na luta para terminar o projeto da Fazenda Garcia. É, parece que a cada dez anos sai uma pessoa e entra outra em nosso lugar. Por isso sinto que já não somos as mesmas daquele distante 1962. Na verdade a cada temporada de vivência sentimos que ao virar de cada página já não somos mais os mesmos... ou mesmas. Você sabe o que eu quero dizer.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

SEU GILBERTO NÃO CONHECE UMA BALEIA

Seu Gilberto não conhece uma baleia. Disse-me que nunca viu uma nem em fotografia. Prometi-lhe que da próxima vez que eu for em sua cidade vou levar-lhe fotografias de baleias. Ele pediu-me que fossem bem grandes. Expliquei-lhe que só não dá para ser em tamanho natural, claro.


Foi no percurso de quatro quilômetros da Pousada Ecológica até o centro de Andaraí, a pé para tirar as fotografias, que eu conheci seu Gilbertinho, como ele prefere ser chamado. Setenta e oito anos de pura simpatia e amabilidade. Desci alguns metros abaixo da ponte onde mais adiante ele lavava untesílios domésticos. Ajudou-me a me acomodar nas pedras. Lindas rochas rosadas que mais pareciam pintadas. Contou-me suas peripécias pela vida enquanto Júnior se deliciava na água gelada e cristalina. Um banho refrescante que a vontade era não sair mais de lá.  Foi aí que ele quis saber todos os detalhes do mamífero que para ele, até então, era um peixe. Deu trabalho para convencer seu Gilbertinho que ela até amamentava seus filhotes. Depois do banho relaxante subimos ladeira acima com Júnior levando o carrinho de mão do meu novo amigo enquanto nossa prosa continuava animada. E tome-lhe baleia. Não que eu seja expert no assunto, mas, em vista do que ele sabia..
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Na volta do passeio fiquei intrigada pelo quanto muitos tem que se debruçar extenuadamente horas e horas sobre textos e mais textos para colher material suficiente para poder tratar de assuntos complexos e, no entanto, ali, havia um homem simples que tão somente queria saber sobre  baleias. Nada de um estudo científico. Só o que ela fazia nessa terra.

A simplicidade pede passagem para que uma vida dedicada à intelectualidade caia por terra ao saber que existe no mundo alguém que a única coisa que exige de seu conhecimento é que você lhe explique como é, e o que faz, uma baleia.

E assim eu vou virando esta página pedindo ao Senhor que muito em breve eu possa desfrutar das coisas mais simples que a vida tem para oferecer. Inclusive os amigos! Inclusive saber mais sobre baleias!