quinta-feira, 26 de maio de 2016

A GRANDE RESPONSABILIDADE


Era o meu terceiro semestre na universidade. Em um dado dia um dos docentes resolveu comentar individualmente, em sala de aula, as notas de uma avaliação entregue há dias. Ao comentar minha nota retifiquei-lhe que eu havia alcançado a nota máxima, MS (Média Superior) conforme conceito adotado à época. Ela duvidou. Como eu morava próximo à faculdade fui correndo em casa pegar meu trabalho. Ao entregar-lhe ela olhou sem expressar nenhum sentimento de alívio. Resgatou minha nota lá registrada com perceptível desagrado.
Em Apocalipse 20:11 temos a seguinte revelação: E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.

Sim, um livro, um caderno, uma agenda, qualquer pedaço de papel, contanto que houvesse algum registro de minhas atividades e de outros alunos, era o que aquele docente deveria ter. Anotações reais para que minha nota não fosse atribuída ao acaso ou o pior, ao sabor do  fruto do sentimento que, na hora de  registrar a nota, o professor quisesse atribuir a um aluno. Não deveria ser assim. Mas todo mundo sabe que isso acontece.

Ainda bem que com Deus não é assim, por isso concordo com o apóstolo Paulo quando ele anseia pela justiça divina ao afirmar em II Timoteo4:8 que “desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda”.   


Vou seguir virando minhas páginas na plena certeza de que Ele conhece e desempenhará com total responsabilidade o grande julgamento que se fará por todos os que por aqui passaram. E não vai ser igual aquele professor que além de não ter tido o devido cuidado com o resultado da avaliação de um aluno, ainda lhe imputou um valor qualquer baseado em critérios tão preconceituosos quanto duvidosos.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

O MUNDO DO TAPINHA NAS COSTAS

Eis um trecho do último parágrafo da página 352, do livro A Nuvem, de Sebastião Nery, a respeito de uma avalanche de cassações de mandatos e direitos políticos que atingiram representantes da classe política de todo o país no ano de 1965:  

“Na manhã de 4 de julho, Seixas Dória, encontrou no aeroporto de Santos Dumont, no Rio, às 11 horas, uma roda de ex-companheiros dele na UDN  e no Congresso Nacional: Juracy Magalhães, Luis Viana Filho, João Calmon, outros. Todos vieram abraçá-lo. Luis Viana foi simpático:
- Seixas, você está sumido. Onde andava?
- Pensei que você soubesse Luís.
Luís Viana entendeu a ironia, calou. Juracy foi simpático:
- Seixas, estou com saudade de você. Nunca mais tive notícias. Onde é que anda?
            
Seixas foi para casa. No caminho, o rádio do carro dava a notícia da cassação de seu mandato e direitos políticos e de outros [...]. O ministro da Justiça era Luís Viana, até então chefe da Casa Civil, que assumira na véspera exatamente para encaminhar os últimos processos de cassação que o ex-ministro, Mem de Sá, se negara a assinar. [Já]  o ministro da Justiça era Juracy Magalhães que, quando ministro da Justiça, antes de Mem de Sá, preparara e apressara os processos de cassação.  Os dois haviam assinado o processo de cassação antes daquele encontro no aeroporto.
            
Segundo a matéria da revista Veja de 11 de maio de 2016, edição 2477, ano 49, nº 19, página 56, que versava ainda sobre a votação do impeachment de Dilma Rousseff, consta que  certa deputada foi ao Palácio da Alvorada, na véspera da votação e, conforme texto da própria revista, “havia emocionado a presidente ao visitá-la no Alvorada no dia anterior para reiterar sua solidariedade” mas, no dia seguinte a mesma parlamentar votou a favor da saída da presidente.                    
Opiniões contra ou a favor à parte, o que quero meditar aqui neste espaço é sobre a sincronia dos acontecimentos que envolvem as relações humanas desde que o mundo é mundo. Não importa o lugar; o seguimento e nem a classe social.  Sempre haverá pessoas abraçando-se e trocando tapinhas nas costas, mas, com os pensamentos bem longe dos propósitos dessas demonstrações de afago. Com suas passadas trôpegas a humanidade segue presa aos laços da aleivosidade que só pega de surpresa aqueles que pretendem, ingenuamente ou não, sorver até a última gota daquilo que lhes é oferecido na inescrupulosa taça da falsidade.                  
Antes de virarem suas páginas Pedro sorveu desta taça. Judas também... e como!


NO RESTAURANTE DA VIDA

O cliente chegou naquele restaurante simples e sem nenhum jeito de que teria algo de especial para servir. Mesmo assim arriscou:
− O senhor poderia me trazer o cardápio, por favor?
− Hoje só temos o prato do dia. – Recebeu como resposta do responsável pelo estabelecimento. Arriscou uma segunda pergunta:
− Do que consta “esse prato do dia”?
− Temos uma surpresa (sic) para nossos clientes. – Foi a segunda resposta.

Aquele cliente não estava preparado para surpresas do ramo gastronômico e achou mais prudente levantar-se da mesa e procurar outro local menos “surpreendente”.

Até hoje fico meditando nesse episódio. O que sempre me remete seguidamente para o pensamento de que também vivemos como se todos os dias tivéssemos que comparecer a um restaurante onde nos será apresentado um cardápio, no qual, não sabemos absolutamente do que consta. No restaurante da vida o prato do dia vem com alguns elementos de sabores que realmente podem nos trazer uma variedade de surpresas...  Todavia reconheçamos que muitos dos itens que ali serão servidos, em algum momento, foi proporcionado em razão de nossas escolhas.

Em um percurso de visitação minha acompanhante não resistiu quando chegou à casa de um grande amigo e foi direto visitar... as panelas. Saiu de lá em brava disputa com uma coxa de frango. Entrou no carro deliciando-se com a iguaria. Eu não disse nada. Mais adiante, na próxima visita, pediu a um morador da casa um medidor de pressão arterial emprestado. Com uma pressão de 16X12 ela obrigou a pessoa encarregada da aferição a repetir duas vezes o procedimento por discordar da eficácia do aparelho. De lá seguimos para mais duas visitações. Na última, ela, por também gozar de estreitos laços de amizade com a dona da casa, foi direto para a cozinha de onde saiu com um prato de arroz e carne retirada de um feijão preparado para pessoas de coração saudável. No retorno para o lar outro aparelho de aferição de pressão foi acionado pois ela já tomara um comprimido para interferir no resultado.


E aí vem a reflexão: No restaurante da vida o prato do dia pode ser semelhante ao prato daquele “restaurante” lá de cima. Cheio de surpresas, ou, surpresa nenhuma. Quem sabe?  Mas, comparando com as façanhas daquela senhora, bem que poderíamos ser mais prudentes em nossas atitudes para estarmos alertas e em constante oração para que sigamos virando nossas páginas diminuindo a oportunidade de encararmos surpresas indesejáveis.

domingo, 1 de maio de 2016

OS PAIS DE HOJE


Encontrei Vera* outro dia e quase não a reconheci. Seu andar era vagaroso e seu olhar distante. Conhecia-a em minha juventude, no Garcia, quando íamos para o Colégio Central onde cursamos o segundo grau. Fui a seu casamento. Simples e com uma recepção estritamente familiar. Eu era a única pessoa na casa que não era da família. Só um bolo, mas o casal irradiava felicidade. Tiveram dois filhos e melhoraram consideravelmente de vida. Puderam dar uma boa educação aos garotos na qual não faltou o auxílio de uma boa escola. Nos anos que  trabalhei no Colégio Adventista voltamos a nos reencontrar e reatar nossos laços de amizade. Tomei novos rumos e, novamente, vários anos se passaram sem nos vermos. Agora ela contava-me sobre os acontecimentos que transformara sua vida em um lago de decepção e tristeza. Ficara viúva e seus filhos, agora adultos, conseguiram persuadi-la a vender seu bom apartamento no centro da cidade para fixar residência em um bairro mais afastado. Alegaram ser “melhor” para ela. No caminho da compra do novo imóvel parte da quantia se foi em coisas supérfluas que ela nem soube enumerar. O mais novo estava morando com ela juntamente com mulher e filhos. Queixou-se de falta de privacidade para as mínimas tarefas de seu dia a dia.

Vamos a outro caso: Ana* tinha uma casa em uma cidade circunvizinha que não era um palácio mais tinha o conforto necessário para quem já passara por duras batalhas. Sua deficiência física não foi usada como pretexto para desistir de lutar pela vida e ela foi em busca de seus sonhos. Conseguiu tudo que quis mesmo sem a presença de seu companheiro que a abandonara com dez filhos, todos homens.  Ao tornarem-se adultos os mais velhos começaram a trazer suas digníssimas companheiras para dentro de casa. Um puxadinho aqui, outro ali, e, quando ela finalmente deu por si já estava com uma família numerosa que não lhe dava o mínimo sossego. Deixou a casa com eles e foi morar em uma casa alugada longe dali. Não adiantou. Após alguns anos viu-se novamente com a casa cheia porque  os últimos solteiros foram para a nova morada. Todos adultos e trabalhando, conforme ela queixou-se para mim, mas sem contribuir com nenhuma quantia.

Mas o que é que está acontecendo com os pais de hoje? Perderam o rumo, perderam o prumo, perderam tudo. Os filhos mandam e desmandam nos bens que eles tão penosamente amealham ao longo da vida. Conheço um que inclusive está passando por uma grande dificuldade financeira mesmo tendo inúmeros imóveis.  Acontece que ele não vende nenhum porque os filhos o proibiram de desfazer-se de qualquer coisa que eles tenham para herdar. E ele consome suas noites pensando em uma forma de sair da situação em que se encontra. Com a solução logo ali. Não é necessário que ele passe por isso, mas ele alega que não quer criar problemas com os filhos. Para mim, o nome disso é medo de filho!

Amo quando meus filhos se reúnem para rirem das loucuras que aprontavam e de minhas atitudes que muitos classificavam como excessivamente duras. Às vezes não riem, eu sei disso. Mas prefiro que eles reclamem hoje de minhas “durezas” do que das minhas fraquezas.  Dessas últimas, sim, afirmo sem medo de errar que, infelizmente, não posso voltar no tempo para consertar.

 Achei em um dos registros do filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella que muitos se preocupam tanto com o que vão deixar neste mundo para seus filhos, mas, que poucos se preocupam com o tipo de filhos que vão deixar para este mundo. Pensemos nisto antes de virarmos aquela página!