sexta-feira, 20 de maio de 2016

O MUNDO DO TAPINHA NAS COSTAS

Eis um trecho do último parágrafo da página 352, do livro A Nuvem, de Sebastião Nery, a respeito de uma avalanche de cassações de mandatos e direitos políticos que atingiram representantes da classe política de todo o país no ano de 1965:  

“Na manhã de 4 de julho, Seixas Dória, encontrou no aeroporto de Santos Dumont, no Rio, às 11 horas, uma roda de ex-companheiros dele na UDN  e no Congresso Nacional: Juracy Magalhães, Luis Viana Filho, João Calmon, outros. Todos vieram abraçá-lo. Luis Viana foi simpático:
- Seixas, você está sumido. Onde andava?
- Pensei que você soubesse Luís.
Luís Viana entendeu a ironia, calou. Juracy foi simpático:
- Seixas, estou com saudade de você. Nunca mais tive notícias. Onde é que anda?
            
Seixas foi para casa. No caminho, o rádio do carro dava a notícia da cassação de seu mandato e direitos políticos e de outros [...]. O ministro da Justiça era Luís Viana, até então chefe da Casa Civil, que assumira na véspera exatamente para encaminhar os últimos processos de cassação que o ex-ministro, Mem de Sá, se negara a assinar. [Já]  o ministro da Justiça era Juracy Magalhães que, quando ministro da Justiça, antes de Mem de Sá, preparara e apressara os processos de cassação.  Os dois haviam assinado o processo de cassação antes daquele encontro no aeroporto.
            
Segundo a matéria da revista Veja de 11 de maio de 2016, edição 2477, ano 49, nº 19, página 56, que versava ainda sobre a votação do impeachment de Dilma Rousseff, consta que  certa deputada foi ao Palácio da Alvorada, na véspera da votação e, conforme texto da própria revista, “havia emocionado a presidente ao visitá-la no Alvorada no dia anterior para reiterar sua solidariedade” mas, no dia seguinte a mesma parlamentar votou a favor da saída da presidente.                    
Opiniões contra ou a favor à parte, o que quero meditar aqui neste espaço é sobre a sincronia dos acontecimentos que envolvem as relações humanas desde que o mundo é mundo. Não importa o lugar; o seguimento e nem a classe social.  Sempre haverá pessoas abraçando-se e trocando tapinhas nas costas, mas, com os pensamentos bem longe dos propósitos dessas demonstrações de afago. Com suas passadas trôpegas a humanidade segue presa aos laços da aleivosidade que só pega de surpresa aqueles que pretendem, ingenuamente ou não, sorver até a última gota daquilo que lhes é oferecido na inescrupulosa taça da falsidade.                  
Antes de virarem suas páginas Pedro sorveu desta taça. Judas também... e como!


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