O
MUNDO DO TAPINHA NAS COSTAS
Eis um trecho
do último parágrafo da página 352, do livro A
Nuvem, de Sebastião Nery, a
respeito de uma avalanche de cassações de mandatos e direitos políticos que
atingiram representantes da classe política de todo o país no ano de 1965:
“Na manhã de 4 de julho, Seixas Dória, encontrou no aeroporto de
Santos Dumont, no Rio, às 11 horas, uma roda de ex-companheiros dele na
UDN e no Congresso Nacional: Juracy
Magalhães, Luis Viana Filho, João Calmon, outros. Todos vieram abraçá-lo. Luis
Viana foi simpático:
- Seixas, você está sumido. Onde andava?
- Pensei que você soubesse Luís.
Luís Viana entendeu a ironia, calou. Juracy foi simpático:
- Seixas, estou com saudade de você. Nunca
mais tive notícias. Onde é que anda?
Seixas foi para
casa. No caminho, o rádio do carro dava a notícia da cassação de seu mandato e
direitos políticos e de outros [...]. O ministro da Justiça era Luís Viana, até
então chefe da Casa Civil, que assumira na véspera exatamente para encaminhar
os últimos processos de cassação que o ex-ministro, Mem de Sá, se negara a
assinar. [Já] o ministro da Justiça era
Juracy Magalhães que, quando ministro da Justiça, antes de Mem de Sá, preparara
e apressara os processos de cassação. Os
dois haviam assinado o processo de cassação antes daquele encontro no
aeroporto.
Segundo a matéria da revista Veja de
11 de maio de 2016, edição 2477, ano 49, nº 19, página 56, que versava ainda sobre
a votação do impeachment de Dilma Rousseff, consta que certa deputada foi ao Palácio da Alvorada, na
véspera da votação e, conforme texto da própria revista, “havia emocionado a
presidente ao visitá-la no Alvorada no dia anterior para reiterar sua
solidariedade” mas, no dia seguinte a mesma parlamentar votou a favor da saída
da presidente.
Opiniões
contra ou a favor à parte, o que quero meditar aqui neste espaço é sobre a
sincronia dos acontecimentos que envolvem as relações humanas desde que o mundo
é mundo. Não importa o lugar; o seguimento e nem a classe social. Sempre haverá pessoas abraçando-se e trocando
tapinhas nas costas, mas, com os pensamentos bem longe dos propósitos dessas
demonstrações de afago. Com suas passadas trôpegas a humanidade segue presa aos
laços da aleivosidade que só pega de surpresa aqueles que pretendem,
ingenuamente ou não, sorver até a última gota daquilo que lhes é oferecido na
inescrupulosa taça da falsidade.
Antes
de virarem suas páginas Pedro sorveu desta taça. Judas também... e como!
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