OS PAIS DE
HOJE
Encontrei Vera*
outro dia e quase não a reconheci. Seu andar era vagaroso e seu olhar distante.
Conhecia-a em minha juventude, no Garcia, quando íamos para o Colégio Central
onde cursamos o segundo grau. Fui a seu casamento. Simples e com uma recepção
estritamente familiar. Eu era a única pessoa na casa que não era da família. Só
um bolo, mas o casal irradiava felicidade. Tiveram dois filhos e melhoraram
consideravelmente de vida. Puderam dar uma boa educação aos garotos na qual não
faltou o auxílio de uma boa escola. Nos anos que trabalhei no Colégio Adventista voltamos a
nos reencontrar e reatar nossos laços de amizade. Tomei novos rumos e,
novamente, vários anos se passaram sem nos vermos. Agora ela contava-me sobre
os acontecimentos que transformara sua vida em um lago de decepção e tristeza. Ficara
viúva e seus filhos, agora adultos, conseguiram persuadi-la a vender seu bom
apartamento no centro da cidade para fixar residência em um bairro mais
afastado. Alegaram ser “melhor” para ela. No caminho da compra do novo imóvel
parte da quantia se foi em coisas supérfluas que ela nem soube enumerar. O mais
novo estava morando com ela juntamente com mulher e filhos. Queixou-se de falta
de privacidade para as mínimas tarefas de seu dia a dia.
Vamos a
outro caso: Ana* tinha uma casa em uma cidade circunvizinha que não era um
palácio mais tinha o conforto necessário para quem já passara por duras
batalhas. Sua deficiência física não foi usada como pretexto para desistir de
lutar pela vida e ela foi em busca de seus sonhos. Conseguiu tudo que quis
mesmo sem a presença de seu companheiro que a abandonara com dez filhos, todos
homens. Ao tornarem-se adultos os mais
velhos começaram a trazer suas digníssimas companheiras para dentro de casa. Um
puxadinho aqui, outro ali, e, quando ela finalmente deu por si já estava com
uma família numerosa que não lhe dava o mínimo sossego. Deixou a casa com eles
e foi morar em uma casa alugada longe dali. Não adiantou. Após alguns anos
viu-se novamente com a casa cheia porque os últimos solteiros foram para a nova morada.
Todos adultos e trabalhando, conforme ela queixou-se para mim, mas sem contribuir
com nenhuma quantia.
Mas o que é
que está acontecendo com os pais de hoje? Perderam o rumo, perderam o prumo,
perderam tudo. Os filhos mandam e desmandam nos bens que eles tão penosamente
amealham ao longo da vida. Conheço um que inclusive está passando por uma
grande dificuldade financeira mesmo tendo inúmeros imóveis. Acontece que ele não vende nenhum porque os
filhos o proibiram de desfazer-se de qualquer coisa que eles tenham para
herdar. E ele consome suas noites pensando em uma forma de sair da situação em
que se encontra. Com a solução logo ali. Não é necessário que ele passe por
isso, mas ele alega que não quer criar problemas com os filhos. Para mim, o
nome disso é medo de filho!
Amo quando
meus filhos se reúnem para rirem das loucuras que aprontavam e de minhas
atitudes que muitos classificavam como excessivamente duras. Às vezes não riem,
eu sei disso. Mas prefiro que eles reclamem hoje de minhas “durezas” do que das
minhas fraquezas. Dessas últimas, sim, afirmo
sem medo de errar que, infelizmente, não posso voltar no tempo para consertar.
Achei em um dos registros do filósofo e escritor
Mário Sérgio Cortella que muitos se preocupam tanto com o que vão deixar neste
mundo para seus filhos, mas, que poucos se preocupam com o tipo de filhos que vão
deixar para este mundo. Pensemos nisto antes de virarmos aquela página!
Nenhum comentário:
Postar um comentário