COMO NA ALEGORIA
DE PLATÃO
A paisagem daqui é uma cidade,
que lindo! Essa frase de minha neta, em um dia em que me visitava pouco depois
de completar nove anos, me fez pensar em algo que não é novo: a maneira como vivemos
ao redor de coisas belas, sem nos darmos conta, por aquilo fazer parte de nosso
quotidiano. Da minha casa dá para ver o Vale do Canela, com vista para a
Faculdade de Direito, Educação e Administração da Universidade Federal da
Bahia. Tudo cercado por uma área arborizada com mangueiras e cajazeiras.
Pegávamos muitas frutas lá na infância. Mas vamos voltar à reflexão. Minha neta
me despertou o mesmo sentimento que tive a primeira vez que li a Alegoria da Caverna, de Platão. Naquela analogia descrevem-se um aglomerado de pessoas que teriam vivido
desde a infância, encarando uma parede vazia, incapazes de ver uns aos outros
ou, a si mesmos, e outros questionamentos de ordem perceptiva em relação ao
mundo a nossa volta. Temos lá a explicação de como uma destas pessoas, liberta
das correntes, pode ser capaz de começar a perceber que as sombras não
constituem a realidade em absoluto.
Trago isso porque é recorrente ouvir onde moro, vez por outra, alguém dizer que está ali a tal número de anos e não conhece ou, se
conhece, nunca foi, na casa da maioria dos moradores locais. Vivem sem conhecer
as belezas que estão concentradas na vida de cada morador. Tenho tido
oportunidade de visitar muitas dessas pessoas. Moro neste bairro, e mais
precisamente na mesma rua, em um total de quarenta anos. No que sobrou dos vinte
restantes eu nunca deixei passar uma semana inteira sem vir aqui, para visitar
a família. Conheço os novos, conheço os velhos, seja por contatos missionários,
seja pela militância na qual estou atualmente. Tenho me deparado com problemas
que, às vezes, os próprios familiares deles não sabem.
Assim como minha neta que só percebeu a beleza da paisagem depois
que cresceu em estatura humana, muitos de nós também precisamos crescer, mas
espiritualmente, para nos darmos conta
de tudo o mais que vai além dos nossos muros. Como na alegoria, enxergamos também como que
acorrentados. Só enxergamos sombras em forma de
imagens refletidas através de objetos por
trás de uma parede, em frente ao fogo. Assim fugimos da realidade para projetar
perigosamente em nossa mente um mundo fora da realidade, enganando a nós mesmos
e tentando fazer o mesmo com os que estão à nossa volta. Clamo a Deus que me
ajude a viver em um mundo real. Pés no chão! Fazer o que quero, mas com Ele
operando em mim esse querer, para que o operar seja da parte dEle também. (Filipenses 2:13).
Sinceramente não desejo, e sei que muitos vão me
achar ingênua, virar páginas, sem uma filosofia de vida forte e sem nenhum interesse que não seja apenas o de
ajudar e, nunca, mas nunca mesmo, o de manipular, a humanidade.
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