terça-feira, 16 de agosto de 2016

SOBRE A SUJEIÇÃO DAS MULHERES


Saibam porque  o título está em Bordoni MT Black. Tudo porque o assunto, para mim, é por demais assombroso; por demais tétrico; por demais angustiante: a sujeição das mulheres ao redor do mundo. Claro que jamais poderia exaurir aqui o tema ao qual me proponho a falar. Mesmo porque não sou socióloga nem defendi nenhum trabalho técnico na área. Mas, como mulher que já viveu situação de sujeição na infância e adolescência, convivendo em uma família onde, enquanto os homens mais novos dormiam até mais tarde nos finais de semana eu era quem ia para as feiras  e supermercados para carregar as cestas e caixas de papelão com compras na cabeça até em casa, me sinto com autoridade para trazer a questão para o centro do debate através deste texto. Primeiro porque não devo me calar diante de tudo que vivi. Segundo porque seria covardia da minha parte não trazê-lo à tona em um momento em que as notícias que me chegam nos mais diversos meios de comunicação dão conta do aumento da violência que se infringe contra a mulher. E isso, tanto em países com costumes milenares nessa prática, quanto em sociedades mais novas como a nossa. É a repetição do mal em suas diversas modalidades.

Muitos se aterrorizam quando se deparam com exemplos como os das mulheres chinesas. Estas eram produtos e propriedades de suas famílias, que, por um fetiche sexual masculino, tinham seus pés enfaixados para diminuí-los até ao ponto de deformá-los perpetuamente debaixo de um sofrimento físico exasperador. Tudo ditado por um sistema familiar onde mulheres iletradas e sem direito a bens eram conduzidas por este costumes a um casamento recompensador para a família, cujo bom preço da noiva estava atrelado a estes costumes. Hábito cultural que ceifou a vidas de 10 % das meninas na década de 1880*. Que se registre, no entanto, que hoje, muito embora muitos admitam com dificuldade a existência deste procedimento, sabe-se que ele persiste em alguns locais remotos.

E o que dizer dos outros males sociais destes e de outros tempos enfrentados por outras mulheres ao redor do mundo como as que são clitorectomizadas em várias culturas, tanto oriental como ocidental; das africanas que “aos poucos vão alongando o pescoço ao adicionar em torno deles anéis de metal”. Lembrei-me também das  mulheres da Era Vitoriana que esmagavam seus órgãos internos em seus espartilhos. E hoje... bem hoje ainda há outras tantas imposições  de costumes que clara ou veladamente são impostos sem que muitas de nós, sequer perceba.

Fiquemos atentas e em fervorosa oração porque, estamos aqui falando de mundo e de mulheres que viram páginas realizando as vontades atrozes dos “outros” sem nem ao menos apercebemo-nos de que, aqui também, estamos em algum momento a servir de instrumento para a materialização de desejos de mentes aviltadamente anômalas.



*FAIRBANK, John Merle Goldman. China – uma nova história.  Porto Alegre, RS: L&PM, 2006.


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