SOBRE
A SUJEIÇÃO DAS MULHERES
Saibam porque o título está em Bordoni MT Black. Tudo porque o assunto, para mim, é por
demais assombroso; por demais tétrico; por demais angustiante: a sujeição das
mulheres ao redor do mundo. Claro que jamais poderia exaurir aqui o tema ao
qual me proponho a falar. Mesmo porque não sou socióloga nem defendi nenhum
trabalho técnico na área. Mas, como mulher que já viveu situação de sujeição na
infância e adolescência, convivendo em uma família onde, enquanto os homens
mais novos dormiam até mais tarde nos finais de semana eu era quem ia para as feiras e supermercados para carregar as cestas e
caixas de papelão com compras na cabeça até em casa, me sinto com autoridade
para trazer a questão para o centro do debate através deste texto. Primeiro
porque não devo me calar diante de tudo que vivi. Segundo porque seria covardia
da minha parte não trazê-lo à tona em um momento em que as notícias que me
chegam nos mais diversos meios de comunicação dão conta do aumento da violência
que se infringe contra a mulher. E isso, tanto em países com costumes milenares
nessa prática, quanto em sociedades mais novas como a nossa. É a repetição do
mal em suas diversas modalidades.
Muitos se
aterrorizam quando se deparam com exemplos como os das mulheres chinesas. Estas
eram produtos e propriedades de suas famílias, que, por um fetiche sexual
masculino, tinham seus pés enfaixados para diminuí-los até ao ponto de
deformá-los perpetuamente debaixo de um sofrimento físico exasperador. Tudo
ditado por um sistema familiar onde mulheres iletradas e sem direito a bens eram
conduzidas por este costumes a um casamento recompensador para a família, cujo
bom preço da noiva estava atrelado a estes costumes. Hábito cultural que ceifou
a vidas de 10 % das meninas na década de 1880*. Que se registre, no entanto,
que hoje, muito embora muitos admitam com dificuldade a existência deste
procedimento, sabe-se que ele persiste em alguns locais remotos.
E o que dizer dos outros males sociais destes
e de outros tempos enfrentados por outras mulheres ao redor do mundo como as
que são clitorectomizadas em várias culturas, tanto oriental como ocidental;
das africanas que “aos poucos vão alongando o pescoço ao adicionar em torno
deles anéis de metal”. Lembrei-me também das mulheres da Era Vitoriana que esmagavam seus
órgãos internos em seus espartilhos. E hoje... bem hoje ainda há outras tantas
imposições de costumes que clara ou
veladamente são impostos sem que muitas de nós, sequer perceba.
Fiquemos atentas
e em fervorosa oração porque, estamos aqui falando de mundo e de mulheres que
viram páginas realizando as vontades atrozes dos “outros” sem nem ao menos apercebemo-nos de que, aqui também, estamos em algum momento a servir de
instrumento para a materialização de desejos de mentes aviltadamente anômalas.
*FAIRBANK, John Merle Goldman. China – uma
nova história. Porto Alegre, RS:
L&PM, 2006.

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