quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

AINDA RESTA ESPERANÇA


Os derrotistas de plantão anunciam para 2016 um ano de acontecimentos mais sombrios que os que acometeram este 2015 que agora entra em seu irreversível ocaso. No palco do mundo os atores já saem das cochias para realizarem o último ato de um espetáculo com requintes de crueldades exibidos nas últimas cenas.

Embalados por previsões macabras, em sua maioria orquestradas por pessoas especializadas na arte do contra, muitos vão dormir no dia 31 de dezembro com fantasmas rondando seu leito. Claro que no ocidente a grande maioria nem dorme nesse dia.  Adianto que eu estou fora dessa estatística. Concordo que não é o simples virar da paleta de um relógio que vai modificar os destinos da humanidade.

Sei que ao ler estas linhas muitos até poderão contemporizar a partir de Mateus 24:12: “E por se multiplicar a iniquidade o amor de muitos esfriará”. Também poderão completar o com II Timóteo 3: “Sabe, entretanto, disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens amarão a si mesmos, serão ainda mais gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desrespeitosos aos pais, ingratos, ímpios,...”.

Mas continuo na afirmação que isso não nos concede o direito de coadunar com previsões que colocam um Bicho Papão no calcanhar de cada habitante da terra. É óbvio que realmente o mundo não está um bom lugar de se viver. Mas aí vale a pergunta: e em algum tempo já esteve? Esteve na época de Cristo, quando Ele mesmo andando pelas cidades contemplou “as multidões e sentiu grande compaixão pelas pessoas, pois que estavam aflitas e desamparadas como ovelhas que não têm pastor”? Mateus 9:36. Esteve bom quando os cristãos foram atirados aos leões no início da era cristã? Esteve bom quando clérigos, cheios de “boas intenções”, dizimaram cristãos na inquisição? Esteve bom quando Napoleão quis dominar o mundo e tocou o terror pela Europa? Esteve bom quando Hitler dizimou mais de seis milhões de judeus e também tentava repetir a infrutífera façanha de Napoleão?  Esteve bom na Primeira e na Segunda Grande Guerra Mundial? Esteve bom na Guerra do Vietnã? E quanto “esteve bom” caberia aqui?

Ainda há uma esperança. Pregamos esta mensagem pelo mundo porque sabemos que Deus não dará ao homem autoridade e ousadia para destruir definitivamente aquilo que Ele fez. Por isso Ele mesmo conclama: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo
(João 16:33).


Ele venceu para que nós que aqui estamos, mesmo neste mundo caótico e desesperador, ainda tenhamos a mesma esperança de Jó quando bradou : “Porque eu sei que o meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos e não outro os contemplarão.” Isso sim é maravilhoso e digno de ser aguardado. E é com essa certeza de que haverá um término para todo o mal que já se abateu sobre este planeta é que eu os convido: Vamos todos juntos virar essa página! Com dois “ss” mesmo porque já vai longe. 


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

POSTO DE OBSERVAÇÃO

Era para ser um Natal diferente. Malas prontas e hospedagem já reservada em pousada para passarmos a data de forma inusitada. Iríamos eu, meu esposo e um dos meus filhos solteiros conhecer Mucujê, Andaraí e as adjacências com suas famosas paisagens com cachoeiras e todos os atrativos naturais da região. Estava planejado para sairmos às quatro da manhã do dia 24 para tomarmos a primeira refeição em alguma cidade pelo caminho e almoçarmos lá no destino. Fizemos tudo isso. Mesma saída e horários de refeições em locais diferentes como planejáramos. Só que o destino foi outro. Durante a noite minha mãe ligou avisando que meu padrasto tivera um leve acidente vascular cerebral (AVC) e se encontrava em uma emergência no hospital da ilha de Itaparica. Não havia alternativa. Nas primeiras horas da manhã pegamos o primeiro ferry boat e já fomos direto para o hospital.

Entre uma visita e outra só me restou, no dia de Natal, amanhecer admirando a natureza com sua orquestra sinfônica inigualável em volta do sítio onde mora o casal. Foi então que passei a admirar uma galinha em sua tarefa admirável de observar seus pintinhos. Ela estava amarrada em sua casinha, por um costume discutível, e de lá só lhe restava acompanhá-los com o olhar distante. Fez dali o seu posto de observação. Notei que dos oito pintinhos da ninhada uns dois ou três no máximo ciscavam no mesmo lugar. Já outro, solitário, não se juntava ao grupo por nada neste mundo. Os quatro restantes ora, se juntavam, ora se espalhavam e, a mãe, a os observar.

De seu posto de observação, atenta, mas imposilitada pelas circunstâncias impostas por forças superiores a sua de acompanhá-los para dirigir-lhes os passos, só lhe restava fazer de sua morada o seu posto de observação das vidas que ela havia colocado na terra, mas que já não eram mais delas. Depois de descrita a cena, também subi para a varanda superior e fiquei a observar a estrada à espera de dois dos meus filhos que ficaram de vir visitar o avô. Enquanto escrevo esse devocional, como aquela criatura à qual Jesus se comparou em Mateus 23:37, eu estou aqui tentando agasalhar nem que seja por alguns instantes os meus pintinhos...


Porque a vida de uma mãe é um eterno “posto de observação”.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Claro que não é numerologia. Pelo menos do ponto de vista das ciências místicas. Mas o é do ponto de vista da matemática. Preste atenção: naquela cidade, houve um ano em que um cargo público teve que cumprir a exigência de um pleito. Houve  um   único candidato para uma população eleitoral de mais ou menos 1.200 eleitores. Bastaria um voto e ele venceria. Mas ele quis por a prova a sua pretensa popularidade. Fez uma campanha de alta intensidade e aguardou o dia da votação. Menos de 10% do eleitorado compareceu às urnas. E agora, a dúvida! Não foram porque já sabiam o resultado e não quiseram gastar sapato, ou o candidato não era tão popular quanto se supunha?

Eu já contei em outro texto sobre uma votação para diretor de igreja, cujo antigo líder dizia-se imbuído de um sentimento de justiça que o impelia a não mais pleitear o cargo para que outros tivessem a oportunidade de desenvolver ou mostrar seus talentos como gestor. Esses novos escolhidos iriam compor a equipe que iria gerir o corpo administrativo do templo no ano seguinte. Falei também da surpresa que ocorreu no final da votação quando ele foi escolhido (votado) por unanimidade...

Napoleão quis enfrentar sua última batalha com um número inferior ao do exército oponente e se deu muito mal. As potências que já o haviam derrotado uniram-se e saíram-se vencedoras. Excesso de confiança própria, mais cedo ou mais tarde, derrota inglória. “Sem Mim, nada podeis fazer”. Disse Jesus em João 15:15. Pense nisso a cada virada de página. Com Ele é muito melhor!

Se tivéssemos em números as vitórias que Ele tem concedido em demandas em que não fica a menor dúvida de que só Ele poderia ter coroado a tal façanha com êxito, muitos mais O aceitariam como o Benfeitor que é. O problema é que depois, no filme da vitória, Ele não aparece nos créditos. Mas, conforme os casos acima mostrados, os números estão aí para confirmar que eles nunca mentem. A não ser quando forjados!


domingo, 20 de dezembro de 2015

PRIMEIRO DONA TEREZA

Era uma quente tarde de meados de dezembro. Eu estava em Simões Filho na porta de uma loja enquanto minha colega comprava alguns itens para ela. Sem paciência para perambular por prateleiras em época de festa, cujo Homenageado é o menos lembrado, fiquei sentada em uma barra de ferro de proteção rente à calçada da loja esperando-a.  Logo outra senhora aparentando ter mais idade que eu também sentou-se ao meu lado. Esperava o filho que fora comprar alguma coisa para ela. Imediatamente nos simpatizamos e começamos uma conversa gostosa. Aquela conversa simples de quem não está nem aí em fazer bonito pra ninguém. O assunto girou em torno de filhos e as festas de fim de ano que se aproximavam. Foi então que ela, em sua simplicidade, fez-me um relato que valeu para encerrar o ano com um bom motivo para meditar. Contou-me de seu antigo desejo de ter uma “chapa”. Para os que não têm o privilégio de ser baiano eu explico: chapa, aqui no caso, é dentadura.

Finalmente seu sonho acabara de ser realizado. Ela viera do dentista e agora exibia um largo sorriso. Tudo parecia que iria ficar nesse patamar da conversa simples e gostosa e, que para meu dia ser feliz, já era o suficiente. Mas aí veio o melhor da prosa quando ela confessou-me que ficara com pena do filho porque ele também estava “banguelo” (sem dentes). Todavia ele lhe dera prioridade por ter tido muitos percalços na vida e achou  que ela precisava mais do que ele de sorrir. Assim ajeitou o sorriso dela primeiro. O seu ficaria para depois. Daí em diante, pelo menos para mim, ali  já não houve mais prosa. Foi pura poesia. Notei então que sorrir era a sua marca registrada. Ela sorria um sorriso gostoso e sincero como há muito tempo eu não via. Não sabia quem eu era ou onde trabalhava. Não viu meu carro e eu estava vestida de maneira bem simples. Era um contato puro que se formava. Não precisei lhe dar um cartão e dela também, claro, não recebi nenhum.

 Quem sabe se algum dia eu ainda vou reencontrar dona Tereza? Só Deus sabe. Ela me disse que mora no Parque Continental dentro dessa cidade. Só sei que em meu coração, tanto por ela ter o mesmo nome de minha mãe, quanto pelo seu jeito simples e grato por seu filho ter colocado seus dentes primeiro, alegrei-me e lembrei-me também que na cronologia da vida deles os dentes dela também vieram primeiro que os dele. Que o que ele fizera era tão somente dar continuidade ao que a vida já lhe propusera no passado.


Primeiro dona Tereza. Aprenda e copie antes de virar cada página. Viu dona Isabel!?

sábado, 19 de dezembro de 2015

CHEGUE MAIS PERTO E VOCÊ VERÁ AS PANELAS
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Eu estava muito cansada, confesso! Cheguei do trabalho e, da sala, ao constatar o desempenho impecável que a diarista desempenhara no dia anterior, alegrei-me só de pensar que mais uma vez eu poderia ir para cama sem me preocupar com detalhes de afazeres domésticos. Mas, de repente, enxerguei algumas panelas na pia. Não entendi nada. Pensei: mas por que as panelas não foram lavadas? Fiquei chateada porque antes de sair para o trabalho eu havia advertido a todos na casa que quando eu chegasse não queria encontrar nada sujo na pia para eu lavar. Cada um deveria lavar seu prato e seu copo. Fizeram isso mas, como sempre, as panelas ficaram de lado. Como o cansaço falou mais forte, fui dormir. Zangada! Por um grande milagre, naquele dia eu consegui me calar. Nem acreditei. Eu não falei nada.

Vou repetir o trecho: Como o cansaço falou mais forte, fui dormir. Zangada! Por um grande milagre, naquele dia eu consegui me calar. Nem acreditei. Eu não falei nada! Ainda bem! Porque ao amanhecer, quando eu fui à cozinha e me aproximei da pia constatei que elas estavam igualmente à noite passada:  empilhadas sem ter sido tocadas. Também, que na hora em que eu chegara do trabalho elas já estavam lá do mesmo jeitinho. Lavadas...

Se eu tivesse chegado mais perto da pia naquela noite para certificar-me do real estado das panelas não precisaria virar a página daquele dia com a mente ocupada com bobagem. Pois é. Às vezes bastaria apenas que nós chegássemos mais perto dos acontecimentos para vermos o que de fato está acontecendo. Moisés fez isso. E por isso foi escolhido para mudar o curso da história de Israel.


Chegue mais perto e você verá as panelas.... lavadas!                                               
Chegue mais perto e você verá, o que tem pra ver!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

E ELE NÃO SE ESQUECEU DOS ÓCULOS...

A recepção estava impecável. Era o lançamento de um livro com figuras ilustrativas das obras do autor. Ele era um pintor. Artista de grande talento. E o que eu mais gostei foi que todos os seus quadros que adornavam o recinto eram azuis. Cor que me provoca sentimentos profundos de alegria e bem-estar. Como eu e meu esposo fomos os primeiros a chegar, ficamos sentados confortavelmente aguardando o começo do evento. Todos a postos, garçons servindo e o autor sentado para começar a autografar. Mas e os óculos? Corre daqui, corre dali, amigos a tentar emprestar os seus de uso pessoal. Nenhum servia.

Seis dias de preparação para receber a obra prima da criação. As águas deram lugar a uma porção seca para que esta recebesse um tapete verdejante onde animais de todas as espécies se encantariam com um mundo repleto de esplendor e beleza. No céu também um tapete, só que de estrelas. Nos mares animais portentosos para completar a coleção do zoológico Divino.  E no sexto dia, ele, o homem, feito à Sua imagem e semelhança. Tudo maravilhoso. E o mais importante, no dia da inauguração sua assinatura inapagável:
DEUS 

E Ele não se esqueceu dos óculos. Não precisava...
Arquivo pessoal

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

TODOS QUEREM UMA HISTÓRIA

Em 1985 fui ao Rio de Janeiro com minha mãe para realizar a façanha de desvendar minha história.  Por alguns dias tentei resgatar aquilo que me incomodava muito naquela época. Queria saber pelo menos de quem, na terra, eu viera. Já que depois daqui eu sei muito bem para onde eu vou. Não era uma mera curiosidade filosófica. Era biológica mesmo. Primeiro minha mãe tentou encontrar meu pai através de algum vestígio que ele por ventura tivesse deixado de sua passagem por Bom Sucesso. Nada. Depois de alguns dias e peripécias finalmente conseguimos encontrar a filha de uma de suas amigas dos idos de 1955 e 1956 que o vira fazia dois anos. Prometeu que na próxima vez que o encontrasse lhe daria a notícia que ele tinha uma filha e netos que moravam na Bahia.
Seis anos se passaram. Por essas voltas que o mundo dá, aqui em Salvador,  minha mãe, em uma fila sabe-se lá de que,  conheceu um carioca de passagem pela Bahia que afirmou ter visto uma reportagem na revista Manchete de fevereiro de 2001 (já estávamos em dezembro desse ano) acerca de assuntos relativos ao carnaval daquele ano em que meu pai estaria no entorno de uma das questões. Já consegui a revista e, lá, também, não encontrei nada...
Dois mil e quinze está findando. A cada ano conheço e faço novas e boas amizades. Muitas coisas novas, boas ou não,  acontecem e outras se renovam na minha vida. Ano vem, ano vai, e até hoje não consegui encontrar meu pai.
 Há alguns anos tive uma conversa não muito agradável com uma pessoa que insistia que sentia falta de uma história em sua vida. Queixava-se de um vazio que nunca seria preenchido por não ter sido criada em um lar biológico. Embora em seu lar não biológico tenha tido tudo o que a maioria das pessoas mais deseja ou sonha na vida. Nada lhe faltou. Quase que eu lhe perguntei se ela não queria trocar de história comigo. Sabe aquele filme “Brilho eterno de uma mente sem lembrança?”  É mais ou menos por aí. Se eu pudesse eu apagaria essa história feita de buscas sem achados e perguntas sem respostas das minhas lembranças. Mas não dá. Prosseguindo, ela me disse que todo mundo tem direito a uma história. Se pudesse trocar ou vender será que ela compraria ou trocaria a minha pela dela? Virar páginas vivendo a história que eu vivi e não sucumbir  á loucura e depressão, em meio tanto desprezo e rejeição, só mesmo para quem tem um  Deus muito forte e poderoso.

 Eu acredito em Deus! Acredito no Deus que diz em Hebreus 11:16 que Ele não sente vergonha de nós quando o chamamos de nosso Deus. Principalmente por poder chamá-lo de Pai. Por isso eu já parei com essa mania de “querer” uma história que não dá mais para construir. Prefiro viver as que meu Pai reservou para mim aí pela frente. Amo desafios! E como amo...

domingo, 13 de dezembro de 2015

NÃO DÁ PARA FAZER DE CONTA QUE NÃO TEM NADA ACONTECENDO

Ontem era dezembro... A sensação que eu tenho é que eu dormi em dezembro de 2014 e acordei em um dia seguinte do mês de dezembro desse mesmo ano, e não neste dezembro de 2015. É uma loucura o que está acontecendo neste mundo. Até os que se dizem desprovidos de fé, em qualquer uma de suas manifestações e formas, admitem que existe algo de bastante imperioso sobre os rumos da humanidade. Tanto pelos padrões alucinantes quanto pela agilidade dos acontecimentos. Lembro-me e, é claro que não com saudade, que um crime chocante tinha um espaço considerável de anos até o aparecimento de outro que, via de regra, recebia título de “crime da mala”, do isso e daquilo. Hoje você nem tem como dar conta de saber de todos os crimes de apenas um dia. Matar virou diversão.

Quando leio no livro de Daniel 12 que chegará um tempo em que a ciência se multiplicará e que haverá uma angústia qual nunca houve desde que houve nação até este determinado tempo, penso em como vivemos em uma era em que só aos troncos e barrancos é que conseguimos acompanhar os avanços tecnológicos de nossos dias.  E assim mesmo quando associado ao que nos é indispensável para desempenharmos nossas tarefas. Em quanto isso, nossa vida tem que ser planejada nos mínimos detalhes se quisermos dar conta de tudo que temos para cumprir. Do contrário corremos o risco de não alcançarmos quase nenhum dos nossos objetivos. É como se dizia outrora: enquanto descansamos, carregamos pedra.

Os ganhos, as perdas, tudo segue um ritmo incessante e nem nos damos conta das estações que, se alternam de tal forma, que em certos dias nem percebemos na qual realmente estamos. Para complicar ainda mais, tem os fenômenos da natureza que se aliam aos desastres ecológicos interferindo nas temperaturas para nos deixar ainda mais atônitos. E o que se vê são pessoas, grandes e pequenas, mudarem os rumos de seus planos constantemente por causa das intempéries que não pedem licença para lhes mudar os rumos de suas histórias e o virar de suas páginas.

“[...] próximo está o tempo; e ainda quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Apocalipse 22:11.

O que não dá é para continuar fazendo de conta que não tem nada acontecendo...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O TESOURO DE ANANIAS

Cresci, como muitos já sabem, em meio a muitos livros. Mas muitos livros mesmo! Os bibliófilos ficavam loucos quando tinham contato com as obras que meu primo Ananias tinha em sua coleção particular. Sem falar nos discos. Sua discoteca era repleta do que hoje é objeto de colecionador. A trilha sonora de Peter Gunn e outros vários clássicos das séries americanas de maior sucesso daqueles tempos fazia parte de sua coleção. Da MPB, tudo que hoje é raridade, era corriqueiro na época entre os seus pertences.

Quando hoje me deparo com artigos e documentários e reconheço todas aquelas obras musicais e literárias e me lembro de que já os li, e ouvi, em sua maioria, fico pensando no quanto daquele tesouro eu já tive em minhas mãos sem me dar conta de que um dia eles valeriam uma boa soma em dinheiro. Era um tesouro inestimável. Jamais pensaríamos que tudo aquilo teria tanto valor monetário algum dia. 

Bem, Ananias já se foi e seu tesouro deve estar por aí valorizando a coleção de quem os possui. Mas uma coisa eu posso ficar tranquila e me dá muita alegria. Da minha coleção atual eu possuo uma obra maravilhosa, insubstituível e de maior valor. Essa raridade é composta de sessenta e seis livros reunidos em um só caderno. Vocês já sabem do qual estou falando. Muitos a tem eternamente aberta em cima de móveis onde ela faz o papel de porta-poeira, ou de amuleto, dando ao seu possuidor um falso sentimento de segurança. Sem ter suas páginas viradas ela permanece inerte, às vezes, por anos a fio, como se fosse um sentinela desgastado e cansado, impedido de desempenhar o seu verdadeiro papel  na vida das pessoas que habitam aquele local.               
Vire essa página!


domingo, 6 de dezembro de 2015

A mais pura verdade                                                                         

É incrível a forma como os homens criam e usam suas leis para atender a seus próprios interesses. Há um episódio na História do Brasil que ilustra muito bem o que abordaremos aqui nesta reflexão.

Em 1940, Assis Chateaubriand1, grande empresário da radiodifusão e responsável direto pela chegada da televisão ao Brasil na década de 1950, teve uma filha fora do matrimônio. Nessa época isso era passível de reconhecimento legal. Getúlio Vargas, então presidente, instigado pelo empresário não lhe resistiu à pressão e assinou o Decreto-lei número 4.737, de 24 de setembro de 1942, que permitia o reconhecimento, depois do desquite, de filhos havidos fora do matrimônio.   Chateaubriand tratou logo de providenciar o desquite da primeira esposa e reconheceu a filha. Mas havia outro entrave, o imbróglio não acabava aí. Ainda tinha uma lei de 1940, que estabelecia que o pátrio poder somente pudesse ser exercido por quem primeiro reconheceu o filho. Esse entrave foi eliminado também pelo “amigo” de Chateaubriand que providenciou um novo Decreto, em 1943, estabelecendo que “o filho natural, enquanto menor, ficaria sob o poder do progenitor que o reconheceu e, se ambos o reconhecessem, sob o do pai, salvo se o juiz entendesse doutro modo, no interesse do menor”.

Assim se comportam os homens perante suas leis. Criam-nas e usam-nas ao seu bel prazer, manipulando-as e moldando-as às suas inclinações carnais.

Não são poucas as leis que são criadas para atender necessidades individuais, em detrimento das necessidades coletivas, com poucos tendo acesso aos seus benefícios para que virem com menos sofrimentos suas páginas. Nesse caso aproveitam para dizer que a lei “não pegou”. E depois ainda reclamam da Lei de Deus.

Com a Lei de Deus não existe “picula”, ou “pega-pega”, conforme queiram chamar. Essa é a Lei que até hoje, ninguém, jamais conseguiu provar o contrário no que ela é proclamada “como santa justa e boa” (Romanos 7:12). Essa é a mais pura verdade!




1 Livro “Tempos de Vargas”. Othon Jambeiro et ali.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

DEIXE SEU EGO ATRÁS DA PORTA

Em 1985, quarenta e cinco dos maiores representantes do  cenário artístico musical dos Estados Unidos reuniram-se para gravar a música We are the world. O objetivo principal era arrecadar fundos para uma causa humanitária em torno do combate à fome no continente africano. Nomes como Michael Jackson e Lionel Richie, autores da música, aliados às figuras de nomes como Ray Charles, Diana Ross, Stevie Wonder Tina Turner e outros alcançaram a venda de sete milhões de cópias só naquele país. Aquela iniciativa é considerada como a mais rentável neste tipo de empreendimento até hoje.

Fato curioso que aconteceu na época e que eu trago hoje para este espaço foi o que aconteceu durante as gravações. Ao ver tantas estrelas reunidas alguém teve a ideia brilhante de colocar um cabide atrás da porta do estúdio com um aviso muito interessante e bem peculiar, dado o perfil grandioso do projeto:

“ANTES DE ENTRAR, DEPENDURE AQUI O SEU EGO”.

Nos meios acadêmicos em que transito não é raro encontrar, aqui, e acolá, egos tão inflados que só de encostar corremos o risco de fazê-los explodir. Talvez por isso muitos tenham como comportamento peculiar evitar o contato com alguns, sem que haja real necessidade. Já ouvi a frase de um cientista que disse em alto e bom som que não havia entrado no meio científico para fazer amigos e sim, tão somente, ciência. Disse não pretender que seus contatos profissionais entrassem nas profundezas de laços que se enternecessem por não achá-los compatíveis com os objetivos da ciência.


Bem, como diria Belchior, “deixando a profundidade de lado eu quero é ficar colada” ao coração de meus colegas e amigos, se possível, noite e dia. Seja pelos laços da amizade; seja pelos laços da ciência porque eu vivo minhas ideias, minhas lutas e minhas conquistas ao lado de Cristo e, portanto, conforme diz a Palavra, “porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos”. E no mais, meu amigo e minha amiga, porque Deus é amor. E em nome desse Amor eu lhe suplico: já que tudo é  volátil e extremamente passageiro, a medida que o Supremo for lhe concedendo suas vitórias, pode virar sem medos essas suas páginas. Vá receber  os (seus) louros da vitória aos quais você tem direito. Mas por favor, quando for, antes, deixe o seu ego atrás da porta! Mesmo porque,  na hora do “vamos ver”, ele não te servirá para nada.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A COR DA NOSSA PELE
Em 1980, uma jovem mãe passeia pelo parque de diversão de um clube com seu filho de poucos meses adormecido em um carrinho de bebê. De repente, entra em cena um personagem que iria se perpetuar na memória daquela jovem senhora. Um homem aproxima-se dela e... Vamos transcrever o diálogo em discurso direto para que se possa sentir a profundidade da ocorrência desse fato:                                                              
  - Esse bebê é seu? - Pergunta o desconhecido (pelo menos para aquela senhora). E ela responde:                                                                                                                        
- Sim, é meu. - Então ele responde na maior falta de sensatez:                                        
- Pena que não seja nosso!                                                                                                
Aturdida com o desrespeito, a jovem senhora desloca-se para outro local na tentativa de sair do raio de visão daquele sujeito tão inoportuno. Mas ele não se dá por satisfeito e segue-a para a sua última abordagem, soltando o convite insólito:                                                  
- Só depende de você...                                                                                                 
Todavia, essa sua última investida não passou despercebida por um amigo da família que de longe já acompanhava os acontecimentos e, suspeitando do que se tratava, avisou ao marido daquela senhora.  A direção do clube tomou a tal das “providências cabíveis ao caso” para tentar aliviar meu infortúnio. Sim, foi comigo. Sim, ele alegou no documento gerado internamente para averiguação dos fatos que pensou que eu era uma babá fazendo-se passar por “madame”. O que agravou ainda mais sua conduta pela duplicidade em seu desrespeito: cor e profissão no mesmo contexto. O que foi registrado também no documento. Tenha um pouco mais de paciência comigo e me permita um último sim, o equívoco, segundo ele, foi provocado pela cor da minha pele. E até hoje nós, homens e mulheres, mesmo depois de cento e vinte sete anos de “abolição” ainda somos desrespeitados por causa da cor da nossa pele.

Alguns podem até dizer que demorou, mas chegou.  Outros, que embora ainda não esteja como um dia sonhamos, já foi percorrido um bom caminho desde que nossos antepassados se foram sem poder desfrutar das benesses da vida política e social por causa da cor da nossa pele. Tudo bem,  é verdade que já não sou mais obrigada a subir pelo elevador de serviço como me constrangeram a fazê-lo quando fui prestar serviço de reforço escolar em um determinado prédio no Campo Grande. Durante todo o ano de 1975 só me foi autorizado subir um dia pelo elevador social porque o de serviço estava quebrado.  É, mas quando passo com meu carro e ainda percebo nítidos olhares de sarcasmo como no tempo em que ouvíamos ao passar na rua com algum objeto de valor alguém dizer: “olha pra ali, dente de ouro em boca de cachorro”, ah, isso dói!   Dói muito esse racismo encapuzado na lei, ao qual chamam de velado. Então eu não digo que tudo bem e, sim, que tudo mal! Mal mesmo!                                                 

Meu consolo permanente é que temos um Deus que tem prazer em intervir na vida daqueles que o mundo chama de fracos e loucos, em pessoas que confundem a cabeça daqueles que se acham sábios e fortes (I Coríntios 1:27).

E assim nós vamos virando nossas páginas. Independentemente de existirem pessoas que gostam, ou não, da cor da nossa pele. Meu Deus ama desconsertá-los!