quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A COR DA NOSSA PELE
Em 1980, uma jovem mãe passeia pelo parque de diversão de um clube com seu filho de poucos meses adormecido em um carrinho de bebê. De repente, entra em cena um personagem que iria se perpetuar na memória daquela jovem senhora. Um homem aproxima-se dela e... Vamos transcrever o diálogo em discurso direto para que se possa sentir a profundidade da ocorrência desse fato:                                                              
  - Esse bebê é seu? - Pergunta o desconhecido (pelo menos para aquela senhora). E ela responde:                                                                                                                        
- Sim, é meu. - Então ele responde na maior falta de sensatez:                                        
- Pena que não seja nosso!                                                                                                
Aturdida com o desrespeito, a jovem senhora desloca-se para outro local na tentativa de sair do raio de visão daquele sujeito tão inoportuno. Mas ele não se dá por satisfeito e segue-a para a sua última abordagem, soltando o convite insólito:                                                  
- Só depende de você...                                                                                                 
Todavia, essa sua última investida não passou despercebida por um amigo da família que de longe já acompanhava os acontecimentos e, suspeitando do que se tratava, avisou ao marido daquela senhora.  A direção do clube tomou a tal das “providências cabíveis ao caso” para tentar aliviar meu infortúnio. Sim, foi comigo. Sim, ele alegou no documento gerado internamente para averiguação dos fatos que pensou que eu era uma babá fazendo-se passar por “madame”. O que agravou ainda mais sua conduta pela duplicidade em seu desrespeito: cor e profissão no mesmo contexto. O que foi registrado também no documento. Tenha um pouco mais de paciência comigo e me permita um último sim, o equívoco, segundo ele, foi provocado pela cor da minha pele. E até hoje nós, homens e mulheres, mesmo depois de cento e vinte sete anos de “abolição” ainda somos desrespeitados por causa da cor da nossa pele.

Alguns podem até dizer que demorou, mas chegou.  Outros, que embora ainda não esteja como um dia sonhamos, já foi percorrido um bom caminho desde que nossos antepassados se foram sem poder desfrutar das benesses da vida política e social por causa da cor da nossa pele. Tudo bem,  é verdade que já não sou mais obrigada a subir pelo elevador de serviço como me constrangeram a fazê-lo quando fui prestar serviço de reforço escolar em um determinado prédio no Campo Grande. Durante todo o ano de 1975 só me foi autorizado subir um dia pelo elevador social porque o de serviço estava quebrado.  É, mas quando passo com meu carro e ainda percebo nítidos olhares de sarcasmo como no tempo em que ouvíamos ao passar na rua com algum objeto de valor alguém dizer: “olha pra ali, dente de ouro em boca de cachorro”, ah, isso dói!   Dói muito esse racismo encapuzado na lei, ao qual chamam de velado. Então eu não digo que tudo bem e, sim, que tudo mal! Mal mesmo!                                                 

Meu consolo permanente é que temos um Deus que tem prazer em intervir na vida daqueles que o mundo chama de fracos e loucos, em pessoas que confundem a cabeça daqueles que se acham sábios e fortes (I Coríntios 1:27).

E assim nós vamos virando nossas páginas. Independentemente de existirem pessoas que gostam, ou não, da cor da nossa pele. Meu Deus ama desconsertá-los!

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