POSTO DE OBSERVAÇÃO
Era
para ser um Natal diferente. Malas prontas e hospedagem já reservada em pousada
para passarmos a data de forma inusitada. Iríamos eu, meu esposo e um dos meus
filhos solteiros conhecer Mucujê, Andaraí e as adjacências com suas famosas
paisagens com cachoeiras e todos os atrativos naturais da região. Estava
planejado para sairmos às quatro da manhã do dia 24 para tomarmos a primeira
refeição em alguma cidade pelo caminho e almoçarmos lá no destino. Fizemos tudo
isso. Mesma saída e horários de refeições em locais diferentes como
planejáramos. Só que o destino foi outro. Durante a noite minha mãe ligou avisando
que meu padrasto tivera um leve acidente vascular cerebral (AVC) e se encontrava
em uma emergência no hospital da ilha de Itaparica. Não havia alternativa. Nas
primeiras horas da manhã pegamos o primeiro ferry boat e já fomos direto para o
hospital.
Entre uma visita e outra só me restou, no dia
de Natal, amanhecer admirando a natureza com sua orquestra sinfônica
inigualável em volta do sítio onde mora o casal. Foi então que passei a admirar
uma galinha em sua tarefa admirável de observar seus pintinhos. Ela estava
amarrada em sua casinha, por um costume discutível, e de lá só lhe restava
acompanhá-los com o olhar distante. Fez dali o seu posto de observação. Notei
que dos oito pintinhos da ninhada uns dois ou três no máximo ciscavam no mesmo
lugar. Já outro, solitário, não se juntava ao grupo por nada neste mundo. Os
quatro restantes ora, se juntavam, ora se espalhavam e, a mãe, a os observar.
De seu posto de observação, atenta, mas
imposilitada pelas circunstâncias impostas por forças superiores a sua de acompanhá-los
para dirigir-lhes os passos, só lhe restava fazer de sua morada o seu posto de
observação das vidas que ela havia colocado na terra, mas que já não eram mais
delas. Depois de descrita a cena, também subi para a varanda superior e fiquei
a observar a estrada à espera de dois dos meus filhos que ficaram de vir
visitar o avô. Enquanto escrevo esse devocional, como aquela criatura à qual
Jesus se comparou em Mateus 23:37, eu estou aqui tentando agasalhar nem que
seja por alguns instantes os meus pintinhos...
Porque
a vida de uma mãe é um eterno “posto de observação”.
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