quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

POSTO DE OBSERVAÇÃO

Era para ser um Natal diferente. Malas prontas e hospedagem já reservada em pousada para passarmos a data de forma inusitada. Iríamos eu, meu esposo e um dos meus filhos solteiros conhecer Mucujê, Andaraí e as adjacências com suas famosas paisagens com cachoeiras e todos os atrativos naturais da região. Estava planejado para sairmos às quatro da manhã do dia 24 para tomarmos a primeira refeição em alguma cidade pelo caminho e almoçarmos lá no destino. Fizemos tudo isso. Mesma saída e horários de refeições em locais diferentes como planejáramos. Só que o destino foi outro. Durante a noite minha mãe ligou avisando que meu padrasto tivera um leve acidente vascular cerebral (AVC) e se encontrava em uma emergência no hospital da ilha de Itaparica. Não havia alternativa. Nas primeiras horas da manhã pegamos o primeiro ferry boat e já fomos direto para o hospital.

Entre uma visita e outra só me restou, no dia de Natal, amanhecer admirando a natureza com sua orquestra sinfônica inigualável em volta do sítio onde mora o casal. Foi então que passei a admirar uma galinha em sua tarefa admirável de observar seus pintinhos. Ela estava amarrada em sua casinha, por um costume discutível, e de lá só lhe restava acompanhá-los com o olhar distante. Fez dali o seu posto de observação. Notei que dos oito pintinhos da ninhada uns dois ou três no máximo ciscavam no mesmo lugar. Já outro, solitário, não se juntava ao grupo por nada neste mundo. Os quatro restantes ora, se juntavam, ora se espalhavam e, a mãe, a os observar.

De seu posto de observação, atenta, mas imposilitada pelas circunstâncias impostas por forças superiores a sua de acompanhá-los para dirigir-lhes os passos, só lhe restava fazer de sua morada o seu posto de observação das vidas que ela havia colocado na terra, mas que já não eram mais delas. Depois de descrita a cena, também subi para a varanda superior e fiquei a observar a estrada à espera de dois dos meus filhos que ficaram de vir visitar o avô. Enquanto escrevo esse devocional, como aquela criatura à qual Jesus se comparou em Mateus 23:37, eu estou aqui tentando agasalhar nem que seja por alguns instantes os meus pintinhos...


Porque a vida de uma mãe é um eterno “posto de observação”.


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