domingo, 20 de dezembro de 2015

PRIMEIRO DONA TEREZA

Era uma quente tarde de meados de dezembro. Eu estava em Simões Filho na porta de uma loja enquanto minha colega comprava alguns itens para ela. Sem paciência para perambular por prateleiras em época de festa, cujo Homenageado é o menos lembrado, fiquei sentada em uma barra de ferro de proteção rente à calçada da loja esperando-a.  Logo outra senhora aparentando ter mais idade que eu também sentou-se ao meu lado. Esperava o filho que fora comprar alguma coisa para ela. Imediatamente nos simpatizamos e começamos uma conversa gostosa. Aquela conversa simples de quem não está nem aí em fazer bonito pra ninguém. O assunto girou em torno de filhos e as festas de fim de ano que se aproximavam. Foi então que ela, em sua simplicidade, fez-me um relato que valeu para encerrar o ano com um bom motivo para meditar. Contou-me de seu antigo desejo de ter uma “chapa”. Para os que não têm o privilégio de ser baiano eu explico: chapa, aqui no caso, é dentadura.

Finalmente seu sonho acabara de ser realizado. Ela viera do dentista e agora exibia um largo sorriso. Tudo parecia que iria ficar nesse patamar da conversa simples e gostosa e, que para meu dia ser feliz, já era o suficiente. Mas aí veio o melhor da prosa quando ela confessou-me que ficara com pena do filho porque ele também estava “banguelo” (sem dentes). Todavia ele lhe dera prioridade por ter tido muitos percalços na vida e achou  que ela precisava mais do que ele de sorrir. Assim ajeitou o sorriso dela primeiro. O seu ficaria para depois. Daí em diante, pelo menos para mim, ali  já não houve mais prosa. Foi pura poesia. Notei então que sorrir era a sua marca registrada. Ela sorria um sorriso gostoso e sincero como há muito tempo eu não via. Não sabia quem eu era ou onde trabalhava. Não viu meu carro e eu estava vestida de maneira bem simples. Era um contato puro que se formava. Não precisei lhe dar um cartão e dela também, claro, não recebi nenhum.

 Quem sabe se algum dia eu ainda vou reencontrar dona Tereza? Só Deus sabe. Ela me disse que mora no Parque Continental dentro dessa cidade. Só sei que em meu coração, tanto por ela ter o mesmo nome de minha mãe, quanto pelo seu jeito simples e grato por seu filho ter colocado seus dentes primeiro, alegrei-me e lembrei-me também que na cronologia da vida deles os dentes dela também vieram primeiro que os dele. Que o que ele fizera era tão somente dar continuidade ao que a vida já lhe propusera no passado.


Primeiro dona Tereza. Aprenda e copie antes de virar cada página. Viu dona Isabel!?

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