PRIMEIRO
DONA TEREZA
Era
uma quente tarde de meados de dezembro. Eu estava em Simões Filho na porta de
uma loja enquanto minha colega comprava alguns itens para ela. Sem paciência
para perambular por prateleiras em época de festa, cujo Homenageado é o menos
lembrado, fiquei sentada em uma barra de ferro de proteção rente à calçada da
loja esperando-a. Logo outra senhora
aparentando ter mais idade que eu também sentou-se ao meu lado. Esperava o
filho que fora comprar alguma coisa para ela. Imediatamente nos simpatizamos e
começamos uma conversa gostosa. Aquela conversa simples de quem não está nem aí
em fazer bonito pra ninguém. O assunto girou em torno de filhos e as festas de
fim de ano que se aproximavam. Foi então que ela, em sua simplicidade, fez-me um
relato que valeu para encerrar o ano com um bom motivo para meditar. Contou-me
de seu antigo desejo de ter uma “chapa”. Para os que não têm o privilégio de
ser baiano eu explico: chapa, aqui no caso, é dentadura.
Finalmente
seu sonho acabara de ser realizado. Ela viera do dentista e agora exibia um
largo sorriso. Tudo parecia que iria ficar nesse patamar da conversa simples e
gostosa e, que para meu dia ser feliz, já era o suficiente. Mas aí veio o
melhor da prosa quando ela confessou-me que ficara com pena do filho porque ele
também estava “banguelo” (sem dentes). Todavia ele lhe dera prioridade por ter
tido muitos percalços na vida e achou que ela precisava mais do que ele de sorrir. Assim
ajeitou o sorriso dela primeiro. O seu ficaria para depois. Daí em diante, pelo
menos para mim, ali já não houve mais
prosa. Foi pura poesia. Notei então que sorrir era a sua marca registrada. Ela
sorria um sorriso gostoso e sincero como há muito tempo eu não via. Não sabia
quem eu era ou onde trabalhava. Não viu meu carro e eu estava vestida de
maneira bem simples. Era um contato puro que se formava. Não precisei lhe dar
um cartão e dela também, claro, não recebi nenhum.
Quem sabe se algum dia eu ainda vou reencontrar
dona Tereza? Só Deus sabe. Ela me disse que mora no Parque Continental dentro
dessa cidade. Só sei que em meu coração, tanto por ela ter o mesmo nome de
minha mãe, quanto pelo seu jeito simples e grato por seu filho ter colocado
seus dentes primeiro, alegrei-me e lembrei-me também que na cronologia da vida
deles os dentes dela também vieram primeiro que os dele. Que o que ele fizera
era tão somente dar continuidade ao que a vida já lhe propusera no passado.
Primeiro
dona Tereza. Aprenda e copie antes de virar cada página. Viu dona Isabel!?
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