DE ONDE SERÁ
QUE VEM O RACISMO?
A conversa
não me agradava nem um pouco. A amiga queria saber de seu interlocutor como
ficara o cabelo de seus filhos depois que cresceram. E o diálogo seguiu nesse ritmo:
- O cabelo do mais velho puxou um pouco
parecido com o meu - respondeu o amigo.
- Ah, enrolado - argumentou a amiga.
- Não, o meu só enrola quando eu levo muito
tempo sem pentear (sic).
- E ficou como então? - insistiu a amiga.
Então a fala
que deu continuidade ao diálogo é digno de um tratado etnográfico:
- Bem, o do
mais velho é um pouco mais liso que o meu. Já o do mais novo é assim... deixa
eu ver como posso comparar. Ah, é assim um pouco melhor que o meu e o do irmão
porque puxou mais pro lado da mãe. Ainda bem. Pulamos a fogueira porque se o
mais novo fosse menina ia ter que criar e já pensou no trabalho que ia dar?
Imagine que são meninos e quando o cabelo cresce mais um pouquinho já é aquele
sufoco.
E ainda
perguntam de onde vem o racismo. As pessoas nem se dão conta de seus
comentários abomináveis. Geram nos filhos esses sentimentos de não
pertencimento à raça e depois não
aceitam quando chegam queixas de seus comportamentos anti raciais. Validam no
interior de seus lares procedimentos racistas e quando esses afloram nas
condutas no meio exterior ainda têm a coragem de dizer como muitas vezes já vi
nas escolas por onde passei: “Não sei onde ele (ou ela) aprendeu isso porque lá
em nós não adotamos e nem aceitamos esse tipo de coisa.” E mais ridículo ainda
fica quando junto com as desculpas estapafúrdias ainda tentam reforçar o
argumento sempre apontando para o fato de que tem um grande amigo negro ao qual,
também sempre alegam ser o mais “querido” da família. Isso é velho!
Em Cantares
de Salomão Sulamita pediu desculpas ao amado por sua pele está escurecida pelo
sol. Avisa-o de que a cor de sua pele era fruto de um castigo. Em Números 12, Miriã
reclamou com Moisés por ter desposado
uma mulher “cuxita” que, segundo alguns teólogos, tratava-se de uma mulher de
cor. Só quem faz parte dessa parcela da sociedade é quem sabe o que passa para
virar suas páginas com dignidade. Realmente, isso é muito velho!
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