O MEDO
DE CADA UM
Minha
colega de quarto desceu para comprar algumas lembranças com uma vendedora
ambulante instalada próximo ao local onde estávamos hospedadas. Não demorou
muito e ela retornou com o semblante temeroso. Ela estava muito espantada. Meu
cérebro ligou o sinal de alerta e, temi por antecipação, na expectativa do que
ela iria me contar sobre o que aconteceu no trajeto para ela voltar tão rápido.
E ela sussurrou quase sem voz com aquele lindo sotaque maranhense:
- “Bel,
tu não imaginas o que aconteceu por lá!” -
Respirei e aguardei o relato.
-“O
tabuleiro da vendedora, Bel! Tu precisavas ver. Tudo tremendo!”
- Tremendo
como criatura? - Quis saber com mais
detalhes.
Então
ela me explicou que, enquanto escolhia algumas bijuterias para suas irmãs, os
produtos do tabuleiro corriam para lá e para cá sem que a dona dos artefatos se
importasse de tão acostumada que estava com aquele fenômeno.
Sim,
estávamos em Valparaíso, cidade situada a 115 quilômetros de Santiago, a capital
do Chile. Há poucos dias, quinze, para ser mais precisa, houvera um terremoto e a cidade ainda estava sob alerta
de tsunami. Minha amiga ficou intrigada com a naturalidade com que os moradores
lidam com essas calamidades. Para eles a iminência de um desastre dessa
natureza já faz parte do cotidiano e eles convivem normalmente com isso. Ela me
disse que jamais se acostumaria com aquilo. Mas eu lhe lembrei. Conosco não é
diferente. Em nosso país acordamos todos os dias certos de que, ao final de
cada um deles, tragédias serão noticiadas nas quais, famílias terminarão esses
dias enlutadas ou, no mínimo, angustiadas por dramas causados por todo tipo de
violência. Imagine que muitos vivem em locais em que, ao entrar na rua em que moram, tem que fazer uma
“varredura” antes de se aproximar de suas residências. E depois que chegam ainda
tem que está com as chaves em punho e entrar correndo em casa como se
estivessem passando por uma zona de guerra.
Isso
não é vida! Mas, como aquela mulher que
convive tão naturalmente sob os tremores lá no Chile, vamos vivendo aqui com nossos
flagelos sociais onde muitos já aceitam como se isso fosse a coisa mais natural
do mundo. Sonho com o dia em que vamos virar essa página, ou seja, quando
estivermos em nossa morada que Cristo foi nos preparar. Por que aqui, meu,
amigo, cada tem que sobreviver convivendo com seus medos. Ainda bem que temos
ao nosso dispor o consolo de termos um Deus que nos ampara.
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