quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A MORADA DO ÓDIO


Em novembro de 2006 Mike Tyson recebeu o título mundial de campeão dos pesos pesados. Em junho de 1997 ele voltou a disputar o título.  Seu adversário era o mesmo que ele havia derrotado no ano anterior, Evander Holyfield. Era uma revanche. No auge da luta, por temer que o título lhe escapasse e não atingisse uma nova vitória sobre o adversário, Tyson desferiu-lhe uma mordida na orelha arrancando-lhe um pedaço. Holyfield já teve a orelha reconstituída por uma cirurgia plástica que a deixou quase perfeita. Mas em suas entrevistas deixa sempre aflorar todo o ódio que aquele incidente deixou plantado em sua mente.

Jacó teve medo de Esaú (Gênesis 33:1). Quando retornou de Padã-Arã,  avistando-o de longe,  percebeu que este vinha acompanhado de quatrocentos homens.  Usou de estratégia para ver qual era a intenção de seu irmão. E se o ódio despertado no passado ainda não tivesse amainado? Por via das dúvidas repartiu os filhos entre Lia e Raquel e as duas servas. Passou adiante. Inclino-se à terra sete vezes. Finalmente encarou o irmão. Frente a frente agora. Era tudo ou nada. “Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram”.

Infelizmente nem todas as mágoas e ressentimentos são resolvidos desta forma maravilhosa. De orelha arrancada à dentada, às mortes e outras variadas formas de atitudes atrozes a humanidade vai destilando o veneno do ódio pelas páginas da história. O mundo se transformou na morada do ódio. “Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu até vós, e tem grande ira[...]” (Apocalipse 12:12). E este ódio tem se multiplicado como semente de erva daninha na terra dos seres viventes. E o que se ganha com isso? Doenças, tristezas, discórdias, desuniões. Famílias e amizades despedaçadas por causa de um sentimento que não leva a nada. Que faz mais mal a quem sente do que a quem é endereçado.


Quando jovem, conheci uma senhora que juntou todas as suas economias para montar uma pequena loja de sapatos. Com toda sua energia ela se dedicava a este pequeno comércio dizendo que iria provar a seu ex-marido que ficaria acima dele financeiramente. Vingar-se do abandono que sofrera era o mote de seus pensamentos. Em cada compra que fazia para sua loja ela já antevia os lucros que iriam levá-la à desforra. Mas o empreendimento não deu certo e ela já se foi deste mundo. Morreu sem ver seu ódio produzir efeito. Nem poderia, pois o ódio não leva a nada. Só serve para estagnar a vida de quem a ele se dedica colando páginas como em alguns livros que precisam ter algumas folhas rasgadas para que não haja interrupção da leitura. Vire essa página.

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