A
MORADA DO ÓDIO
Em novembro de 2006 Mike Tyson recebeu o título mundial de campeão dos
pesos pesados. Em junho de 1997 ele voltou a disputar o título. Seu adversário era o mesmo que ele havia
derrotado no ano anterior, Evander Holyfield. Era uma revanche. No auge da luta,
por temer que o título lhe escapasse e não atingisse uma nova vitória sobre o
adversário, Tyson desferiu-lhe uma mordida na orelha arrancando-lhe um pedaço.
Holyfield já teve a orelha reconstituída por uma cirurgia plástica que a deixou
quase perfeita. Mas em suas entrevistas deixa sempre aflorar todo o ódio que
aquele incidente deixou plantado em sua mente.
Jacó teve medo de Esaú (Gênesis 33:1). Quando retornou de
Padã-Arã, avistando-o de longe, percebeu que este vinha acompanhado de
quatrocentos homens. Usou de estratégia
para ver qual era a intenção de seu irmão. E se o ódio despertado no passado
ainda não tivesse amainado? Por via das dúvidas repartiu os filhos entre Lia e
Raquel e as duas servas. Passou adiante. Inclino-se à terra sete vezes. Finalmente
encarou o irmão. Frente a frente agora. Era tudo ou nada. “Então Esaú
correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e
beijou-o; e choraram”.
Infelizmente nem todas as mágoas e ressentimentos são resolvidos desta forma
maravilhosa. De orelha arrancada à dentada, às mortes e outras variadas formas
de atitudes atrozes a humanidade vai destilando o veneno do ódio pelas páginas
da história. O mundo se transformou na morada do ódio. “Ai dos que habitam na
terra e no mar; porque o diabo desceu até vós, e tem grande ira[...]”
(Apocalipse 12:12). E este ódio tem se multiplicado como semente de erva
daninha na terra dos seres viventes. E o que se ganha com isso? Doenças,
tristezas, discórdias, desuniões. Famílias e amizades despedaçadas por causa de
um sentimento que não leva a nada. Que faz mais mal a quem sente do que a quem
é endereçado.
Quando jovem, conheci uma senhora que juntou todas as suas economias
para montar uma pequena loja de sapatos. Com toda sua energia ela se dedicava a
este pequeno comércio dizendo que iria provar a seu ex-marido que ficaria acima
dele financeiramente. Vingar-se do abandono que sofrera era o mote de seus
pensamentos. Em cada compra que fazia para sua loja ela já antevia os lucros
que iriam levá-la à desforra. Mas o empreendimento não deu certo e ela já se
foi deste mundo. Morreu sem ver seu ódio produzir efeito. Nem poderia, pois o ódio
não leva a nada. Só serve para estagnar a vida de quem a ele se dedica colando
páginas como em alguns livros que precisam ter algumas folhas rasgadas para que
não haja interrupção da leitura. Vire essa página.
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