sexta-feira, 31 de julho de 2015

LADO A LADO

Para resumir 2014, no mestrado, ao final do ano,  minha dissertação já estava com mais de 120 páginas e eu pensei que já tinha parado por ali. Minha orientadora ficou com medo de que meu trabalho se tornasse muito extenso pois o título, em si, já era uma avenida: Análise da Linguagem na Produção, Circulação e Uso da Informação no Desenvolvimento Político Eleitoral Brasileiro: Linguagens Verbais e não Verbais. Ufa! Vim desde o “Império”  e aportei na Nova República. Gostaria de me estender um pouco mais na “Era Virtual”, mas não deu. Deixei para o futuro... Quem mais me tomou tempo foi a “Era Vargas” e o “Regime Militar”.

Na política Dilma se reelegeu como presidente em um segundo turno que transformou esta eleição em um acontecimento histórico. Aqui na Bahia, o governador Jaques Wagner (ou Lula, ou os dois) conseguiu, ou conseguiram,  fazer um sucessor, Rui Costa. No dia do segundo turno eu votei logo cedo, pois tinha que viajar logo em seguida para Belo Horizonte. Vejam só onde eu fui parar em um dia como esse. Meu voo estava marcado para as 11hrs30min. O voo de minha colega Geo foi diferente do meu.  Ela me esperou lá no aeroporto de Confins  porque seu voo foi por São Paulo. Saiu mais cedo e chegou pouco antes do meu. Chovia muito. Havia um posto do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no aeroporto de Confins e ela tratou logo de justificar. Alguém perdeu esse voto. Enquanto isso, na fila de embarque, em Salvador, vários eleitores de Aécio Neves distribuíam adereços de campanha. Eu tratei de viajar com roupas de cores bem neutras. Afinal, em terras dos outros convinha não arriscar. Nunca se sabe... Nem por isso deixei de entrar em discussões durante a semana com motoristas de táxi. Quando eles percebiam que éramos da Bahia (o sotaque não nega) vinham com toda carga “ideológica” para cima da gente. Ao final, em suas falas, não perdoavam os nordestinos. E Aécio nem ganhou lá. Cada uma! Mas nada que um banho de História do Brasil não os calasse de  imediato.  Quando eu lhes mostrava que, no fundo no fundo, a briga toda espraiava  no resquício do “café com leite no poder” eles se exasperavam. Pensam que o Brasil não consegue marchar sem eles. E olhe que Dilma também é mineira. Acho que muitos nem sabem disso. O problema é que a naturalidade se firma no coração e não no lugar de nascimento. Eu e um outro conterrâneo meu  que se deu bem aqui na Bahia bem sabe o que é isso.

No dia 2 de dezembro, 17 horas, fui ao lançamento do Livro do jornalista Paulo Markun. Foi no teatro Eva Hertz, instalado na Livraria Cultura do Shopping Salvador, com a apresentação e mediação de Mário Kertész, com transmissão pela rádio Metrópole. O autor lançou a série Brado Retumbante, volumes 1 e 2. Fala sobre o período do regime militar no Brasil. Tive até a oportunidade de falar breves minutos sobre o desenvolvimento da minha dissertação. Meu Deus me ama!  
Entre 7 e 10 de novembro foram as eleições para o Colegiado Setorial de Bibliotecas (Governo do Estado da Bahia). Eu me candidatei e fui eleita por incríveis... dois votos. Nada de potássio, por favor, ou seja, kkkk. Foi um voto meu e o outro não sei de quem. Houve episódios semelhantes com outras categorias.  Na posse, dia 9 de dezembro,  minha filha foi comigo. O governador, já em seus últimos dias de mandato, estava presente.

Ao findar do ano, para surpresa de todos, menos do Todo Poderoso, Aquele que comigo, lado a lado, naquela cadeira que já citei, me inspirou e me ajudou para que minha dissertação chegasse ao fim.  Até a banca já estava escolhida. Enquanto muitos ainda nem começara a escrever eu já ia defender! Meu Amigo e, só Ele, poderia fazer isso por mim. Vai com Deus 2014! Beijos. Porque eu já virei essa página.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

TINHA UMA PERDA NO MEIO DO CAMINHO...

Sentada diante do computador a angústia  tentava sorrateiramente se aproximar. Fazia poucos dias que eu a havia perdido.  Minha tia, a pessoa que no lugar de minha mãe cuidou de mim dos seis aos vinte dois anos, quando, em uma noite de reação impulsiva, sai de casa com a roupa do corpo. Dias se passaram até eu conseguir reorganizar meus pensamentos, mas as palavras não vinham. Na minha mente, lembranças da minha trajetória ao seu lado. Sempre me protegendo de mim...
 

Lembro como se fosse hoje, um dia de 1970, em que ela sentiu uma dor e eu a acompanhei até uma emergência  da  Samdu (antigo pronto atendimento que ficava no bairro de Amaralina). Lá ela encontrou uma grande amiga. As duas começaram a relembrar os velhos tempos e a dor se foi antes da consulta. Ela só queria um pouco de atenção. Eu não conseguia entender essas coisas naqueles tempos de juventude sonhadora e voltada para meus anseios. Nos últimos dias de sua vida eu pude me redimir do passado ficando todo o tempo que dispunha fora do trabalho dedicado ao seu lado, junto ao seu leito. Sempre de costas para a televisão eternamente ligada. Lia-lhe o Salmo 23 quantas vezes ela me pedisse. Impresso em fonte dezoito, pois ela me pedira em letra grande para que pudesse acompanhar-me na leitura. Agarrava-se a um fio de esperança de mais um pouco de vida. Sonhava com os seus cem anos que não vieram. Foi-se aos noventa e oito. Não sou de chorar. O que sinto? Deus sabe!    

Quando vi que precisava voltar a escrever e terminar meu quarto livro devocional, e mais  uma dissertação que me aguardava há alguns dias... as palavras não vinham. Então eu clamei ao Senhor para que elas se apresentassem diante de mim. Orei e convidei-O a sentar-Se junto a mim. Preparei-lhe uma cadeira que alguns supunham estar vazia. Só eu e Ele sabíamos que não estava.  E  o milagre da escrita aconteceu! Quando dei por mim só vi as letras saltarem  do teclado do computador. Então escrevi. Escrevi para o meu Salvador, escrevi para meus futuros examinadores, escrevi para a vida na minha solidão de mulher com filhos criados e cuidando de suas vidas.  Escolhi escrever como a principal de minhas atividades. Sei que você poderá dizer: “Ora, se ela se entregar ao Trabalho Missionário e ás atividades da igreja não vai sobrar tempo para solidão.” Mas quem viveu um pouquinho mais, como eu, sabe do que estou falando. E assim prossegui.

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Sim, havia uma perda no meio do caminho. Havia aquela perda, que vira aquela página, a qual, a gente sempre pensa que está preparada para virar, mas que nunca está. É que esse tipo de página nem sempre consegue ser virada. Na verdade ela nos é arrancada. E o livro de nossa vida tem que continuar sem ela, cujo lugar deixa aquela marca que todos que o abrem percebem que, um dia, ela ali estava. Porque pequenos pedaços aqui e ali insistem em aparecer no canto mostrando o rasgo indisfarçável.  

A morte é sempre “fórceps” para aqueles que amam o ente que se vai. Mas vamos seguindo. Arrancada a “fórceps” ou não, a página vai ficar para sempre guardada na lembrança. Vai ficar dobradinha e bem guardada no fundo do coração e na região das eternas lembranças. Essa também é uma doce forma de virar a página.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O QUE TEMOS PARA HOJE

O espelho não perdoa. O tempo passou.  Mas, de que adianta ficar contabilizando perdas e ganhos?  Essa matemática nostálgica nãos nos leva a nada. Tive que aprender a viver o hoje com a madura certeza de que o tempo, outrora tão cadenciado, agora corre numa celeridade espantosa. Por isso não pude me dar ao luxo de fazer mestrado pensando demais. Pensar demais na minha idade nem sempre ajuda. Na verdade, às vezes só atrapalha. É corrente a resposta de alguns entrevistados que ao chegar em  uma idade madura desejam ter mais arrependimento daquilo que fez do que não realizou. Faço coro a esta resposta. Encontrei outro dia uma contemporânea da faculdade que demorou-se em me reconhecer e declarou impiedosamente: “Ah, é você?! Nossa, o tempo passou”. Não quis lembra-lhe que o tempo passou para nós duas...

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Ontem me esqueci de contar que quando fui entrevistada na banca, uma das entrevistadoras jogou água fria em minha panela fumegante alegando que eu tinha muitas atividades e alinhavou seu raciocínio me perguntando onde eu iria arranjar tempo para fazer mestrado. É que eu estava no fim de um mandato de Conselheira do Conselho Superior do órgão onde sirvo, era bibliotecária onde sou lotada e ainda dava aulas de Formação Política em um programa temporário do governo.  Expliquei-lhe que as atividades de trabalho eram em turnos opostos sendo, que, as aulas eram só dois dias na semana com um contrato de apenas dois meses. Quanto às reuniões do Conselho, esclareci que aconteciam em datas programadas nas quais eu estaria dispensada da jornada. No mais também deixei bem claro que o mandato estava terminando e que eu não pretendia me recandidatar.
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Confesso que o que mais me deixou com medo de não ser aceita foi o fator idade. Sempre ouvi alguns comentários de que não existe muito interesse dos programas de pós-graduação em aceitar pesquisadores neófitos em uma idade em que poderia me aposentar. Mas se ela tocasse no assunto eu já estava com a resposta pronta. Eu lhe diria, de forma hilária  para descontrair, claro, que eu não conseguia me ver, antes da hora,  “sentada no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar.”  Mas ela não perguntou. Dessa vez não me interpelaram a respeito do famigerado “distanciamento do objeto”. Meu tema foi sobre informação eleitoral  e, ao final, foi confirmado aquilo que está em Jeremias 32:27. Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso há alguma coisa demasiado difícil para mim?”Sei que existem muitos que não acreditam. Enquanto isso, para os que acreditam,  resta-nos, independente da idade, situação financeira ou o que nos mostra o espelho, nos contentarmos em realizar nossos sonhos e metas...  com o que temos para hoje. Porque o amanhã será outro dia que teremos para virar outras páginas e não vai ser qualquer espelhinho malcriado que vai nos derrubar.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

“NINGUÉM ME CONVIDOU PARA DANÇAR”

“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir os fortes.” 1 Coríntios 1:27.
Foi com muita emoção que participei pela primeira vez de um encontro de pesquisadores em Ciência da Informação e, no momento em que escrevi este texto, eu estava sentada no saguão de um hotel em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. Pelo teor das palavras, vocês já poderão perceber que finalmente, após quatro tentativas, eu consegui entrar em um curso de mestrado. Era o ano de 2013, ano em que, no dia 19 de agosto, saiu o resultado. Agora eu estava no mês de outubro do mesmo ano e aguardava a apresentação dos trabalhos da tarde desse evento, enquanto acompanhava a movimentação observando os, não poucos colegas, passarem por mim num vai e vem frenético. Os que me conheciam, mesmo de vista, me cumprimentavam respeitosamente. Foi muita luta para conseguir entrar em um programa de mestrado e poder participar de um evento como este. Com alguns, eu trocava algumas palavras sempre de cunho profissional. Ali, naquele instante, parei, e meditei ainda mais profundamente no Senhor. Mordia os lábios para disfarçar meu contentamento, senão iria gargalhar sozinha e ninguém iria entender o porquê.

Na verdade, naquele dia e hora, eu estava voltando meus pensamentos para os anos da minha juventude. Parece que foi outro dia, mas foi exatamente em 1975. A família foi convidada para um baile de formatura e eu fui toda radiante em meu primeiro vestido de baile. Um vestido longo, feito com muito bom gosto, em tecido e modelo escolhido por minha tia. O baile foi no Clube Português da Bahia. Na época um reduto da burguesia soteropolitana. Lá estavam alguns rapazes e moças da mesma rua em que eu morava. Todos me ignoraram. Só a frase de um poema de Adília Lopes poderia explicar tudo o que senti naquele dia. Ninguém me convidou para dançar. Minha tia e seu filho, Ananias, segundo costume da época, haviam me colocado estrategicamente na ponta da mesa retangular que fora reservada para a família no intuito de que eu ficasse em um ponto acessível. Assim, se alguém tivesse a intenção de dançar comigo eu não precisaria sair atropelando todo mundo até chegar ao meu parceiro de dança, caso eu recebesse um convite. Mas o convite não veio...


Ingenuamente, ainda fui até ao camarote do andar superior supondo que talvez por eu estar em traje de gala e em uma mesa distante eles não haviam me reconhecido. Que nada. Aqueles olhares indiferentes feriram-me como uma lâmina. Voltei para meu assento, completamente desolada. Mas, graças a Deus, hoje tudo mudou. Estou com Jesus e já não preciso mais de convites desse tipo para me sentir gente. Ainda mais que, no meio religioso em que transito, recebo todo o afeto e carinho de que necessito. E até no meio profissional tenho conquistado respeito e boas amizades. Sei que não agrado a todos. Que fazer? Quem conseguiu essa façanha? De uma coisa estou certa, o Senhor colocou a sua mão maravilhosa sobre mim desde aquele tempo e hoje sou feliz como nunca fui. Também digo, com toda sinceridade, que até agradeço o dia em que ninguém me convidou para dançar! Serviu de motivação para que eu fosse à luta. Barry C. Black, nos diz em seu livro Sonho Impossível que “a vitória e a derrota são impostoras”. Concordo plenamente com ele. “[...] Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes. Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido” (I Pedro 5:5 e 6). Essa é a melhor forma de conseguir virar páginas!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

DE VOLTA PARA O FUTURO

No primeiro texto postado eu comecei relatando que estava indo para uma entrevista de mestrado. Já no de ontem eu falava que minha especialização foi um caso à parte. Vou explicar o motivo. No ano que ganhei minha primeira neta e, depois de vinte e oito anos sem estudar, quando me vi a primeira vez com a tarefa  de redigir um texto científico, senti um baque no meu coração. Imagine que na grade curricular do ano em que eu conclui a graduação, 1982, não havia nem trabalho de conclusão de curso, o famoso TCC. Também ainda não havíamos mergulhado no mundo cibernético e então, em 2007, tudo era praticamente novo para mim. Comecei timidamente e minha colega Jô estava ao meu lado me dando força. Mas como ela já tinha uma pós-graduação em educação preferiu deixar o curso para focar no mestrado. Mas o Senhor já tinha tomado providências e lá conheci Geo que viria a ser minha colega em Simões Filho também. Pouco tempo depois ela tomou posse e tudo ficou mais fácil para mim. Aos poucos fui quebrando o gelo dos professores que a princípio senti muito frios no trato comigo. Como respeito é a base de todo relacionamento, tratei de pautar nossos contatos seguindo por essa linha. E eu não podia ter feito uma escolha melhor. Confesso que o que muito me ajudou também foi o fato de eu nunca ter abandonado o hábito da leitura. Minha cultura amplamente diversificada me ajudou em momentos em que se precisava de algo mais que conhecimento científico na sala. Também, as noites passadas lendo, como forma de castigo, ao lado de meu primo durante boa parte de minha adolescência mostrava-se mais uma vez producente em minha vida intelectual.

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No mais, Anthony Giddens, em seu livro Sociologia, já identificou que  “avaliações lógicas de argumentos exige tratamento diferente quando se trata com os humanos porque estes são seres  autoconscientes  que conferem significado e propósito ao que fazem”. E significado e propósito foram o que não faltaram nesta minha nova fase. Entrei neste curso que tinha o nome pomposo de Engenharia Empresarial: Gestão da Informação e do Conhecimento com garra e determinação. Depois de um dia inteiro trabalhando em outro município ia do trabalho direto para o Instituto de Ciência da Informação da UFBA. Eram quatro horas de aula em dois dias da semana. Ao terminar, em 2010, após mais de dois anos do início do curso, fui a primeira a entregar a monografia. Daí começou minha fase de tentativas de ingressar no mestrado. Comecei fazendo disciplinas especiais. Na primeira tentativa na UFBA não fui aceita. Então, a princípio, fiz uma disciplina na UNEB onde tive meu primeiro sim. Era uma verdadeira gangorra onde o sim e o não se sentaram cada um de um lado revezando-se para testar minha paciência. Na UFBA, nada. Até que um dia fiz um teste de fé comigo mesma. Quando foi disponibilizado no programa de pós-graduação disciplinas especiais, escolhi uma disciplina com uma professora que eu sentia não morrer de amores por mim. Do contrário eu iria me sentir como se estivesse subestimando o poder de Deus. E assim agindo   fui aceita para cursar minha primeira disciplina especial de mestrado na UFBA. Lembrei-me de Abraão quando não quis receber presente de reis para que ninguém tomasse para si a glória de tê-lo enriquecido e, sim, tivessem a plena certeza de que tudo o que ele tinha vinha da benevolência e misericórdia Divina. Vai ter que ser assim, não adianta só conhecimento científico ou intelectual: Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, é vivendo e aprendendo a confiar e esperar em Seu poder para virar a página.  

quinta-feira, 16 de julho de 2015

VOCÊ QUER SER FELIZ OU QUER TER RAZÃO?

De 1997 a meados de 2006, foram os anos que servi em Salvador, e deles não gosto de falar muito. Não foram bons. A não ser o privilégio que o Senhor me concedeu de fundar meu primeiro grupo como pioneira no bairro de Novo Horizonte, o resto, foram só tribulações. De tudo o que aprendi durante esse tempo foi que quando for inevitável que estejamos no mesmo raio de convivência com os que se deleitam em fazer o mal, devemos ter muito cuidado, pois a tentação de nos juntarmos a eles pode surgir a qualquer momento. Todavia aprendi também que podemos desenvolver resistência a esse fenômeno. É só ter muito, mas muito cuidado mesmo. Não devemos juntar-nos a eles com o falso pretexto de achá-los mais fortes e, portanto, difíceis de ser resistidos. Mas forte é o Senhor nosso Deus que pode nos livrar dessa terrível tentação. Juntar-se a eles, jamais!

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Pelas decepções que passei em Salvador pedi transferência para uma cidade da região metropolitana de Salvador. Lá tenho tido a oportunidade de conviver, aprender e desenvolver minha profissão ao lado de profissionais competentes e altruístas. Meu colega bibliotecário e minhas duas colegas bibliotecárias deram um novo impulso à minha carreira. Em 2010 conclui minha especialização, o que foi um caso a parte. Somos considerados exemplo de relações interpessoais no trabalho por todo o campus. Afirmo sem demagogia que o Senhor me colocou no lugar certo, no tempo certo e junto às pessoas certas. Minha vida profissional divide-se em antes e depois de tê-los conhecido e logo vocês vão saber o porque.

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Em 2005 minha irmã caçula faleceu e seus dois filhos vieram morar conosco. Foi mais que um recomeço de virada de página.  Pensei que já tinha saído do meu script percorrer as trilhas urbanas de levar e trazer menino na escola e seguir adolescentes para ver com quem andam ou aonde vão.  Às vezes brinco que eu vendi minha viola para não ouvir zoada, mas que Jesus mandou minha viola de volta. Ele sabe o que faz. Chamam isso de destino. No entanto eu prefiro pensar que esses inesperados acontecimentos concorrem para o que podemos chamar de lado mais prazeroso da vida, quando as ações imprevisíveis de nossa trajetória se impõem à revelia de nossos traçados e intenções. Mostram-nos que, quer queiramos ou não, quer aceitemos ou não, não somos donos dos tempos nem dessas trajetórias. Por movimentos que por vezes não entendemos todo o mapa milimetricamente traçado perde, como que de repente, o traçado de suas linhas que tanto tempo nos tomaram, para serem redesenhadas, independente de nossa vontade e, seguem, tortuosas ou retas, por caminhos nunca dantes caminhados ou por rotas muitas vezes já trilhadas. Esse vai e vem às vezes incomoda, embora saibamos que fazem parte do processo de virar a página. E é nessa hora, em que sempre nos é exigido o ato de tomar importantes decisões, que nos vem aquela  pergunta que insiste em não calar: Você quer ser feliz ou quer ter razão?   

quarta-feira, 15 de julho de 2015

SALVADOR, O RETORNO

Bem, na verdade eram oitocentos e cinquenta e cinco quilômetros que nos distanciavam da capital e eu até que me esforcei para tentar ficar de vez em Barreiras. Os meninos se enturmaram na igreja e faziam parte do Clube de Desbravadores. Fazíamos lindas e edificantes viagens para lugares como Roda Velha, Sítio do Rio Grande e São Desidério, ao longo do esplendoroso Rio de Ondas.   Havia também famosas cachoeiras com paisagens exuberantes. Meu esposo, que já tinha uma longa carreira como professor chegou até a fazer concurso para o CEFET e ficou em primeiro lugar na prova escrita. Contudo perdeu na prova prática. Ele fez seleção também para a prefeitura local repetindo a façanha de passar em primeiro lugar. Ficou aguardando o chamado que demorou a chegar. Foi aí que me inquietei e comecei meu processo de retorno para Salvador. Mandei os meninos de volta e aluguei uma casa menor. É que por um ano e quatro meses eu alugara a mesma casa em que eu me hospedara quando cheguei à cidade, a de Maria da Paz e Luis. Eles se mudaram para outra residência que possuíam e me fizeram uma proposta irrecusável. Ofereceram-me  o imóvel  que  estava vazio e que era de excelente localização. Fizemos o acordo para que algumas reformas necessárias fossem descontadas no valor do aluguel. Com a volta dos meninos para Salvador não fazia mais sentido eu continuar em um imóvel com três quartos e várias dependências enormes. Quem ficou triste foi a minha ex- proprietária, dona Edite, porque além de nos tornamos irmãs em Cristo desenvolvemos uma grande amizade.

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Mesmo assim, senti que havia chegado o limite do meu tempo ali naquela cidade e, quando a gente percebe que chegou a hora de fechar determinados ciclos, não adianta nem pensar em retroceder. O jeito é seguir em frente e ir virando a página... Sempre!



segunda-feira, 13 de julho de 2015

AGUARDANDO EM SILÊNCIO
O retorno foi trançado com fios celestiais pois meus colegas falavam a uma só voz: “Amiga, sem ‘pistolão’ para intermediar você não vai conseguir sua transferência para Salvador não”. Minha mãe conseguiu um deputado que tinha sua base em Lauro de Freitas, onde ela morava. Este chegou até a ligar para meu chefe, mas não se empenhou muito assim que recebeu o primeiro não. Um colega, a par da conversa que aquele parlamentar tivera com o diretor, relatou-a para mim em tom de pilhéria e acrescentou: “Diga a seu Deus para enviar um deputado melhor porque esse que ela arranjou não é muito bom não”.  Engoli a seco e aguardei em silêncio.

Veio o aniversário de meu esposo, 10 de março de 1997. Obtive licença para visitá-lo e passar três dias em Salvador. Senti que o “tabuleiro de xadrez” de Deus começava a se mexer quando logo ao chegar, antes mesmo de entrar em casa, vi-me às voltas com a perda da visão no olho direito de minha filha. Depois de vários exames ficou constatado que ela estava com graves sequelas de toxoplasmose até então não diagnosticada. Pedi licença de noventa dias para acompanhar e dar prosseguimento ao tratamento de recuperação, no que tive meu processo deferido. Todavia meu pedido de transferência para Salvador emperrava de indeferido em indeferido. Nesse mesmo espaço de tempo, em um dos dias em que a deixara no CAS (Colégio Adventista de Salvador) no bairro de Nazaré,  após o retorno de uma série de exames, subia lentamente a ladeira do Hospital Santa Isabel quando, já no fim da subida, pensativa e cabisbaixa, ouvi uma voz conhecida que me repreendia:

__ O que é isso professora? Levanta esta cabeça. Onde já se viu servo de Deus andar assim de cabeça baixa! __ Era um grande amigo, pastor Abraão Dantas.     Expliquei-lhe o que se passava. Principalmente sobre meu dilema em ter que voltar para Barreiras. Quando a licença acabasse eu teria que deixar minha filha continuar o tratamento sem a minha presença. Ele prontamente se ofereceu para me ajudar através de um amigo influente que tentaria conversar com meus diretores sobre a necessidade de deferir meu pedido de transferência para Salvador. A essa altura, o  tratamento de minha filha dava mostras de que seria uma recuperação lenta e demorada, como realmente foi. Foram seis meses só para ela voltar a enxergar.

Nessa tentativa consegui audiência em Brasília com o presidente de um órgão equivalente a uma comissão federal de educação e até com o secretário do ensino tecnológico para os quais expus minha situação de vários pedidos de transferência negados.  Consegui entrar no Congresso em dia de portas fechadas por causa de protestos em dia de votação contra a estabilidade dos funcionários públicos. Ao ver-me nos corredores procurando saber como chegar ao gabinete daquele deputado dei de frente com sua assessora, a qual,  me fez a pergunta que pretendo levar para o céu: “Quem abriu as portas pra você?!” Não perdi a oportunidade e lhe respondi: “Eu tenho um Deus que abre todas as portas!”  Não sei como, ao chegar nas portas do fundo um segurança fez sinal para o porteiro que me deixasse entrar. Repito como, eu não sei. Ninguém me conhecia ali.


Ao reencontrar o colega que tinha brincado com minha fé eu disse para ele que Deus tinha aceitado o conselho dele, pois também tinha pressa em virar mais essa página de minha vida.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

COISAS QUE SÓ DEUS EXPLICA
Nessa ocasião realizei o desejo de aprender a dirigir. A necessidade de ter um carro se fazia mais imperativa naquele momento. Meus filhos iam comigo para as aulas. Comecei as aulas na Autoescola Camila em dezembro de 1994. Parei por um ano, mas em dezembro de 1995 voltei com mais garra e determinação. Desta vez fui até o fim.
No início de abril de 1996, no dia dos exames para habilitação, Raimundo, meu instrutor, ficou apreensivo porque eu raríssimas vezes conseguia colocar o carro dentro da baliza sem bater nos cones. Então na véspera ele me avisou que não fizesse o teste antes de sua chegada.   Ele preferia que eu fizesse logo o exame de rua, onde  achava que eu estava bem, e deixasse o teste de balizamento para outro dia. Só que assim que eu cheguei ao local do teste um dos componentes da equipe acenou me chamando. Não pensei duas vezes e fui. E não é que consegui entrar logo na primeira tentativa? Quando Raimundo chegou ficou surpreso em saber que eu havia sido aprovada. Em compensação o exame de rua teve que ser remarcado. Não consegui fazer a meia embreagem. É que lá em Barreiras eles tinham a ideia errônea de não ensinar este procedimento alegando que a cidade não tinha ladeiras.  Interessante que neste dia alguns me chamaram a atenção por achar que eu tinha deixado para aprender a dirigir muito tarde. Pura bobagem. Lá encontrei uma senhora de sessenta e três anos que fez o teste no mesmo dia que eu e passou logo na primeira tentativa. Bem, o certo é que quinze dias depois refiz o teste e passei sem precisar usar nenhum tipo de “estratégia$” porque assim já diz Palavra que “Se alguém necessita de sabedoria, peça-a a Deus...  e ser-lhe-á concedida”. Tiago 1:5.

Não importa se nossos sonhos têm suas oportunidades de serem realizados em uma época em que os espectadores de nossas vidas consideram como fora de sintonia, seja por causa da faixa  etária, seja por outros pareceres correlatos. Para Deus, nada está fora de época e nada está fora de cogitação.  Não existe impossível para Ele. Porque tem coisas que só Ele explica.  Porque tem coisas que só Ele pode fazer para virar nossas páginas. Se assim o desejarmos.




quarta-feira, 8 de julho de 2015


TRISTES SEMELHANÇAS
  Em dezembro meus filhos chegaram. A saudade deu lugar a muita alegria. A partir daí foi mais fácil me adaptar.  Matriculei-os na melhor escola particular da cidade. Porém, tive que tirá-los no ano seguinte e mudá-los para outra instituição de ensino. Como não pretendia passar muito tempo por lá não quis entrar em questões que envolviam racismo para não me envolver em desgastes que não levariam a nada. Meu filho mais velho tinha dificuldade para participar das brincadeiras, pois os outros garotos não o aceitavam. Em terra estranha não adianta entrar nesse tipo de conflito porque mesmo que se consiga alguma vitória é aquele tipo de batalha onde, mesmo que saiamos vitoriosos, as perdas não superam os ganhos. Por mais que a direção negasse cansei de ir escondido na hora do recreio para observá-lo e ver se ele não estava mentindo mas, era triste constatar que tudo que ele me relatava era verdade. Como Barreiras é uma cidade que tem recebido muitos emigrantes da região do extremo sul do Brasil eles, simplesmente, não conseguem conviver com a intensa diversidade racial comum do local. E seus filhos, claro (sem trocadilhos), carregam em sua formação social aquilo que aprendem no seio de suas famílias. Na verdade, naturalmente, negros não são bem-vindos nem no interior e nem em boa parte do Brasil. Quem viaja pelo país sabe do que estou falando. Tive um primo, que viveu maior parte de sua vida em São Paulo, capital, mais precisamente de 1976 a 1998, que sempre dizia ao visitar Salvador: “O negro só é feliz na Bahia”. E eu corrijo: Essa máxima só pode ser vivida, e assim mesmo, em parte, em Salvador ou nas cidades do recôncavo baiano, por conta dos remanescentes da escravidão.  

No mais, dessa minha segunda investida em fixar moradia no interior ficou a constatação de que esta é uma das decisões mais difíceis de tomar. Ao comparar com Ibicaraí observei as seguintes e tristes semelhanças da vida no interior: O trato com os preconceitos raciais e sociais aliado às disparidades econômicas são bem distintas e indisfarçadas. Basta dizer que em Ibicaraí, certa vez, fui a um cabeleireiro e ele me saiu com um comentário que, de tão preconceituoso, chegou ao nível do ridículo. Ao recusar atender-me ele, além de me “comunicar” que naquele dia ele estava à disposição de uma determinada família da cidade, ainda acrescentou que não trabalhava com cabelos “étnicos”.  Em Barreiras não foi diferente. Mas por enquanto vamos virar essa página das tristes semelhanças. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

O CAVALO E O PORCO

Em início de instituições, como todo trabalho de pioneirismo, tudo é mais difícil. Eu tive até que comprar uma máquina de escrever para ter o que fazer. Assim eu ia adiantando o serviço de catalogação das poucas obras que havíamos recebido de Salvador. Relativo a essa época eu escrevi um texto em 2010 onde eu medito acerca de uma antiga parábola, a qual achei muito interessante transcrevê-la, pois nos leva a pensar profundamente sobre certos comportamentos que temos ao longo da vida:
Conta a estória que um fazendeiro colecionava cavalos e só faltava uma determinada raça cujo vizinho tinha um exemplar. Ele implorou, implorou, até que conseguiu comprar-lhe a raridade.  Só que um mês depois o tal cavalo adoeceu. Chamaram o veterinário e este atestou que o animal tinha uma enfermidade e, que uma vez tomado o remédio indicado por ele, não havendo melhora em três dias seria necessário sacrificá-lo. Deram o medicamento e saíram. O porco, que escutava a conversa, aproximou-se do cavalo e disse:
__Vamos lá amigão, levanta ou então você vai morrer! Vamos lá! Eu te ajudo a levantar... Upa! __ Veio o segundo dia e repetiu-se a experiência do dia anterior. O porco animava e o cavalo tentava resistir. No entanto, no terceiro dia após a última dose, e sem resultado satisfatório, disse o veterinário: “Infelizmente, teremos que sacrificá-lo antes que este animal contamine os outros cavalos”. Quando foram embora o porco aproximou-se do cavalo e disse:                                                      
__ Vamos amigo! É agora ou nunca! Levante logo! Coragem! Upa! Upa! Isso, devagar, ótimo! Eu te ajudo a levantar! Vai! Fantástico! Corre! Corre mais! Upa, upa ,upa! __ De repente, o cavalo começou a reagir e recebeu o elogio do porco:                    
__  Você venceu campeão! _ Justo nesse momento o dono do cavalo chegou e, ao ver o cavalo correndo pelo campo, gritou: “Milagre, o cavalo está curado! Isso merece uma festa, então, vamos matar o porco!”
Foi mais ou menos assim o que aconteceu comigo logo quando cheguei a Barreiras. Como nos primeiros meses eu não tinha muito que fazer, surgiu-me a ideia de editar um boletim que foi bem aceito. Batizei-o de Hiperboletim. Nada pretensioso, apenas com notícias internas de nosso meio e entretenimentos saudáveis. Não havia pessoal técnico da área para me auxiliar. Então eu mesma preparava um editorial simples acerca dos acontecimentos políticos cotidianos e fazia a arrumação das matérias imitando os modelos de outras publicações. Todavia, apesar de elogiada pelo conteúdo a publicação deixava a desejar na diagramação. Algum tempo depois chegou um profissional da área e começou a questionar o leiaute, no que dei graças a Deus. Passei-lhe a tarefa e tratei de dar continuidade ao verdadeiro motivo de minha presença naquela instituição. Como aquilo não fazia parte da minha atribuição não saí ferida.  Mesmo assim, sempre que me lembro desse episódio não tenho como não pensar nos profissionais que já passaram, ou passam, por situações idênticas e que, ao contrário do que aconteceu comigo, não tem outros expoentes para direcionar seus talentos. Pessoas que dedicam uma boa parcela de sua vida a um determinado projeto, mas, que na hora de colher os frutos de sua conclusão, aparece-lhe alguém e, simplesmente, arranca-lhes os sonhos pelo simples fato de achar-se mais capaz. E então matam o “porco”! Sim, por que quantos não saem tão feridos de conflitos dessa natureza que terminam por sucumbir diante de doenças relacionadas com a terrível experiência!

Que ninguém pense em virar páginas agindo dessa maneira, por achar que não vai dá em nada, porque o retorno sempre o espreitará em alguma esquina da virada de página da vida de outro alguém.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

POR QUE TEMER AS MUDANÇAS?
Não houve muito tempo para os preparativos de mudança para a cidade de Barreiras. Faltando um mês para assumir o emprego entrei com o aviso prévio no CAS. Agradeci ao Pastor Demóstenes Neves, carinhosamente conhecido como Tito. Senti não poder ter agradecido pessoalmente ao saudoso pastor Gustavo Pires e pastor Severiano Pimentel. Esses dois me ajudaram muito quando voltei de Ibicaraí. Cheguei sem nenhum eletrodoméstico e eletroeletrônico por causa daquele episódio, já relatado, onde perdi tudo em um arrombamento no final de 1988. Pastor Gustavo Pires, apesar da fama de “durão” e inflexível, ajudou-me emprestando-me o suficiente para a compra de uma geladeira que fui pagando aos poucos. Fizeram muito por mim. Nunca vou esquecer. Saí do CAS com um sentimento de gratidão imenso. Mas a página pedia e clamava para ser virada e então, lá se fui para ver como Deus iria mexer naquele tabuleiro de xadrez que é a nossa vida.
Cheguei a Barreiras no dia 7 de setembro de 1994. Paulo foi comigo e voltou logo no dia seguinte por causa das crianças. Não pode ficar para a posse. Eu já havia entrado em contato com a irmã Maria da Paz e seu esposo Luiz. Esse casal foi aquele mesmo que me recebeu na época da prova e que tinham já tinham colocado sua casa à minha disposição caso eu passasse no concurso.  Aceitei até organizar moradia.  Tomei posse no dia 9 de setembro. Como não haviam programado nada de especial ficou um vácuo na programação. Sentindo que o diretor precisava de auxílio para preenchê-lo não desperdicei a oportunidade de agradecer a Deus em público quando Arleno franqueou a palavra aos presentes.
Além de recitar o Salmo 23,  também fiz menção em  Eclesiastes 3: 1-8. Afinal, como sabiamente observou Salomão: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”. Além do mais, todos aqueles versículos rodeavam meus pensamentos como se fosse a própria gênese da minha vida: “Tempo de nascer; de plantar; de chorar; de rir; de prantear de tristeza; de pular de alegria; de amar; de aborrecer;  de espalhar pedras; de ajuntar pedras... Tempo de guerra, tempo de paz”.                                     
Bem, a tão sonhada paz, para mim, só viria quando meus filhos chegassem ao final do ano, quando eu poderia  tê-los ao meu lado novamente. Fiquei mais quinze dias com aquela família até que encontrei uma casa para alugar dentro de meu orçamento. Não podia começar minha vida em uma cidade estranha me lançando em um nível alto de gastos só porque iria assumir um emprego federal.  A rotina de meus filhos ainda em Salvador  eu acompanhava por telefone. Madalena, uma grande amiga, membro de nossa igreja, ajudava-me tomando conta deles durante a semana.  Por outro lado, também contei com a compreensão dos meus diretores que nunca colocaram dificuldades para me liberar toda vez que eu precisava vê-los. Eu compensava na volta. Por várias vezes compensei até antes. Tempo era o que não me faltava...

Bem, naquela virada de página, talvez a mais significante de toda minha vida, aprendi que não devemos temer as mudanças. Digo isto porque vi muitos dos meus colegas abandonarem o emprego tão arduamente sonhado por não ter conseguido se adaptar às mudanças inevitáveis para aqueles que haviam saído de terras distantes, em sua maioria,  para trabalhar longe de suas famílias e de seus amigos. Quando me interrogavam sobre minha rápida adaptação eu sempre dizia o que penso até hoje. Que as mudanças são boas, desde que não nos leve a abrir mão daquilo que o Senhor estabeleceu desde o início como ponto de salvação para seu povo. Também, para quem acompanha essa trajetória desde a primeira página, mudanças são o que não faltaram em meu caminho.  E assim, de mudança em mudança, fui virando mais aquela página.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

DEUS, O GRANDE E VERDADEIRO PENSADOR

Saímos numa sexta-feira três horas da tarde e, após pouco mais de dezoito horas de viagem com direito a blitz das Polícias Rodoviárias  Federal e Estadual enfrentadas pelo caminho, conseguimos chegar sãs e salvas. Isso porque eram estradas muito esburacadas e que facilitavam ainda mais os constantes assaltos daquele trajeto.    

Quando chegamos a Barreiras, em um sábado já pelas sete da manhã, fomos direto para igreja sem passar por nenhum hotel ou pousada. Para nosso conforto o Senhor tocou no coração de uma família abençoada que, de forma hospitaleira, nos ofereceu acolhida. Depois do almoço descansei em casa de irmãos e foi muito gratificante ver a duas donas de casa brigando para ver quem ia para casa dela. Assim, dividimos a hospitalidade. E que dom maravilhoso é o da hospitalidade! Foi assim que conheci Luiz e Maria da Paz.  No sábado, à tarde, eles nos levaram ao culto jovem na igreja de Barreirinhas e à noite fomos a um restaurante simples, mas, aconchegante, o Buritys.                                   

No dia seguinte fui fazer a prova.  Esta cena foi um capítulo à parte. Assim que entrei na sala havia uma fileira com seis cadeiras para candidatos da área de biblioteconomia. Só que na minha fileira, pasmem, só compareceram três candidatos, ou melhor, candidatas. O engraçado foi que logo ao entrar na sala uma colega foi logo me perguntando: “Você é bibliotecária?” Quando respondi afirmativamente uma delas, a que estava à minha frente, levantou-se e quis saber onde eu trabalhava e se eu tinha experiência em biblioteca informatizada. Depois da minha primeira resposta disse-lhe que em “minha” biblioteca nem computador tinha. Então ela se saiu com um comentário hilário que até hoje eu dou risada sozinha quando me lembro. Ela apontou o indicador para a outra concorrente e disse:                                                                                                               

- Olha, aquela garota ali, mesmo que passe não vai adiantar nada porque ela não é formada em Biblioteconomia. Então como eu já trabalho com biblioteca “informatizada” vamos passar nós duas e eu te ensino tudo o que eu sei...”                       

No dia dezessete de maio daquele ano saiu o resultado. Três meses depois da prova e uma semana depois do resultado daquele concurso estadual. Quando fui ver o do CEFET aquela criatura não havia alcançado pontuação suficiente para ingressar na instituição enquanto eu passara em primeiro lugar. Interessante como Deus utiliza formas interessantes para nos ajudar em nossas trajetórias de virada de páginas. Eu não consegui lograr êxito no concurso estadual onde havia cento e cinquenta vagas, mas, consegui o primeiro lugar em um federal. Não é a toa que Ele diz em Isaías 55:8 “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos,”. Quem se entrega confiantemente a este pensamento não teme virar páginas!

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Abrindo caminho entre os medrosos...
Eu estava bem no CAS. Era um dinheiro realmente abençoado. Por tudo que construí  isso ficou provado. Mas chegou uma hora em que temi pelo meu futuro profissional. Afinal ali era uma empresa da iniciativa privada e sempre foi corrente entre nós bibliotecários que o nosso melhor empregador era o serviço público. Foi daí que me tornei “concurseira” de carteirinha. Naquele tempo os jornais especializados na área não eram tão comuns por aqui, então para sabermos onde haveria algum era através dos amigos. Notas nos jornais havia, mas eram bem pequenas. Quase despercebida por um leitor menos atento. Menos para um com o qual eu vivia reclamando da mania de viver relendo o mesmo jornal que já havia lido de capa a capa... meu esposo!                                     
Foi assim que em março de 1994 ele chegou lá no CAS com um minúsculo recorte do jornal A Tarde que anunciava: “Concurso no CEFET-BA. Inscrições abertas até amanhã. Vagas para professores, assistentes e técnicos administrativos para trabalhar na cidade de Barreiras-BA”. No fim das modalidades profissionais estava lá: Duas vagas para bibliotecário. A prova seria em Barreiras mesmo. Foi aquele alvoroço dentro da empresa. No dia seguinte quem não tinha dinheiro para pagar a inscrição começou a dar seu jeito. Uma colega ligou para um vereador muito conhecido na época, Alvaro Martins (sem acento agudo no A), que ficou de arranjar um ônibus para levar todo o pessoal. Como a prova para os professores cairia num sábado só os candidatos aos cargos técnicos se prontificaram a ir. Corri para o banco no dia seguinte e me escrevi. Eu já estava inscrita em outro certame que haveria no governo estadual para preencher cento e cinquenta vagas.

Interessante é que a prova deste último concurso foi em um domingo e a do CEFET-BA no outro domingo. Quanto ao ônibus não deu certo porque, um a um, quase todos desistiram de ir. Acreditaram em boatos de que aquele concurso seria de cartas marcadas porque era ano de eleições presidenciais. Só restamos eu e a secretária do diretor. Os homens são assim, desistem facilmente de seus sonhos e metas por tornarem-se alvos fáceis dos medrosos e invejosos. E assim lá fomos nós, para tentar virar mais uma página, nos aventurando naquela empreitada por uma estrada perigosa e com histórico recorrente de assaltos.