segunda-feira, 13 de julho de 2015

AGUARDANDO EM SILÊNCIO
O retorno foi trançado com fios celestiais pois meus colegas falavam a uma só voz: “Amiga, sem ‘pistolão’ para intermediar você não vai conseguir sua transferência para Salvador não”. Minha mãe conseguiu um deputado que tinha sua base em Lauro de Freitas, onde ela morava. Este chegou até a ligar para meu chefe, mas não se empenhou muito assim que recebeu o primeiro não. Um colega, a par da conversa que aquele parlamentar tivera com o diretor, relatou-a para mim em tom de pilhéria e acrescentou: “Diga a seu Deus para enviar um deputado melhor porque esse que ela arranjou não é muito bom não”.  Engoli a seco e aguardei em silêncio.

Veio o aniversário de meu esposo, 10 de março de 1997. Obtive licença para visitá-lo e passar três dias em Salvador. Senti que o “tabuleiro de xadrez” de Deus começava a se mexer quando logo ao chegar, antes mesmo de entrar em casa, vi-me às voltas com a perda da visão no olho direito de minha filha. Depois de vários exames ficou constatado que ela estava com graves sequelas de toxoplasmose até então não diagnosticada. Pedi licença de noventa dias para acompanhar e dar prosseguimento ao tratamento de recuperação, no que tive meu processo deferido. Todavia meu pedido de transferência para Salvador emperrava de indeferido em indeferido. Nesse mesmo espaço de tempo, em um dos dias em que a deixara no CAS (Colégio Adventista de Salvador) no bairro de Nazaré,  após o retorno de uma série de exames, subia lentamente a ladeira do Hospital Santa Isabel quando, já no fim da subida, pensativa e cabisbaixa, ouvi uma voz conhecida que me repreendia:

__ O que é isso professora? Levanta esta cabeça. Onde já se viu servo de Deus andar assim de cabeça baixa! __ Era um grande amigo, pastor Abraão Dantas.     Expliquei-lhe o que se passava. Principalmente sobre meu dilema em ter que voltar para Barreiras. Quando a licença acabasse eu teria que deixar minha filha continuar o tratamento sem a minha presença. Ele prontamente se ofereceu para me ajudar através de um amigo influente que tentaria conversar com meus diretores sobre a necessidade de deferir meu pedido de transferência para Salvador. A essa altura, o  tratamento de minha filha dava mostras de que seria uma recuperação lenta e demorada, como realmente foi. Foram seis meses só para ela voltar a enxergar.

Nessa tentativa consegui audiência em Brasília com o presidente de um órgão equivalente a uma comissão federal de educação e até com o secretário do ensino tecnológico para os quais expus minha situação de vários pedidos de transferência negados.  Consegui entrar no Congresso em dia de portas fechadas por causa de protestos em dia de votação contra a estabilidade dos funcionários públicos. Ao ver-me nos corredores procurando saber como chegar ao gabinete daquele deputado dei de frente com sua assessora, a qual,  me fez a pergunta que pretendo levar para o céu: “Quem abriu as portas pra você?!” Não perdi a oportunidade e lhe respondi: “Eu tenho um Deus que abre todas as portas!”  Não sei como, ao chegar nas portas do fundo um segurança fez sinal para o porteiro que me deixasse entrar. Repito como, eu não sei. Ninguém me conhecia ali.


Ao reencontrar o colega que tinha brincado com minha fé eu disse para ele que Deus tinha aceitado o conselho dele, pois também tinha pressa em virar mais essa página de minha vida.

Um comentário:

  1. Que legal professora Isabel, fico feliz q meu pai tenha feito parte desta história

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