TRISTES SEMELHANÇAS
Em
dezembro meus filhos chegaram. A saudade deu lugar a muita alegria. A partir
daí foi mais fácil me adaptar.
Matriculei-os na melhor escola particular da cidade. Porém, tive que
tirá-los no ano seguinte e mudá-los para outra instituição de ensino. Como não
pretendia passar muito tempo por lá não quis entrar em questões que envolviam
racismo para não me envolver em desgastes que não levariam a nada. Meu filho
mais velho tinha dificuldade para participar das brincadeiras, pois os outros
garotos não o aceitavam. Em terra estranha não adianta entrar nesse tipo de
conflito porque mesmo que se consiga alguma vitória é aquele tipo de batalha onde,
mesmo que saiamos vitoriosos, as perdas não superam os ganhos. Por mais que a
direção negasse cansei de ir escondido na hora do recreio para observá-lo e ver
se ele não estava mentindo mas, era triste constatar que tudo que ele me
relatava era verdade. Como Barreiras é uma cidade que tem recebido muitos
emigrantes da região do extremo sul do Brasil eles, simplesmente, não conseguem
conviver com a intensa diversidade racial comum do local. E seus filhos, claro
(sem trocadilhos), carregam em sua formação social aquilo que aprendem no seio
de suas famílias. Na verdade, naturalmente, negros não são bem-vindos nem no
interior e nem em boa parte do Brasil. Quem viaja pelo país sabe do que estou
falando. Tive um primo, que viveu maior parte de sua vida em São Paulo, capital,
mais precisamente de 1976 a 1998, que sempre dizia ao visitar Salvador: “O
negro só é feliz na Bahia”. E eu corrijo: Essa máxima só pode ser vivida, e
assim mesmo, em parte, em Salvador ou nas cidades do recôncavo baiano, por
conta dos remanescentes da escravidão.
No
mais, dessa minha segunda investida em fixar moradia no interior ficou a
constatação de que esta é uma das decisões mais difíceis de tomar. Ao comparar
com Ibicaraí observei as seguintes e tristes semelhanças da vida no interior: O
trato com os preconceitos raciais e sociais aliado às disparidades econômicas são
bem distintas e indisfarçadas. Basta dizer que em Ibicaraí, certa vez, fui a um
cabeleireiro e ele me saiu com um comentário que, de tão preconceituoso, chegou
ao nível do ridículo. Ao recusar atender-me ele, além de me “comunicar” que
naquele dia ele estava à disposição de uma determinada família da cidade, ainda
acrescentou que não trabalhava com cabelos “étnicos”. Em Barreiras não foi diferente. Mas por
enquanto vamos virar essa página das tristes semelhanças.

Nenhum comentário:
Postar um comentário