quarta-feira, 8 de julho de 2015


TRISTES SEMELHANÇAS
  Em dezembro meus filhos chegaram. A saudade deu lugar a muita alegria. A partir daí foi mais fácil me adaptar.  Matriculei-os na melhor escola particular da cidade. Porém, tive que tirá-los no ano seguinte e mudá-los para outra instituição de ensino. Como não pretendia passar muito tempo por lá não quis entrar em questões que envolviam racismo para não me envolver em desgastes que não levariam a nada. Meu filho mais velho tinha dificuldade para participar das brincadeiras, pois os outros garotos não o aceitavam. Em terra estranha não adianta entrar nesse tipo de conflito porque mesmo que se consiga alguma vitória é aquele tipo de batalha onde, mesmo que saiamos vitoriosos, as perdas não superam os ganhos. Por mais que a direção negasse cansei de ir escondido na hora do recreio para observá-lo e ver se ele não estava mentindo mas, era triste constatar que tudo que ele me relatava era verdade. Como Barreiras é uma cidade que tem recebido muitos emigrantes da região do extremo sul do Brasil eles, simplesmente, não conseguem conviver com a intensa diversidade racial comum do local. E seus filhos, claro (sem trocadilhos), carregam em sua formação social aquilo que aprendem no seio de suas famílias. Na verdade, naturalmente, negros não são bem-vindos nem no interior e nem em boa parte do Brasil. Quem viaja pelo país sabe do que estou falando. Tive um primo, que viveu maior parte de sua vida em São Paulo, capital, mais precisamente de 1976 a 1998, que sempre dizia ao visitar Salvador: “O negro só é feliz na Bahia”. E eu corrijo: Essa máxima só pode ser vivida, e assim mesmo, em parte, em Salvador ou nas cidades do recôncavo baiano, por conta dos remanescentes da escravidão.  

No mais, dessa minha segunda investida em fixar moradia no interior ficou a constatação de que esta é uma das decisões mais difíceis de tomar. Ao comparar com Ibicaraí observei as seguintes e tristes semelhanças da vida no interior: O trato com os preconceitos raciais e sociais aliado às disparidades econômicas são bem distintas e indisfarçadas. Basta dizer que em Ibicaraí, certa vez, fui a um cabeleireiro e ele me saiu com um comentário que, de tão preconceituoso, chegou ao nível do ridículo. Ao recusar atender-me ele, além de me “comunicar” que naquele dia ele estava à disposição de uma determinada família da cidade, ainda acrescentou que não trabalhava com cabelos “étnicos”.  Em Barreiras não foi diferente. Mas por enquanto vamos virar essa página das tristes semelhanças. 

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