O
QUE TEMOS PARA HOJE
O espelho não perdoa. O
tempo passou. Mas, de que adianta ficar
contabilizando perdas e ganhos? Essa
matemática nostálgica nãos nos leva a nada. Tive que aprender a viver o hoje
com a madura certeza de que o tempo, outrora tão cadenciado, agora corre numa
celeridade espantosa. Por isso não pude me dar ao luxo de fazer mestrado
pensando demais. Pensar demais na minha idade nem sempre ajuda. Na verdade, às
vezes só atrapalha. É corrente a resposta de alguns entrevistados que ao chegar
em uma idade madura desejam ter mais
arrependimento daquilo que fez do que não realizou. Faço coro a esta resposta.
Encontrei outro dia uma contemporânea da faculdade que demorou-se em me
reconhecer e declarou impiedosamente: “Ah, é você?! Nossa, o tempo passou”. Não
quis lembra-lhe que o tempo passou para nós duas...
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Ontem me esqueci de
contar que quando fui entrevistada na banca, uma das entrevistadoras jogou água
fria em minha panela fumegante alegando que eu tinha muitas atividades e alinhavou
seu raciocínio me perguntando onde eu iria arranjar tempo para fazer mestrado.
É que eu estava no fim de um mandato de Conselheira do Conselho Superior do
órgão onde sirvo, era bibliotecária onde sou lotada e ainda dava aulas de
Formação Política em um programa temporário do governo. Expliquei-lhe que as atividades de trabalho
eram em turnos opostos sendo, que, as aulas eram só dois dias na semana com um
contrato de apenas dois meses. Quanto às reuniões do Conselho, esclareci que
aconteciam em datas programadas nas quais eu estaria dispensada da jornada. No
mais também deixei bem claro que o mandato estava terminando e que eu não
pretendia me recandidatar.
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Confesso que o que mais
me deixou com medo de não ser aceita foi o fator idade. Sempre ouvi alguns
comentários de que não existe muito interesse dos programas de pós-graduação em
aceitar pesquisadores neófitos em uma idade em que poderia me aposentar. Mas se
ela tocasse no assunto eu já estava com a resposta pronta. Eu lhe diria, de
forma hilária para descontrair, claro,
que eu não conseguia me ver, antes da hora, “sentada no trono de um apartamento com a boca
escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar.” Mas ela não perguntou. Dessa vez não me
interpelaram a respeito do famigerado “distanciamento do objeto”. Meu tema foi
sobre informação eleitoral e, ao final,
foi confirmado aquilo que está em Jeremias 32:27. “Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso há
alguma coisa demasiado difícil para mim?”. Sei que existem muitos que não
acreditam. Enquanto isso, para os que acreditam, resta-nos, independente da idade, situação
financeira ou o que nos mostra o espelho, nos contentarmos em realizar nossos
sonhos e metas... com o que temos para
hoje. Porque o amanhã será outro dia que teremos para virar outras páginas e
não vai ser qualquer espelhinho malcriado que vai nos derrubar.
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