O
Grande Poeta e sua Poesia
Falei
que Deus foi o Grande Poeta nos anos em que estive em Sussuarana Velha e atuei profissionalmente
no CAS. Meus filhos estudaram piano, teclado, violão. Isso foi poesia.
Continuei investindo em cursos de inglês para minha filha. Como eu não podia
pagar para os três pensava em um mercado de trabalho em que as mulheres sempre têm
menos oportunidades e, por isso, quis ampliar seu universo pagando o curso só
para ela. Coisas de mãe que se (pré) ocupa com o futuro dos filhos. Os homens
da família não entenderam essa minha visão e de vez em quando ouço indiretas. Mas
não ligo. Estou em paz com os objetivos das minhas intenções. E se eu tivesse
que fazer essa opção novamente, faria tudo igualzinho outra vez, se preciso.
Não
poderia fechar o ciclo desses anos sem contar sobre a poesia que foi escrita por
trás dos muros da Penitenciária Lemos de Brito. Lá desenvolvemos um ministério
que deixou muitos frutos dos quais nos orgulhamos muito e, como a Bíblia diz
que se alguém deve se orgulhar de alguma coisa é de manejar a palavra, lá, foi
o que mais fizemos. Era pura poesia quando, ao chegarmos aos sábados, encontrávamos
o local de culto preparado e os internos nos aguardando com um respeito que
aqui fora jamais alguém pensou em existir. Havia o ciúme das visitas. Um não
podia “alugar” visita do outro e assim tínhamos que ter critérios antes de
aceitar convite para visitar alguma cela. Levei meus filhos algumas vezes para
que eles entendessem a realidade da vida e eles eram recebidos com muito
carinho. Meu esposo não gostava mais foi aceitando. Chegou até a ir uma vez,
porém não retornou mais.
Por esse tempo minha mãe, por intermédio de
irmãs que participavam do mesmo ministério, veio a conhecer seu futuro esposo.
Uma vez casada mudou-se para um município da região metropolitana de Salvador.
Isso foi, sem dúvida, poesia. Já minha irmã caçula teve um menino de um
relacionamento que não avançou para nenhum tipo de compromisso, mas que ao
menos, para ela, deve ter tido lá sua poesia...
No
mais dessa fase ficou o marco do dia em que dois detentos foram liberados para
serem batizados. O saudoso pastor Arandi Nabuco fez a cerimônia de batismo que
foi muito linda. Depois servimos um almoço e tudo foi perfeito. Os agentes
penitenciários fizeram seu papel de forma discreta sem causar nenhum tipo de
constrangimento aos presentes. Foi na Igreja Adventista de Plakaford. No
retorno um deles avistou o mar pela primeira vez em sua vida e exclamou: “Olha
o mar, interessante, ele não é azul, é verde.” Aquele jovem envolvera-se com más companhias
para tentar roubar a empresa do próprio pai deixando o saldo de um funcionário
morto. Depois que cumpriu a pena ele tornou-se um homem de bem e continuou na
igreja. Isto sim é poesia da vida. Isso, sim, é virar a página.
