sexta-feira, 26 de junho de 2015

UM CHEQUE ASSINADO EM BRANCO
Logo nos primeiros dias de trabalho, houve um em especial, que a  coordenadora pedagógica da escola, Luciene, notou meu semblante preocupado e quis saber o motivo. Chegara o momento de revelar minha situação financeira. Àquela altura eu já mostrara serviço. O acervo, embora pequeno, estava bem organizado e com títulos e exemplares suficientes para atender a demanda. Então lhe falei das nossas dificuldades.  Que Paulo não podia voltar para Salvador por falta de condições de nos sustentar apenas com o salário do estado e que não tínhamos sequer dinheiro para o primeiro aluguel da casa. Ao me perguntar qual a profissão dele, ouvindo a resposta ela imediatamente me pegou pela mão e me levou até a presença da diretora. Lembro-me de seu entusiasmo quando entrou na sala com a surpreendente revelação:  “Professora, sabe da novidade, o marido dela é de educação física, já ganhou até um prêmio na televisão como o melhor do ano em 1985”. Era verdade. Em dezembro daquele ano Paulo fora escolhido pela concessionária da TV Globo, à época, como o melhor professor do ano pela sua atuação pioneira, em Salvador, no trabalho com portadores de necessidades especiais. A professora Edite quis saber o que faltava para ele juntar-se a nós e eu, claro, não perdi tempo em lhe colocar a par de nossa realidade. No mesmo dia liguei para o futuro professor de educação física da escola. A princípio ele ficou um tanto incrédulo. Finalmente aceitou, mas aí veio o impasse: Voltar para morar aonde?                                                                                        
Fiquei com o difícil encargo de providenciar um imóvel para alugar e então trazer minha mudança. O problema era conseguir alguém que aceitasse alugar imóvel a uma pessoa com menos de um mês de registro em carteira. A única solução que a imobiliária me apresentou para aceitar fechar o negócio foi à apresentação de um cheque pré-datado com o valor da fiança. Voltei para o trabalho arrasada diante do enorme obstáculo que se apresentava.                                                                                               

Foi aí que entrou a figura do pastor Samuel Küster. Ele chegara há poucos dias para substituir a professora Edite. Vendo-me cabisbaixa no corredor da escola ele me perguntou se eu estava sentindo alguma coisa. Expliquei-lhe o que estava acontecendo. Imediatamente, ele se dirigiu até à sua sala, abriu a gaveta de sua mesa de trabalho e retirou seu talão de cheques entregando-me uma folha assinada sem mais nenhum outro preenchimento. Um cheque assinado em branco!

Todos os dias o Senhor também estende para nós um cheque assinado em branco para fazermos dele o que bem quisermos. Para preenchê-lo como quisermos. O talão é a nossa vida inteira; as folhas, cada dia de nossas vidas; o valor, o livre arbítrio. Como estamos preenchendo este talão? Onde estamos guardando este talão? Se o deixamos a toa é bem certo que há um “estelionatário” de plantão ávido para surrupiá-lo e preenchê-lo com o valor que lhe aprouver.                                                       
Será que não estamos deixando que outros estejam preenchendo essas tão preciosas folhas de nossas vidas com valores divergentes daquilo que seria o essencial para virarmos as páginas certas que nos ajudará em nossa escalada rumo ao céu?             
                                   




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