UM CHEQUE ASSINADO EM BRANCO
Logo
nos primeiros dias de trabalho, houve um em especial, que a coordenadora pedagógica da escola, Luciene,
notou meu semblante preocupado e quis saber o motivo. Chegara o momento de
revelar minha situação financeira. Àquela altura eu já mostrara serviço. O
acervo, embora pequeno, estava bem organizado e com títulos e exemplares suficientes
para atender a demanda. Então lhe falei das nossas dificuldades. Que Paulo não podia voltar para Salvador por
falta de condições de nos sustentar apenas com o salário do estado e que não
tínhamos sequer dinheiro para o primeiro aluguel da casa. Ao me perguntar qual
a profissão dele, ouvindo a resposta ela imediatamente me pegou pela mão e me
levou até a presença da diretora. Lembro-me de seu entusiasmo quando entrou na
sala com a surpreendente revelação: “Professora,
sabe da novidade, o marido dela é de educação física, já ganhou até um prêmio
na televisão como o melhor do ano em 1985”. Era verdade. Em dezembro daquele
ano Paulo fora escolhido pela concessionária da TV Globo, à época, como o
melhor professor do ano pela sua atuação pioneira, em Salvador, no trabalho com
portadores de necessidades especiais. A professora Edite quis saber o que
faltava para ele juntar-se a nós e eu, claro, não perdi tempo em lhe colocar a par
de nossa realidade. No mesmo dia liguei para o futuro professor de educação
física da escola. A princípio ele ficou um tanto incrédulo. Finalmente aceitou,
mas aí veio o impasse: Voltar para morar aonde?
Fiquei
com o difícil encargo de providenciar um imóvel para alugar e então trazer
minha mudança. O problema era conseguir alguém que aceitasse alugar imóvel a
uma pessoa com menos de um mês de registro em carteira. A única solução que a
imobiliária me apresentou para aceitar fechar o negócio foi à apresentação de
um cheque pré-datado com o valor da fiança. Voltei para o trabalho arrasada
diante do enorme obstáculo que se apresentava.
Foi aí
que entrou a figura do pastor Samuel Küster. Ele chegara há poucos dias para
substituir a professora Edite. Vendo-me cabisbaixa no corredor da escola ele me
perguntou se eu estava sentindo alguma coisa. Expliquei-lhe o que estava
acontecendo. Imediatamente, ele se dirigiu até à sua sala, abriu a gaveta de
sua mesa de trabalho e retirou seu talão de cheques entregando-me uma folha
assinada sem mais nenhum outro preenchimento. Um cheque assinado em branco!
Todos os
dias o Senhor também estende para nós um cheque assinado em branco para
fazermos dele o que bem quisermos. Para preenchê-lo como quisermos. O talão é a
nossa vida inteira; as folhas, cada dia de nossas vidas; o valor, o livre
arbítrio. Como estamos preenchendo este talão? Onde estamos guardando este
talão? Se o deixamos a toa é bem certo que há um “estelionatário” de plantão
ávido para surrupiá-lo e preenchê-lo com o valor que lhe aprouver.
Será que
não estamos deixando que outros estejam preenchendo essas tão preciosas folhas
de nossas vidas com valores divergentes daquilo que seria o essencial para virarmos
as páginas certas que nos ajudará em nossa escalada rumo ao céu?
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