terça-feira, 9 de junho de 2015

“ACIMA DA MEDIOCRIDADE”

Em 1970, depois da breve passagem pela Escola Senhora Santana, por não ter conseguido vaga no estado em 1969, voltei para a escola pública do bairro onde terminei o ginásio, Colégio Edgard Santos. Fiz o ensino médio no Colégio Central onde vivi uma experiência desgastante em 1976, ano de conclusão do curso científico, como era designado naquela era.  Criaram um projeto chamado CIENA – uma fatídica experiência onde juntaram o Central (aulas de Exatas), Severino Vieira (Letras) e Teixeira de Freitas (Humanas). E foi aí que a coisa desandou. Muitos professores insatisfeitos com a invenção simplesmente abandonaram o barco e não apareciam. E nós, os “ratinhos de laboratório”, ficávamos para baixo e para cima gastando dinheiro com locomoção atrás de aulas que raramente existiam. Sem falar dos que se locomoviam a pé. Só tive uma vantagem na área de educação nesse período. Entre os professores que honraram seus compromissos teve uma nota dez: Élida, de geografia. Ela, e alguns outros, fizeram valer aquele projeto. De outros não tenho nem como lembrar. Revoltados com o programa nunca apareceram. Passamos em algumas disciplinas com notas inventadas. Não tivesse o hábito da leitura desenvolvido não teria chegado a lugar algum. Muito do que aprendi consegui através da minha voracidade em ler.
 

Essa amarga experiência deu lugar para que aqueles “videntes da educação”,  amigos da família, voltassem a profetizar como lá em 1967. Não deixe fazer vestibular porque ela não está preparada e não vai passar. Disseram a minha tia que ela só ia gastar dinheiro e perder tempo comigo e que o melhor a fazer em meu caso era arranjar um emprego em uma loja qualquer para que eu começasse a trabalhar para ajudar minha mãe. Eu me empolguei com a ideia, mas, o filho dela que já estava no terceiro curso na Universidade Federal da Bahia, tratou logo de intervir. “Vai fazer vestibular sim. Se você começar a trabalhar em qualquer coisa agora vai tomar gosto por dinheiro e vai se acostumar a viver uma vida medíocre.” Ele amava esta palavra. Como professor ele dizia que aluno que só passava, conforme se diz na gíria, “pela média” (nota mínima para aprovação) era um aluno medíocre.

Nunca me esqueci de suas palavras e quando ele foi embora para tocar a vida profissional em São Paulo deixou-me esse legado. Ele foi a primeira pessoa que me ensinou a viver acima da mediocridade. Há até um livro com esses título que ainda pretendo ler.

Valeu a pena as noites em que passávamos acordados estudando. Ele para o vestibular, e eu decorando os livros de gramática, história, geografia e ciências de Olga Pereira Mettig. Naquela época cheguei a decorar todos os verbos com todos os seus modos, tempos e conjugações. Sem falar da tabuada inteirinha e daquele livro grosso do quinto ano de admissão. Era um vestibularzinho.   Ele era muito rígido comigo. Na época confesso que eu não entendia. Mas hoje eu agradeço a Deus por tê-lo colocado na minha vida, pois tudo que sou hoje intelectualmente tem sua base do que aprendi junto com ele. Já tive a oportunidade de ouvir de alguém que não devo nada a ele porque tudo foi Deus quem me deu. Sim, claro que confio plenamente nisso. Todavia, muitas vezes Deus escolhe uma pessoa para ser um instrumento, mas ela não quer desempenhar seu papel e atuar na vida daquele alguém, ou para  aquele propósito que o Senhor o designou.  A pessoa simplesmente não aceita. Fazer o que? Moisés relutou muito antes de aceitar conduzir o povo de Israel pelo deserto. Até alegar que era gago e que não sabia falar ele apresentou como desculpa para não cumprir sua missão no deserto. E isso conversando face a face com Deus. Este teve até que designar seu irmão, Arão, para ir com ele para animá-lo a cumprir sua tarefa. Por isso digo sem medo de errar que, naquela fase rebelde em que alguns jovens não querem estudar, Ananias me ensinou e me incentivou a virar essa página.




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