quarta-feira, 24 de junho de 2015

AMARGO REGRESSO
Foi um amargo regresso. Tudo o que eu levara para Ibicaraí em eletrodomésticos e eletroeletrônicos tinha sido roubado em um fim de semana em que eu viera em salvador para o casamento de uma das irmãs de meu esposo. Perdi até a geladeira porque os meliantes, por não poder levá-la, furou-lhe o congelador.

Consegui uma casa perto de minha sogra mas eu não tinha dinheiro para a fiança do aluguel e meu esposo não podia voltar antes de conseguir uma escola para transferência estadual. Ele ainda estava recebendo apenas por vinte horas semanais, uma vez que ainda persistia o impasse econômico do governo estadual. O impasse continuava sendo revertido para o povo e seus prestadores de serviços. E como sempre, a educação é um dos segmentos que mais sofre, afinal, existe o pensamento de que “barriga não espera”, mas, que o resto pode esperar. E no meio desse resto lá se vai a educação no meio. Alguns, dos outros segmentos da sociedade agradecem, e muito... E aplaudem!

Logo na primeira semana que comecei a trabalhar no Colégio Adventista vi-me numa situação extremamente delicada. Eu não tinha dinheiro para custear o transporte diário para o trajeto de casa- trabalho-casa. Como pedir dinheiro emprestado a um colega de trabalho ou vale na empresa já, assim, com tão poucos dias de contato? Mesmo sendo a maioria meus irmãos em Cristo, isto me deixou muito acanhada. Lembrem que eu, de início, não quis usar meu momento econômico para angariar colocação profissional. Mas houve um dia em que eu não tinha mesmo mais nenhum centavo. Chovia e logo iria escurecer. Fiquei hesitante na porta principal da escola, criando coragem para pedir dinheiro emprestado a alguém até sair meu primeiro pagamento. Então baixei a cabeça para orar ao Senhor pedindo-lhe que me mostrasse alguém que eu já considerasse como amigo. “Não tem tu, vai tu mesmo”. Penso assim porque Ele me mostrou que o amigo do momento não era ninguém senão Ele mesmo, pois antes de começar a orar Ele me respondeu. Assim que baixei a cabeça vi uma nota de cinco reais na porta interna da saída da escola. Seria uns cinquenta reais hoje? Nem sei. Me perdi na valorização da moeda nacional depois do real. Só sei que peguei aquela nota, levantei--a aos céus e não tinha como não recordar aquele longínquo dia em que achei aquela nota de cinco cruzeiros na porta do Colégio 2 de Julho. É a velha história das experiências repetidas em nossas vidas, mesmo que em circunstâncias diferentes. A essa altura eu já havia me mudado para casa de minha sogra para aliviar a carga de minha mãe onde eu ficara
desde que chegara de Ibicaraí com meus filhos. Mas a benção maior já vinha a caminho para que pudéssemos virar de vez aquela página que não teve nada de “festa no interior”. Pelo menos por enquanto.

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