segunda-feira, 8 de junho de 2015

1968
1968. Para mim, também, este ano não terminou. Completei o primário em 1967 em uma linda cerimônia trajando um vestido na cor que eu mais amo, azul. Eu estava tão bem arrumada que trocaram a colega que ia dar o ramalhete de flores para a Madre Superiora. Eu que entreguei.                                                                                                    
Mas um “entendido” em educação convenceu minha tia a não deixar que eu realizasse o exame de admissão naquele ano. Alegaram que eu não estava preparada e que não iria passar. Minha tia confiou na “visão” e acolheu a sugestão. Então passei o ano de 1968 ralando.  Coco, de preferência.                                                                                     
Mas em 1969 eu dei o troco. Fiz a tal admissão e passei com média  7,7. Mesmo estudando em casa apenas três dias antes da prova. Fiz o primeiro ano ginasial no Colégio Nossa Senhora Santana, no bairro do Rio Vermelho. Era particular e minha tia pagava as mensalidades. Só mais tarde é que eu fui entender que ela  fez isso  com muito sacrifício durante todo aquele ano. O colégio tinha os fundos para o mar e isso para mim foi uma maravilha, pois as aulas de educação física eram lá. Nessa época eu já estava mais “esperta” e para não passar pelos mesmos vexames de não ter um pai para mostrar aos meus colegas eu inventei que meu pai estava fora do país, mais precisamente nos Estados Unidos, a trabalho. Que ele havia me deixado aos cuidados de minha tia até vir me buscar. Com isso eu passei a ser a sensação da escola. O que acontecia realmente é que minha mãe, de meu pai, só sabia que se chamava Hélio e que tinha o apelido de Blindado lá em Bom Sucesso, no Rio de Janeiro. Parecia mais uma canção de Chico Buarque.                                                                                                   

Finalmente, mentira tem pernas curtas. A minha, então, durou pouco. Na primeira visita que minha tia fez à escola eu fui desmascarada. No entanto, para mim, aquele mundo de fantasia que eu havia inventado me fez feliz por algum tempo. Neste mundo, como diria a canção, tristeza não tem fim, felicidade sim.    Todavia, felicidade fundamentada na mentira não compensa, pois quando a verdade bate à porta nunca vem sozinha. Traz sempre consigo o gosto amargo da realidade.                                        
Essa mania de me preocupar com o que os outros iriam pensar de mim caso descobrissem que em minha identidade, no espaço dedicado ao do nome do pai, havia o nome “Ignorado”, me perseguiria por muito tempo. Só quem passou por isso é quem entende. Houve uma época até que tentaram melhorar e passaram a colocar “Não Consta” ou “Não Declarado”. Depois passaram a colocar ****. Até que finalmente deixaram o espaço vazio. Essa última alternativa foi a mais condizente...                                    

No mais, agradeço a Deus por, até nisso, eu também ter virado a página. Afinal Ele é o  verdadeiro Pai para todo aquele que nEle acredita!

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