Desde ontem alguns de vocês começaram a
acompanhar minha trajetória de vida e já estão sabendo que fiz do “virar a página” e seguir em frente o lema da minha vida.
As derrotas e as vitórias são impostoras, já disse Barry Black, autor do livro
Sonho Impossível. Concordo com ele. Como vou escrever meus textos em forma de
diário, antes de chegarmos aos dias atuais achei fundamental, para
compreender o espírito das épocas, falar sobre o caminho até aqui percorrido para
conseguirmos desenhar melhor a essência dos procedimentos posteriores. Observem que as águas da chuva
sulcam a terra e quando cessam deixam-na com marcas que formam desenhos únicos.
Fenômeno parecido ocorre com os acontecimentos nas nossas vidas. Eles vão
formando a pessoa que somos hoje, e vão nos transformar também nas pessoas que
seremos amanhã. Desta forma é importante que voltemos um pouco ao passado para entendermos melhor o presente.
Quando minha mãe apresentou-se para trabalhar como doméstica na localidade de Comendador Soares, mais conhecida como “Morro Agudo”, em Nova Iguaçu, cidade da zona norte do Rio de Janeiro, no início de 1956, a futura patroa, ao perceber que além de um menino com menos de um ano de idade a doméstica mostrava que já vinha outro a caminho, tratou logo de alertá-la que dois eram demais. Uma vez feito os acertos com uma nora que se prontificou a ficar com a criança assim que ela nascesse a patroa consentiu que ela aguardasse o parto trabalhando naquela casa. Eram tempos difíceis para aquela família. Mesmo assim, a nossa, composta de minha mãe, meu irmão e eu a caminho, conseguiu pousada no seio daquela família.
No dia nove de abril daquele mesmo ano eu vim ao mundo. De lá mesmo da maternidade fui dada para adoção. Passado um mês minha mãe começou a entrar em pânico e adoecer. Todos compreenderam que a separação tão precoce estava corroendo sua saúde física e mental. Dado a desistência em continuar com os trâmites para a adoção legal a família que me adotara devolveu-me. Todavia, segundo relatos, entregou-me enroladas em trapos tomando-me todo o enxoval que haviam preparado para mim. Passei a morar com minha mãe naquela residência humilde mas onde o amor nunca me faltou. É a melhor lembrança que tenho de minha vida inteira até agora. Belinha aprendeu a me amar e não me lembro de ter sido amada tão intensamente durante todas as outras fazes da minha vida até hoje. Pode até ter havido. Mas, até onde a minha memória conseguiu registrar, sinceramente, me perdoem os sobreviventes desta história, por mais que me esforce, eu não consigo recordar. Eu a tratava carinhosamente de minha mãe Belinha. Ela também era Isabel, como eu. Izabel dos Santos Teixeira. A diferença estava no “s” e ‘z”. Mas como os dois tem o mesmo som, dá no mesmo. Isso estreitava ainda mais os nossos laços. Filha de portugueses, era cômico assistir, em uma época em que ninguém tinha escrúpulos para camuflar seus preconceitos, as pessoas boquiabertas quando Belinha saia comigo pelas ruas do Rio de Janeiro em atitudes maternalmente afetuosas. Muitos paravam para olhar e aquilo me fazia um bem enorme. Lembro-me dos aniversários comemorados de forma simples mas acolhedora para os meus amiguinhos. Das filas imensas para comprar feijão.Também me recordo nitidamente da escola e do meu primeiro dia de aula. Belinha trabalhava fora mas encontrava tempo para me acompanhar. A essa época, minha mãe biológica já estava trabalhando em Copacabana, na zona sul do Rio. É que com as finanças da família ficando cada dia mais difícil ela teve que procurar trabalho fora para se sustentar. De vez em quando ela vinha nos visitar. “Nossa” casa ficava já no fundo do bairro na divisa com a Via Dutra. Está lá até hoje. O sítio é que não existe mais. No matagal que havia em frente foi construída uma escola que chamam de Brizolão porque foi fruto de um projeto educacional na gestão estadual de Manuel Brizola.
Quando minha mãe apresentou-se para trabalhar como doméstica na localidade de Comendador Soares, mais conhecida como “Morro Agudo”, em Nova Iguaçu, cidade da zona norte do Rio de Janeiro, no início de 1956, a futura patroa, ao perceber que além de um menino com menos de um ano de idade a doméstica mostrava que já vinha outro a caminho, tratou logo de alertá-la que dois eram demais. Uma vez feito os acertos com uma nora que se prontificou a ficar com a criança assim que ela nascesse a patroa consentiu que ela aguardasse o parto trabalhando naquela casa. Eram tempos difíceis para aquela família. Mesmo assim, a nossa, composta de minha mãe, meu irmão e eu a caminho, conseguiu pousada no seio daquela família.
No dia nove de abril daquele mesmo ano eu vim ao mundo. De lá mesmo da maternidade fui dada para adoção. Passado um mês minha mãe começou a entrar em pânico e adoecer. Todos compreenderam que a separação tão precoce estava corroendo sua saúde física e mental. Dado a desistência em continuar com os trâmites para a adoção legal a família que me adotara devolveu-me. Todavia, segundo relatos, entregou-me enroladas em trapos tomando-me todo o enxoval que haviam preparado para mim. Passei a morar com minha mãe naquela residência humilde mas onde o amor nunca me faltou. É a melhor lembrança que tenho de minha vida inteira até agora. Belinha aprendeu a me amar e não me lembro de ter sido amada tão intensamente durante todas as outras fazes da minha vida até hoje. Pode até ter havido. Mas, até onde a minha memória conseguiu registrar, sinceramente, me perdoem os sobreviventes desta história, por mais que me esforce, eu não consigo recordar. Eu a tratava carinhosamente de minha mãe Belinha. Ela também era Isabel, como eu. Izabel dos Santos Teixeira. A diferença estava no “s” e ‘z”. Mas como os dois tem o mesmo som, dá no mesmo. Isso estreitava ainda mais os nossos laços. Filha de portugueses, era cômico assistir, em uma época em que ninguém tinha escrúpulos para camuflar seus preconceitos, as pessoas boquiabertas quando Belinha saia comigo pelas ruas do Rio de Janeiro em atitudes maternalmente afetuosas. Muitos paravam para olhar e aquilo me fazia um bem enorme. Lembro-me dos aniversários comemorados de forma simples mas acolhedora para os meus amiguinhos. Das filas imensas para comprar feijão.Também me recordo nitidamente da escola e do meu primeiro dia de aula. Belinha trabalhava fora mas encontrava tempo para me acompanhar. A essa época, minha mãe biológica já estava trabalhando em Copacabana, na zona sul do Rio. É que com as finanças da família ficando cada dia mais difícil ela teve que procurar trabalho fora para se sustentar. De vez em quando ela vinha nos visitar. “Nossa” casa ficava já no fundo do bairro na divisa com a Via Dutra. Está lá até hoje. O sítio é que não existe mais. No matagal que havia em frente foi construída uma escola que chamam de Brizolão porque foi fruto de um projeto educacional na gestão estadual de Manuel Brizola.
Comendador Soares - RJ (1963)
Isabel e Zé Luís (Irmão)

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