COMEÇAR DE NOVO
Em dezembro 1914 o laboratório de Tomas Edison (1847-1931)
foi totalmente destruído pelo fogo. Mais de dois milhões de dólares foi o
prejuízo. Todavia o prédio estava avaliado em apenas duzentos e trinta e oito
mil dólares. Como o prédio era de concreto, acreditava-se, àquela época, que
ele fosse à prova de fogo. Com as chamas daquela noite foi-se embora anos de
trabalho de pesquisa de uma das pessoas mais inventivas que o mundo já
conheceu. Com sessenta e sete anos e, a cabeleira toda branca, o cientista
observava calmamente a destruição de tudo que possuía. Seu filho, Charles,
ficou triste e condoído por ele. Na manhã seguinte, Tomas Edison, olhando para
as ruínas declarou: “Há um lado bom nesta desgraça. Todos os nossos erros foram
queimados e graças a Deus podemos recomeçar do zero”. E assim se sucedeu. O
projeto do fonógrafo, que havia passado três anos tentando inventar, ficou
pronto em apenas três semanas após o desastre.
Jacó enriqueceu sobremaneira em Padã-Arã,
terra dos parentes de sua mãe, para onde fora fugindo de Esaú, seu irmão gêmeo.
Isso incomodou demais seu ganancioso tio que tentou enfraquecê-lo
financeiramente por várias vezes. Mas o Senhor não o permitiu. Das riquezas de seu pai, Isaque, Jacó nada
pode levar durante a fuga. Teve que começar do zero (Gênesis: 30). Tomas
Edison, mesmo num valor bem inferior aos prejuízos, ainda recebeu um seguro.
Jacó estava seguro nas mãos de Deus, e isso lhe foi o bastante. Com sofrimento,
durante vinte anos, trabalhou e, do suor de seu rosto, arduamente, conseguiu
adquirir não poucos bens. Que Deus bom!
Sabemos que não é fácil começar de novo.
Muitos desistem de lutar ou recomeçar. Somos fracos. Somos pó. Resiliência,
palavra que significa “resistente ao choque”, foi tomada emprestada da física
pelo ramo da psicologia por definir eficazmente o comportamento das pessoas que
conseguem superar os sofrimentos experimentados, ao longo da vida,
transformando-os em motivação para um sucesso ainda maior. Pessoas
“resilientes” não deixam que nenhuma experiência negativa intervenha em sua
qualidade de vida. Costumo dizer que no “fundo do poço” dessas pessoas tem uma “mola”
e, assim, quando elas chegam lá, são projetadas de volta por
impulsos mais fortes que elas.
A
diretora da faculdade em Ibicaraí dizia que eu nunca conseguiria vencer em
Salvador. Tentava me amedrontar e me deixar cativa por lá, com aquele “salário”
irrisório. Mas eis que depois de todos os percalços estava eu de volta a
Salvador, atuando profissionalmente no CAS, minha Canaã terrestre. Cuidando de
meus filhos e trabalhando ao mesmo tempo. Todos juntos na mesma escola. Paulo
ensinando, eu promovendo o hábito da leitura e meus filhos estudando. Que
privilégio! Tinha que saber aproveitar a oportunidade. Muita coisa boa aconteceu naqueles anos. Das
que não foram boas prefiro esquecer. Tudo valeu a pena e, se eu tivesse que
reviver aqueles anos, faria tudo igual. Chamo-os de “anos felizes” em que Deus
se mostrou para mim como o grande Poeta que Ele é. Nunca me arrependi de ter
trabalhado lá.
Meu esposo entrou para a igreja no final de
1989 e prestou relevantes serviços para o colégio. Todavia seu espírito
perfeccionista causou-me alguns problemas na adaptação em uma situação até
então inusitada para mim: Trabalhar junto com o marido na mesma organização.
Não é algo que eu consiga considerar como fácil. Mesmo assim fomos levando por
um bom tempo, cinco anos e seis meses, precisamente. Nessa época eu desenvolvi
um trabalho no ministério das penitenciárias. Foi uma experiência louvável.
Construí minha
primeira casa no bairro de Sussuarana
Velha, onde minha mãe morava. Fiquei mais perto dela e isso foi importante
durante a sua dura experiência de perda da visão do olho esquerdo por um
glaucoma. Seus dois últimos filhos, um casal, estavam adolescentes e eu a
ajudava, no que podia, a virar aquela página de mulher, já naquela idade
madura, mas ainda cuidando de dois filhos adolescentes sem marido ou coisa
similar.
Era uma época em que a poupança rendia até
quarenta por cento ao mês, então, eu e Paulo nos esforçávamos ao máximo para
colocar todas as nossas economias na poupança. Religiosamente todos os meses. Ao
final de quatro anos fui advertida por um gerente de banco para que eu tratasse
logo de fazer alguma coisa útil com aquele dinheiro porque em um ano ele
estaria imensamente desvalorizado. Paulo viajou com os meninos em uma
quinta-feira e quando retornou na segunda nós já éramos donos de um bom imóvel
em uma das melhores ruas do bairro. Não deu para comprar em um bairro melhor
como queríamos. O Poeta achou que ainda não era chegada a hora. Mesmo assim foi
uma boa compra. Não era um “Aphaville”, mas também, não era um “Alphavella”. Já
dava para se ver, ao longe, mas uma virada de página.
Nenhum comentário:
Postar um comentário