terça-feira, 30 de junho de 2015

COMEÇAR DE NOVO

Em dezembro 1914 o laboratório de Tomas Edison (1847-1931) foi totalmente destruído pelo fogo. Mais de dois milhões de dólares foi o prejuízo. Todavia o prédio estava avaliado em apenas duzentos e trinta e oito mil dólares. Como o prédio era de concreto, acreditava-se, àquela época, que ele fosse à prova de fogo. Com as chamas daquela noite foi-se embora anos de trabalho de pesquisa de uma das pessoas mais inventivas que o mundo já conheceu. Com sessenta e sete anos e, a cabeleira toda branca, o cientista observava calmamente a destruição de tudo que possuía. Seu filho, Charles, ficou triste e condoído por ele. Na manhã seguinte, Tomas Edison, olhando para as ruínas declarou: “Há um lado bom nesta desgraça. Todos os nossos erros foram queimados e graças a Deus podemos recomeçar do zero”. E assim se sucedeu. O projeto do fonógrafo, que havia passado três anos tentando inventar, ficou pronto em apenas três semanas após o desastre.

  Jacó enriqueceu sobremaneira em Padã-Arã, terra dos parentes de sua mãe, para onde fora fugindo de Esaú, seu irmão gêmeo. Isso incomodou demais seu ganancioso tio que tentou enfraquecê-lo financeiramente por várias vezes. Mas o Senhor não o permitiu.  Das riquezas de seu pai, Isaque, Jacó nada pode levar durante a fuga. Teve que começar do zero (Gênesis: 30). Tomas Edison, mesmo num valor bem inferior aos prejuízos, ainda recebeu um seguro. Jacó estava seguro nas mãos de Deus, e isso lhe foi o bastante. Com sofrimento, durante vinte anos, trabalhou e, do suor de seu rosto, arduamente, conseguiu adquirir não poucos bens. Que Deus bom!

  Sabemos que não é fácil começar de novo. Muitos desistem de lutar ou recomeçar. Somos fracos. Somos pó. Resiliência, palavra que significa “resistente ao choque”, foi tomada emprestada da física pelo ramo da psicologia por definir eficazmente o comportamento das pessoas que conseguem superar os sofrimentos experimentados, ao longo da vida, transformando-os em motivação para um sucesso ainda maior. Pessoas “resilientes” não deixam que nenhuma experiência negativa intervenha em sua qualidade de vida. Costumo dizer que no “fundo do poço” dessas pessoas tem uma “mola” e, assim, quando elas chegam lá, são projetadas de volta por impulsos mais fortes que elas.                       

A diretora da faculdade em Ibicaraí dizia que eu nunca conseguiria vencer em Salvador. Tentava me amedrontar e me deixar cativa por lá, com aquele “salário” irrisório. Mas eis que depois de todos os percalços estava eu de volta a Salvador, atuando profissionalmente no CAS, minha Canaã terrestre. Cuidando de meus filhos e trabalhando ao mesmo tempo. Todos juntos na mesma escola. Paulo ensinando, eu promovendo o hábito da leitura e meus filhos estudando. Que privilégio! Tinha que saber aproveitar a oportunidade.  Muita coisa boa aconteceu naqueles anos. Das que não foram boas prefiro esquecer. Tudo valeu a pena e, se eu tivesse que reviver aqueles anos, faria tudo igual. Chamo-os de “anos felizes” em que Deus se mostrou para mim como o grande Poeta que Ele é. Nunca me arrependi de ter trabalhado lá.                   

  Meu esposo entrou para a igreja no final de 1989 e prestou relevantes serviços para o colégio. Todavia seu espírito perfeccionista causou-me alguns problemas na adaptação em uma situação até então inusitada para mim: Trabalhar junto com o marido na mesma organização. Não é algo que eu consiga considerar como fácil. Mesmo assim fomos levando por um bom tempo, cinco anos e seis meses, precisamente. Nessa época eu desenvolvi um trabalho no ministério das penitenciárias. Foi uma experiência louvável.
  Construí minha primeira casa  no bairro de Sussuarana Velha, onde minha mãe morava. Fiquei mais perto dela e isso foi importante durante a sua dura experiência de perda da visão do olho esquerdo por um glaucoma. Seus dois últimos filhos, um casal, estavam adolescentes e eu a ajudava, no que podia, a virar aquela página de mulher, já naquela idade madura, mas ainda cuidando de dois filhos adolescentes sem marido ou coisa similar. 

   Era uma época em que a poupança rendia até quarenta por cento ao mês, então, eu e Paulo nos esforçávamos ao máximo para colocar todas as nossas economias na poupança. Religiosamente todos os meses. Ao final de quatro anos fui advertida por um gerente de banco para que eu tratasse logo de fazer alguma coisa útil com aquele dinheiro porque em um ano ele estaria imensamente desvalorizado. Paulo viajou com os meninos em uma quinta-feira e quando retornou na segunda nós já éramos donos de um bom imóvel em uma das melhores ruas do bairro. Não deu para comprar em um bairro melhor como queríamos. O Poeta achou que ainda não era chegada a hora. Mesmo assim foi uma boa compra. Não era um “Aphaville”, mas também, não era um “Alphavella”. Já dava para se ver, ao longe, mas uma virada de página.

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